Totó Caiado, Goyaz e o centenário do jornal O Democrata
Diário da Manhã
Publicado em 29 de junho de 2016 às 02:43 | Atualizado há 4 meses
Na revivescência da história da sucessão política de Goiás, em seus variados aspectos, merece destaque o período compreendido entre 1909 a 1930, alcunhado de Caiadismo, em que teve participação decisiva, marcada por uma inconteste liderança, a figura de Antonio Ramos Caiado (Totó Caiado).
Por injunções históricas que lançavam raízes nos albores da Monarquia e nos primórdios da Republica, o período de atuação do Caiadismo esteve centrado no painel da política brasileira, dentro do pensamento comum em todo País da chamada época do Coronelismo, em que teve supremacia Delmiro Gouveia, alcunhado “Coronel dos coronéis”.
Mesmo sob a visão atual desse período, tido por centralizador, violento e antidemocrático, observaremos que a atuação de Totó Caiado seguia a um pensamento nacional, a uma corrente política que para a época, em suas amplitudes, era tida por certa.
Não se pode então apontar a atuação de Antonio Ramos Caiado como líder político de forma isolada. Ele foi um elo da corrente política de seu tempo. O Coronelismo teve supremacia a partir da Proclamação da República, em 1889, em que foram implantadas as bases onde este tornou-se um fenômeno político pelo poder majoritário de um chefe, cuja influência era predominante na sua região.
A família Caiado veio para Goiás, antiga capital do estado, no século XVIII, tendo por patriarca Manuel Caiado de Souza, natural do Bispado de Lamego, Portugal, cujo nome com a devida identificação aparece no livro de assentamento Paroquial de Vila Boa.
A partir daí os troncos originários desse intrépido patriarca foram estendendo braços vigorosos de homens determinados, fortes, decididos e de mulheres de têmpera e coragem, atributos estes complementados pela beleza física predominante na família, esteios seguros para a inconteste liderança que norteou os destinos dos Caiados.
Dentre os ilustres membros da tradicional família Caiado, que se destacaram nos variados campos da atividade humana em favor de Goiás, podemos salientar Antonio José Caiado, que teve, no seu tempo, atuação relevante na administração e na política, assumindo o governo ainda no império de 25/11/1883 a 06/02/1884) e na República substituiu Leopoldo de Bulhões (de 17/07/1892 a 30/07/1893) e em 1895, assumindo o governo novamente na qualidade de Vice-Presidente.
Dentre seus descendentes Torquato Jose Caiado (Torquatinho) teve acentuada projeção social, estudando em São Paulo, onde desposou Claudina Azevedo Fagundes e constituíram uma família composta de homens e mulheres notáveis: Antonio Ramos Caiado (advogado), Leão Di Ramos Caiado (advogado), Arnulpho Di Ramos Caiado (odontólogo), Brasil Di Ramos Caiado (médico) e as filhas Terezina, Diva, Antonieta, Tarcila e Colombina, mulheres de coragem e decisão; sendo a última delas, emérita professora na cidade de Goiás.
Dos dignos descendentes de Torquato Jose Caiado, os dois filhos tiveram decisiva participação na política goiana de 1900 a 1990: Antonio Ramos Caiado (1874-1967) foi senador e Presidente do Partido Democrata; Brasil (1893-1958) foi Presidente do Estado, Prefeito Municipal da Cidade de Goiás, Senador da República, além de médico humilde e caridoso na Velha Capital. Arnulpho e Leão foram competentes profissionais, sendo que, este último, foi diretor da antiga Escola de Aprendizes e Artífices.
As mulheres foram esposas de políticos atuantes: Diva desposou em segundas núpcias o Cel. Eugenio Jardim, Colombina desposou o médico e político Dr. Agenor Alves de Castro, Terezina desposou o também político João Alves de Castro e Tarsila, que desposou Joviano Alves de Castro, ou seja, três irmãs que se casaram com três irmãos.
Continuando a linha de atuação política os filhos de Totó Caiado: Edenval, Emival, Ercival, Caiadinho e Ubirajara enveredaram-se pelas estradas da política, assim como os netos Ronaldo e Sergio Caiado militam nessas lides que legaram seus ascendentes.
