O gigante vacila… Titubeia
Diário da Manhã
Publicado em 8 de junho de 2016 às 03:26 | Atualizado há 9 anos
Nos anos 50 a agricultura, liderada pelo café e cana de açúcar, principais produtos, era lastro de sustentação de nossa economia. Rio de Janeiro era a capital do país e a cidade de São Paulo nosso mais rico e promissor parque industrial. Agricultura essa que se estendia do agreste nordestino até o oeste paulista. Minas Gerais liderava a exploração de minério e, desde o império, se mantém nessa condição. Findara a segunda grande guerra e o Brasil estava se recompondo de um período frio, economicamente falando, consequência natural agravada pela frequente evasão de divisas, costume dos desmandos desde o período imperial, passando pelo período republicano, não obstante as mazelas oriundas no limiar de nosso descobrimento. Sim, Pedro Álvares Cabral destinava-se à Índia e errou a estrada! A coisa já começou errada e o que começa errado…
Das orgias das viagens das Caravelas trazendo ébrios, sóbrios, disfarçados maridos fiéis com esposas nem tanto – e vice e versa – infernizando nossos índios e índias, ficaram marcas que não se dissipam jamais. A Coroa Portuguesa era uma farra só e que digam D. João VI, Princesa Leopoldina e outros. D. Pedro foi nomeado Imperador ainda menino!
Voltando aos anos 50, lá de cima, vivíamos o Governo Getúlio Vargas que governou por quase duas décadas e passou para a história como um grande estadista. Daí a JK foi um pulinho. Este sim, já meu contemporâneo, jovem dinâmico, visionário, empreendedor e aguerrido de uma vontade incondicional de mudar os destinos dos Estados Unidos do Brasil. Foi um tempo de fazer 50 anos em cinco. E mudou. Trouxe um parque industrial inovador: indústria automobilística, metalúrgica, siderúrgica, química, farmacêutica, etc. Num lance de puro arrojo e preciosismo vislumbrou a Capital Federal, Brasília, que uma vez instalada seria centro geográfico, físico e econômico do país, convergindo para si os interesses dos Estados Brasileiros. E mudamos de nome: República Federativa do Brasil. Demos um salto fabuloso! Europeus e Asiáticos vieram em busca de novas oportunidades na indústria e na agricultura; indústrias americanas e alemãs, principalmente as automobilísticas, vieram também, atendendo o propósito de JK, que convidou, primeiramente, a alemã VW para produzir seus carros aqui. O Brasil se dividia entre norte-nordeste, centro-sul e sudeste. Os estados do centro-oeste viviam políticas exclusivistas e, embora participassem dos resultados econômicos, não recebiam mesma consideração e apreço da capital federal, então, Rio de Janeiro. A distância protelava a gestão dos serviços públicos, o repasse de recursos, entre outros procedimentos administrativos, truncando nosso desenvolvimento. Esse paradigma passou a se modificar com a transferência da capital federal, cujas distâncias se equalizaram, possibilitaram melhor gerenciamento governamental, pois, interligou os quadrantes, centralizando ações, promovendo interação e adequação de políticas de inclusão e desenvolvimento. JK, seu vislumbre foi estupendo! Seu governo entrou para a história do país como a gestão presidencial na qual se registrou o mais expressivo crescimento da economia brasileira. Na área econômica, o lema do governo foi “cinquenta anos de progresso em cinco anos de governo”. Para cumprir com esse objetivo, estabeleceu-se um Plano de Metas, que previa um acelerado crescimento econômico a partir da expansão do setor industrial, com investimentos na produção de aço, alumínio, metais não-ferrosos, cimento, álcalis, papel e celulose, borracha, construção naval, maquinaria pesada e equipamento elétrico. O Plano de Metas teve pleno êxito, pois, no transcurso da gestão governamental, a economia brasileira registrou taxas de crescimento da produção industrial em torno de 80%. O governo realizava investimentos no setor industrial a partir da emissão monetária e da abertura da economia ao capital estrangeiro. A emissão monetária ocasionou um agravamento do processo inflacionário, enquanto que a abertura da economia ao capital estrangeiro gerou uma progressiva desnacionalização econômica, porque as multinacionais passaram a ter controle sobre determinados setores estratégicos na economia brasileira, sobretudo de forma preponderante nas indústrias automobilística, de cigarros, farmacêutica e mecânica. Começaram a remeter grandes remessas de lucros para seus países de origem. Procedimento ilegal. Burlavam. Portanto, se por um lado o Plano de Metas alcançou os resultados esperados, por outro, foi responsável pela consolidação de um capitalismo extremamente dependente que sofreu muitas críticas e acirrou o debate em torno da política desenvolvimentista. A gestão de Juscelino Kubitschek, popularmente chamado de JK, em particular