Para quem iremos nós?
Redação DM
Publicado em 26 de junho de 2016 às 02:40 | Atualizado há 9 anos
Domingo passado, dia 19 de junho, desloquei-me mais uma vez para Anápolis. Precisava comparecer a uma reunião muito especial, comemorativa do aniversário de um grande amigo e irmão.
O convite, feito pelo telefone, revelou a intimidade da festinha, um almoço, em sua própria residência. Somente aqueles mais próximos. Senti-me privilegiado e agradeci a Deus. Sim, agradeci.
Mas como ?
Foi só um convite de aniversário…mais um…
Engano.
Se fosse uma festa de arromba, de ostentação, de demonstração de poderio econômico, talvez se pudesse analisar assim a situação.
Mas quando uma pessoa de boa índole, simples e prestativa, convida você para uma comemoração tão em família, você tem que se sentir feliz.
É que o príncipe deste mundo, o pai da mentira, tem disseminado a semente da falsidade, da dissimulação e do engodo, todos seus filhos naturais. Daí, o que mais vemos é gente dando tapinhas nas costas do outro para logo adiante apunhalar pelas costas aquele a quem saudara com tanta efusão.
Vigora uma inveja torturante, um desassombro para o roubo e a morte que nos deixam espantados e perplexos, sem saber para onde ir ou com quem estar.
Mas é preciso reconhecer que não é só lama que existe e, mesmo nela, aparecem flores de um colorido exuberante e de suave odor. Ainda há água limpa, que se pode beber sem susto, ainda que fazendo de copo uma folha de uma árvore qualquer, ainda há córregos e regatos que serpenteiam, deixando-nos ver o fundo de seus leitos, povoado de areia branca e pedras de várias cores.
É imperativo admitir que ainda há integridade e nem tudo é passado nem passado perdido. Ainda se pode conversar com homens e mulheres de grande valor, ainda se pode conviver com pessoas verdadeiras e sinceras, absolutamente confiáveis.
Quando recebi o convite, a pessoa me dizia: mano, você precisa vir. O aniversariante gosta muito de você e nós iremos juntos à festinha que está preparando…
Faz parte de minha personalidade esta incapacidade horrorosa de guardar datas, mormente de aniversários. Só tenho duas irmãs vivas, e o muito que consegui foi saber que os respectivos aniversários são em fevereiro e em julho. Mas sempre erro os dias!
Mas achei o tom muito íntimo.
Desconfiei logo da jogada e arrematei: é o seu aniversário, não é mano velho?
Ele sorriu a concordou;
Pedro Muniz Coelho, nordestino mas cidadão de Anápolis.
Foram momentos muito agradáveis, meu irmão. Momentos em que revivem em nós a certeza do bem, o valor da amizade, a realidade do sentimento fraterno, o poder da confiança no ser humano.
A gente que anda rodeado de tanto lodaçal, de tanto pântano, de tanta areia movediça no trato com os seres sociais de hoje precisa destes oásis, destes templos, destas mensagens.
Estavam ali sua família ( esposa Janaína, filhas Emília Katrine, Jeanna, Jeannine e Evelyn Ticiane com seus respetivos esposos e filhos, sogros Leodé e Marlene) e seus amigos Comandante Sandin e esposa Sônia, Vereador Paulo de Lima, Eurípedes Junqueira e esposa Geni, irmãos de Loja Maçônica Dr. Sebastião,, Edson Garcia e João Belém, E isto para indicar apenas alguns.
O ar que se respirava era puro. O ambiente era de luz.
Lembrou o Revdo. Weber, da Igreja Presbiteriana, na sua alocução, uma passagem de Jesus, conforme está no Evangelho de João, na qual , após haver se dirigido aos seus seguidores com um discurso mais severo viu muitos deles se afastarem. Então, dirigindo-se aos seus discípulos, indagou:
E vós ? Não ireis também seguir outro caminho como os demais?
E Pedro, divinamente inspirado respondeu:
Senhor, para quem iremos nós ? Tu tens as palavras da vida eterna?
O símile me parece válido. Neste momento em que, às vezes perturbados, ficamos nos perguntando para quem iremos nós, em quem poderemos confiar, a quem nos dirigir, é válido lembrar de momentos como o do seu aniversário, meu irmão. Porque lembrando-nos deles também saberemos que temos para quem ir. Ainda há homens e mulheres amantes da verdade, sinceros em seus propósitos, firmes em suas convicções, tocados pela solidariedade humana e crentes nas razões poderosas do coração, sede do espírito, fonte da verdadeira vida.
E assim como, no plano espiritual, temos a quem ir: o sublime Carpinteiro de Nazaré, no plano social temos também a quem nos dirigir: aqueles que ainda guardam no seu ser a imagem e semelhança de seu Criador.
(Getulio Targino Lima, advogado, professor emérito (UFG), jornalista, escritor, membro da Associação Nacional de Escritores e da Academia Goiana de Letras. E-mail: [email protected])