Ainda teve destaque político Brasilio Caiado (médico), Leonino Di Ramos Caiado, este último, governador de Goiás de 15/03/1971 a 15/03/1975, sendo anteriormente Prefeito Municipal de Goiânia, nomeado em 22/10/1969 permanecendo até 30/06/1970. Lembrados, também, Lincohn Caiado de Castro que foi Prefeito da Cidade de Goiás, casado com Comary Caiado; Mário de Alencastro Caiado, que fez oposição ao Caiadismo, assim como os irmãos Albatênio Caiado de Godoy, casado com Maria Paula Fleury Curado, Claro Augusto Caiado de Godoy, casado com Maria Elisa Pereira da Silva e Geraldino Caiado Fleury que foi político, viúvo de Elisa de Abreu.
Merece destaque especial o nome de Julieta Fleury (1908-2002), primeira mulher no Estado de Goiás a ser vereadora, em 1947, seguindo sua atuação por três mandatos consecutivos, tendo o magistério e as obras sociais por lema. Natural da Cidade de Goiás, era filha de Vicente Miguel da Silva Abreu e de Eugênia Caiado Fleury, casou-se em Goiânia com o advogado Dr. Leopoldo de Souza, natural de Caldas Novas.
No campo da cultura e da educação teve destaque o empenho e intelectualidade do prof. Manuel Sebastião Caiado, mestre de muitas gerações de goianos, Consuelo Caiado (1899-1981), farmacêutica e uma das diretoras do Gabinete Literário Goiano em sua fase mais produtiva; além de guardiã de precioso arquivo referente à história de Goiás.
Outro grande destaque coube a Illydia Maria Perillo Caiado (1894-1971) uma das pioneiras da literatura feminina em Goiás, colaboradora do jornal A Rosa em 1907, eleita ainda a “Mais elegante senhorita goiana” no primeiro concurso de Miss Goiás em 1909; Comary Caiado de Castro (1902-1981), que foi aluna do Colégio Sion em Petrópolis e como primeira-dama da antiga capital de Goiás (de 1919-1923) na gestão de seu esposo Lincohn Caiado de Castro foi idealizadora da construção do jardim fechado da praça do jardim (hoje Dr. Tasso Camargo), além do coreto idealizado a partir do petit trianon da Suíça; Anita Fleury Perillo (1898-1973) farmacêutica na velha capital, Tereza de Alencastro Caiado de Godoy (1875-1958) poeta de rara sensibilidade, Albatênio Caiado de Godoy (1895-1973) intelectual e jornalista, fundador da Associação Goiana de Imprensa e membro da Academia Goiana de Letras, Maria Paula Fleury de Godoy (1894-1982) escritora de renome nacional, pioneira do modernismo em Goiás, fundadora da Academia Feminina de Letras e arte de Goiás, Luis Caiado de Godoy, pioneiro de Anápolis, engenheiro agrônomo; Leolidio Di Ramos Caiado, sertanista, homem das letras e das artes, membro da Academia Goiana de Letras, Agnaldo Caiado de Castro, que ocupou o elevado cargo de general, Brasilete Caiado, mulher de têmpera e acentuada cultura, esteio firme da intelectualidade vilaboense a quem muito devemos na questão de Goiás, com o título de Patrimônio da Humanidade; Iracema Caiado de Castro Zilli, competente professora e energética advogada; Genezy de Castro Caiado, que foi diretora do jornal O Lar na velha capital nos anos 1920 e membro da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás.
Antonio Ramos Caiado foi, sem sombra de dúvidas, um dos maiores líderes da história de Goiás, de uma inquestionável liderança política, disputando seu lugar no cenário da memória política com Pedro Ludovico Teixeira. Cada um, em seu tempo e seu meio, foram molas propulsoras da história goiana.
Sua figura austera, firme, atuante, foi tema para muitas controvérsias, acusações, análises sob o foco político partidário, de interesses de grupos como ocorre hoje. É necessário, pois, um esclarecimento imparcial, histórico, observando o outro lado da história para que se tenha então, o completo perfil do líder político goiano da velha República.
Antonio Ramos Caiado, figura polêmica da história de Goiás nasceu em 15 de maio de 1874, na Cidade de Goiás, filho de Torquato Ramos Caiado e Claudina Fagundes Caiado. Fez seus estudos no tradicional Lyceu de Goiás (fundado em 1846 pelo Barão de Ramalho) e o curso de Direito em São Paulo, onde terminou em 1895. Quando da “Revolta Armada” de setembro de 1893 alistou-se no Batalhão Acadêmico de São Paulo, defendendo o governo constituído. Pelos seus atos de bravura obteve o posto de Alferes e de Tenente como honorário do Exército por decreto do Marechal Floriano Peixoto.
Formado, retornou a velha Capital de Goiás, onde iniciou sua trajetória política, combatendo a oligarquia dos Bulhões. Em 1897 foi eleito Deputado Estadual pelo círculo de Pirenopolis e, no ano seguinte, a 29 de setembro de 1898 contraiu matrimônio com Iracema de Carvalho Caiado (1877-1907), moça educada na Itália, residente na capital, Rio de Janeiro, com quem teve 4 filhos: o primeiro morreu recém-nascido, seguindo-se Consuelo, Comary e Cory, todas nascidas na velha capital, onde o Senador lutava no centro das lutas políticas em que empregava o seu vigor com o qual formaria sua futura liderança.
Em 1903, assumiu a secretaria do interior no governo Xavier de Almeida, seguindo-se para o governo de Miguel da Rocha Lima, na secretaria de Finanças. Em 1908, por discordar com a situação política, rompe com o partido situacionista.
Na oposição então, encontrou por companheiros Gonzaga Jayme, Leopoldo de Bulhões, Sebastião Fleury Curado e Eugenio Jardim. Com Gonzaga, Jayme e Eugênio Jardim chefiou a chamada “ Revolução Branca” ou “ Revolução da Quinta”, ocorrida em maio de 1909 que obtém êxito derrubando o governo de Xavier de Almeida.
Nesse ano, foi eleito Deputado Federal por Goiás, posto para o qual foi reconduzido sucessivamente até 1920, quando passou a senador. Nesse mesmo ano, contraiu segundo matrimonio com Maria Adalgisa de Amorim Caiado (Mariquita 1888-1984) filha de Luis Astholpho de Amorim e Rosa Amélia Sócrates de Amorim, com quem teve os filhos: Enery, Edenval, Emival, Elcival, Elgizy, Elcy, Antonio Ramos Caiado Filho, Ubirajara e Emy, jovem estudante que faleceu em 16 de junho de 1930.
Num entrechoque com o governo de Urbano Coelho de Gouveia, lutou novamente e em 1912 organizou o “Partido Democrata”, do qual foi chefe e orientador até 1930. Ocupou, então, a partir daí as mais altas funções político-administrativas, apenas, nunca desejou a própria chefia do governo porque nunca quis exercê-la.
Há exatos cem anos, em 1916, fundou e dirigiu o jornal O Democrata, órgão do Partido Democrata, que circulou até 1930, tendo por redatores Teódulo Alves de Castro (que faleceu em 20 de maio de 1929), Cylenêo de Araújo, Luis Guedes de Amorim, Joviano de Castro e Gercino Monteiro, com colaborações de Eugenio Rios. O referido jornal circulou até 1930, quando, então, com o advento da Revolução, o poder passou as mãos de Pedro Ludovico Teixeira.
Longe das lides políticas, Antonio Ramos Caiado passou as atividades agropecuárias em suas fazendas (Limoeiro e Lajes). Faleceu na cidade de Goiás em 17 de janeiro de 1967, aos 93 anos.
No calor da vida política de cem anos passados, Totó Caiado era o líder. As reuniões da Comissão Executiva do Partido Democrata realizaram-se, em sua grande maioria, na residência de Octavio Monteiro Guimarães (1887-1970) na Rua 13 de Maio. Ali, participavam Abílio Alves de Castro, David Hermetério do Nascimento, Brasil Ramos Caiado, Eugenio Rodrigues Jardim, Antonio Borges dos Santos, João Alves de Castro, Hermógenes Coelho, João José Coutinho e Henrique Pinto Vieira, que uniam forças e arregimentavam os lideres espalhados pelo estado: Alfredo de Morais (Morrinhos), Diógenes de Castro Ribeiro (Jaraguá), Antonio Rodrigues (Pouso Alto), Daniel Ferreira dos Anjos (Pedro Afonso), Joaquim Propício de Pina (Pirenopolis), Valeriano Antonio da Silveira Leão (Rio Verde), Antenor de Amorim e Manuel Umbelino (Bela Vista), Diógenes Pinheiro (São Domingos), Antonio Francisco Ottoni (Trindade), Adolpho Teixeira (Santa Cruz), Joaquim Machado de Araújo (Luziânia), Augusto Paranhos (Catalão), José Rodrigues de Morais (Campinas), João Baptista de Araújo (Arraias), Jerônimo Fleury (Corumbá), Arlindo Costa (Anápolis) e Benedito Pinheiro (Itaberaí). Estes eram os líderes anunciados no O Democrata.
De 1909 a 1930 era Capital do Estado a Cidade de Goiás que fora construída dentro de um nicho de pedra, às margens do Rio Vermelho, com casas coloniais aconchegadas, subindo e descendo ladeiras em ruas forradas de grandes lajes como vias romanas.
Assim era o mundo anunciado em O Democrata, há um século.
Sociedade patriarcal, culta e fechada em rígidos preceitos sociais, éticos e morais reinava o espírito de clã, com saraus, tertúlias e encontros de jovens enamorados nas fontes do Rio Vermelho, em festas no Palácio do Governo ou os ofícios religiosos acontecidos em grande maioria, na Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte, catedral interina da velha capital que se incendiou em 1921, passando ser usada a velha Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos que foi demolida em 1935.
As novidades chegavam bastante atrasadas a velha capital pela morosidade das tropas, do lento carro de boi e das estradas que se perdiam no sertão sem fim. Mesmo assim, o comércio da velha capital possuía produtos importados, refinados produtos que nada ficavam a dever aos grandes centros do país.
Os viajantes de casas comerciais “Grand Bazar Parisien”, “ A Internacional”, “Casa Martins e cia” entravam por Goiás via Estrada de Ferro que morria em Araguari e circulavam pelo Estado em lombos de burros com canastras cheias de mostruários. Viajantes famosos foram Luis Astholpho de Amorim, Antonio Xavier Guimarães (Totó Guimarães, também pioneiro do automobilismo), Benigno de Ávila, Manoel Bento da Costa, Augusto Teixeira, Fernando Cabral e Humberto Mendonça.
Casas comerciais famosas em Goiás, nesse período, foram: Alfaiataria Americana, de Orestes Baiochi; Casa Coimbra, de Apolinário Henrique; Casa Rocha Lima, de Jutoribe da Rocha Lima; Livraria Central, de Apulcro de Alencastro; Marcenaria Central, de Francisco do Amaral; Athelie Fotográfico, de Alencastro Veiga; Casa Zacheu, de Zacheu Alves de Castro; Café Ideal, de Luiz e cia; Casa Rizzo, de Waldemar Rizzo; Agente de Automóveis, Alipio Mendes Ferreira; Café Esperança, de João da Rocha Lima, Durval Lemes Borges, além de muitos outros.
O mercado da Cidade de Goiás era o principal veículo de venda de produtos do Estado e para tal, tudo ali era comercializado e de vários pontos, confluíam produtos agropecuários conduzidos nas antigas estradas boiadeiras.
Como novidade para a época, existia a “Fazenda Modelo” em Urutaí pertencente ao ministério da Agricultura, cujo diretor foi Miguel de Lima Mendes. E, mesmo no norte goiano, em 1914, Pedro Afonso era o mais rico município agropastoril da região, fazendo comercio com a Bahia e Maranhão. Em Pires do Rio, a partir de 1924 iniciou-se o processo de industrialização, local com a charqueadora de Antonio Chaud e as fábricas de manteiga de Aristóteles Lacerda e David Abdala. Já nesse período haviam as máquinas beneficiadoras de arroz em Bonfim (instaladas em 1920) e Catalão que mais tarde, em1929, inaugurava a Fábrica de “Açúcar Cristalizado” novidade na época que era exportado.
Na área da indústria, Adolpho Gustavo Guedes de Amorim, português radicado na velha capital entre 1908 e 1912 tinha uma sociedade para exploração da borracha em Conceição do Araguaia e foi pioneiro na construção de uma usina a vapor para fabricação de açúcar e aguardente próxima da cidade de Goiás, sendo a primeira do Estado. A “Fazenda Capim Puba” foi um exemplo de agronegócio já naquela época.
Em 21 de outubro de 1927 foi inaugurado em Ipameri o “Banco Agrícola e Comercial do Estado de Goiás” tendo por pioneiro também Virgílio Vaz Lopes. Fato pioneiro também foi a “Primeira Exposição da Pecuária em Goyaz” iniciativa de Brasil Caiado, que ocorreu em 16 de maio de 1929 na velha capital onde foram expostos animais de variadas espécies.
Com o centenário da Independência em 1922, Goyaz participou da Exposição no Rio de Janeiro por meio de Henrique Silva, mostrando o que se possuia de melhor em mineiros (da companhia de Crixás que no ano anterior, 1921, iniciou a exploração e no ano seguinte foi visitada pelo capitão Stanley Bullock, membro do instituto de mineralogia e metalúrgica de Londres), madeiras, cereais, plantas medicinais, cerâmica e produtos do Araguaia. Pelas novidades apresentadas conseguiu sucesso surpreendente, difundido, assim, as possibilidades goianas, forma precária e pioneira de atrair o turismo.
Em 1909 foi inaugurado o cinema em Goiás, esforço de Domingos Gomes de Almeida, empresário pioneiro também na fabricação de cerveja intitulada Guarany. O primeiro cinema sediou-se no Teatro São Joaquim e, depois, no Largo do Chafariz, ao lado do Quartel do 20.
Em 1918 inaugurou-se na velha capital a luz elétrica pela argúcia dos irmãos Luiz e Joaquim Guedes de Amorim, substituindo, assim, a precária iluminação a gás acetileno. Nas casas ainda havia velas de estearina e de sebo, o candeeiro de azeite e as lamparinas, mas, a noite havia, para gloria dos goianos, os “luares brancos, albentes, alvinitentes, de inigualável pureza”. Em 1924 foi inaugurado o serviço hidráulico da empresa Força e Luz da Capital, oportunidade em que já havia luz elétrica em Trindade e Ipameri, esta última também pioneira do ramo veterinário do estado.
A saúde pública no governo Caiadista era, como no resto do país deficiente e difícil, pelas dificuldades inerentes do tempo. Era a época em que os médicos atendiam a domicilio e eram amigos, compadres…muito diferente da atualidade.
O hospital de Caridade São Pedro de Alcântara, na cidade de Goiás, datava do império e nele, Dr. Vicente Moretti Fóggia, José Neto de Campos Carneiro foram pioneiros de um serviço abnegado e caritativo.
No período de 1909 a 1930, foram médicos goianos: Joviano de Castro, Odilon de Amorim, Brasil Caiado, Laudelino Gomes, Diógenes Ferreira da Silva, Tasso Camargo, Altamiro de Moura Pacheco (Bonfim), Edilberto da Veiga Jardim, Osvaldo Curado Fleury (Corumbá), Antonio Borges dos Santos (Rio Verde), Eduardo Freitas (Bonfim), dentre outros.
Dois outros hospitais apareceriam nesse período “Casa de Saúde Santa Terezinha” de Bonfim, administrado pelo Dr. Carlos Alberto de Freitas e o “Hospital Evangélico Goiano” em Anápolis, fundado por James Fanstone e Gerald Golden.
Com a criação da “Faculdade de Farmácia e Odontologia de Goyaz, em 13 de junho de 1924, sob a direção do Dr. Brasil Caiado, foram intensificados os serviços de saúde no Estado com a formação de profissionais capacitados na área. Existiam em Goiás, velha capitam até 1932, as seguintes farmácias: Pharmácia Central fundada em 1889 por Fracisco Perillo Junior; Pharmácia do Hospital de Caridade a cargo de Luis Marcelino de Camargo; Pharmácia Santana de Agnelo Arlíngton Fleury Curado; Pharmácia São José de Eurico Perillo e Pharmácia Nossa Senhora do Rosário. No interior, famosas foram as farmácias de Honestino Guimarães em Campinas, de Clotário de Freitas, em Jaraguá e Laurinda Seixo de Britto de Oliveira Moura, em Trindade. Ainda trabalhavam na área sem farmácia estabelecida: Benedito Ferreira de Campos e Vasco Pinheiro de Lemos.
No ano de 1909 foi fundado o Colégio Imaculada Conceição de Pirenópolis, dirigido pelas “Religiosas Filhas de Jesus”, que, mais tarde, foi equiparada a Escola Normal Oficial (fundada em 1884), que em 1920 ganhou uma Escola Complementar, pelo Dr. João Alves de Castro.
Além destas havia ainda em Goiás os seguinte estabelecimentos de ensino: Colégio Santana (fundada em 1889); Grupo Escolar Modelo (criado em 1918 pelo Dr. João Alves de Castro); Jardim de Infância (fundado em 1929 por César da Cunha Bastos);Colégio Santa Clara de Campinas (fundado em 1921); Colégio Nossa Senhora Mãe de Deus (Catalão); Colégio São José (Formosa) e Sagrado Coração de Jesus (Pires do Rio), Liceu de Goiás (fundado em 1846); Escola de Aprendizes e Artífices (fundada em 23/09/1909); Colégio Anchieta (Bonfim); Faculdade de Direito (fundada em 1921) e Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais (fundada em 1916).
Dentre os municípios criados de 1909 a 1930 os distritos, salientamos: Orizona (08/07/1909), Anicuns (07/06/1911), Corumbaíba (18/05/1912), São Vicente, Arraias (01/08/1914), Santa Rita do Paranaíba (hoje Itubiara 27/07/1915), Cristalina (18/07/1916), Araguacema (18/07/1919), Trindade (16/07/1920), Caldas Novas (21/06/1923), Buriti Alegre (30/05/1927), Pires do Rio (07/07/01930).
De 1909 a 1930 no campo cultural teve destaque, como entidade constituída, o “Gabinete Literário Goiano” (fundado em 1864) e suas reuniões cívicas com palestras educativas, em sua grande maioria sob a presidência de Consuelo Caiado e Anita Fleury Perillo e os palestrantes que se destacaram nesse período Valporê de Castro, Colemar Natal e Alfredo de Castro. Algumas das reuniões eram feitas no sobrado da senhora Virginia da Luz Vieira, na Rua Direita.
A liderança do Senador Antonio Ramos Caiado nos lides políticas encerrou-se com a Revolução de 1930 quando assumiu o poder Dr. Pedro Ludovico Teixeira, que reacendeu a velha ideia da mudança da capital, efetivando, após interna luta, em 23 de março de 1937 quando foi consolidada Goiânia.
Porém, no processo mudancista a antiga capital muito sofreu pela ação de vândalos que, tirando proveito da situação, desfalcaram a velha cidade de monumentos que foram sadicamente arrancados, pelo livre gosto da destruição e nos palanques a força da lei se impunha.
A cidade, que mergulhada na sua eterna paz, se viu, de hora para outra, envolvida em altas calúnias, em termos pejorativos, por aqueles que, mesmo nascendo ali, de um momento para outro, apedrejaram a terra que lhes serviu de berço. No auge mesmo da mudança, por medidas punitivas foram os estabelecimentos de ensino transferidos para Goiana, contrariando o parágrafo 3° do art. 5° das disposições transitórias da Constituição do Estado de Goiaz de 04 de agosto de 1935, que estabelecia: “ o governo empregara medidas consentâneas que salvaguardem os interesses econômicos da cidade de Goiaz”; fato que já pelo desgaste político gerado, não foi empregado.
Efetivada a mudança, Goyaz, antiga capital, ficou reduzida “as proporções de nosso próprio lirismo” no dizer poético de Nice Monteiro Daher. Alexandre Konder escreveu: “Não importa que os interesses políticos a tenham abandonado por Goiânia; não importa que a nova geração se ria de suas casas que lembram um Brasil que ficou para traz. Para os que vivem também um pouco com a tradição, Goiás será sempre Goiás a cidade dos fazedores de nossa nacionalidade…”.
Em 1930 também saiu de circulação o jornal O Democrata, nascido em 1916 para reforçar a liderança do Partido Democrata, criado em 1912. Nesse mesmo tempo também surgiu o jornal oposicionista Voz do Povo, combatendo o regime Caiadista. Foi o que se chamou de “tempo quente” em que a imprensa refletia a ebulição do pensamento no auge das mudanças que seriam operadas em todo o País.
No centenário do jornal O Democrata, a lembrança do que era Goiás naquele tempo em que, pela força e pela luta pelo poder, tantos homens e mulheres se mostraram em todas as suas grandezas e também misérias da caminhada humana no vasto e apaixonante campo da ação política partidária.
E tudo passou tragado pela voracidade do tempo, pois mesmo o tudo, diante da eternidade, não é nada; já que, também, ricos e pobres, bonitos e feios, a morte tudo nivela. Todos ficam iguais quando a estrada termina com o tombo num buraco, com terra por cima e na horizontal.
Omnia cinis aequat.
(Bento Alves Araújo Jayme Fleury Curado, graduado em Letras e Linguística pela UFG, pós graduado em Literatura Comparada pela UFG, mestre em Literatura pela UFG, mestre em Geografia pela UFG, doutorando em Geografia pela UFG, escritor, professor e poeta – bentofleury@hotmail.com)