a construção da cidade de Brasília, não esteve a salvo de críticas dos setores oposicionistas. No Congresso Nacional, a oposição política ao governo de JK vinha da União Democrática Nacional – UDN. A oposição ganhou maior força no momento em que as crescentes dificuldades financeiras e inflacionárias, decorrentes principalmente dos gastos com a construção de Brasília, fragilizaram o governo federal. A UDN fazia um tipo de oposição ao governo baseada na denúncia de escândalos de corrupção e uso indevido do dinheiro público. A construção de Brasília foi o principal alvo das críticas da oposição. No entanto, a ação de setores oposicionistas não prejudicou seriamente a estabilidade governamental na gestão de JK. Sucederam JK, Jânio Quadros, que renunciou, dando oportunidade para a ascensão de João Goulart (Jango), seu vice, que teve seu mandato derrubado pelo regime militar. Eu, de certo modo, não esqueço 1964. A geada foi violenta! Os cafezais sucumbiram perante o frio! No norte do Paraná as pessoas amanheciam nas lavouras acendendo fogueiras entre os pés de café para aliviar a queda da temperatura; outros não se davam a esse cuidado. O tempo era imprevisível e implacável. Colheitas foram perdidas ao longo dos anos, de tal forma que os produtores se desesperaram. Não colhiam, não pagavam e por fim, quebravam! Os bancos recebiam de toda maneira. Banco não perdia! Não perde até hoje! Muitos proprietários atentaram contra a própria vida, no auge do desespero. A insatisfação generalizada provocava inquietação aos pais e consequentemente aos filhos. O Êxodo Rural estava instalado! Foi instituída a tomada do poder pelos militares em abril de 1964, segundo historiadores, com amplo apoio de parte de segmentos importantes da sociedade, dentre eles os grandes proprietários rurais, a burguesia industrial paulista, uma grande parte das classes médias urbanas, setores anticomunistas e da igreja católica. O golpe estabeleceu um regime alinhado aos EUA e marcou o início de um período de profundas modificações na organização política, bem como na vida econômica e social do país. Politicamente nada entendia, tampouco vivia ou participava. Porquanto me lembro de Juscelino Kubistchek, que passou o bastão para João Goulart ou Jânio Quadros que, de um, lembro a história do fi-lo por que qui-lo e do outro a tomada do poder por parte dos militares! Sim, após a tomada do poder, os militares governaram o país com um objetivo específico: arrumar a casa que estava uma bagunça! Era notório o senso de organização e patriotismo com que conduziam essa mudança cívica; enquanto aluno, de primeiro grau, não me esqueço de tantas vezes entrar à sala de aula em fila, obedecendo a ordem de altura do aluno mais baixo para o mais alto, cantando o hino nacional com a mão direita sobre o lado esquerdo do peito. Que saudade! Governaram o país até 1985, quando entenderam o processo de transição democrática, cantado em verso e prosa nas passeatas organizadas pela sociedade civil organizada, passaram a administração do país a um regime democrático de direito que se prevalece desde então.
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas… de um povo heroico o brado retumbante… gigante pela própria natureza, és belo, és forte, impávido colosso… e o teu futuro espelha essa grandeza…
Politicamente nada entendia – se é que posso dizer que hoje entendo – mas, vendo as mazelas de agora, sinto saudades da ordem que imperava naquele tempo. Dá-me a nítida impressão que, diante de tantas denúncias com personalidades envolvidas em corrupção, os governos militares eram honestos. Observei, surpreso, a euforia com a qual se pregou a “campanha das diretas já”, o grito dos excluídos da administração e das políticas públicas, que não estavam tendo o direito que entendem ter agora – direito de desviar, sem dó, nem piedade – os recursos dos nossos cofres. Parece-me que gritavam porque não tinham vez! Foram botando a boca na botija e, na primeira oportunidade, percebo que se tornaram um bando de corruptos, os quais, com auxílio de seus asseclas, estão dilapidando nossos recursos, deslavadamente! É uma castração em larga escala! E decepcionante perceber que a justiça faz como quem não queria fazer. Hoje a classe política dita regras e distribui benesses de acordo com sua conveniência. Segue taciturno um movimento contra esse estado de coisas. Passaram manteiga no nariz do gato e ele perdeu o olfato, dando ao rato a condição de empanturrar-se na festa! Não sei se todos os brasileiros amam meu país, como eu, mas compreendo a aflição dos jovens que, aos milhares estão indo embora, na expectativa de dias melhores lá fora. Quantas cidades semelhantes a Teófilo Otoni, Governador Valadares, Piracanjuba, assistem seus filhos indo embora? São filhos brasileiros, são forças de produção, que se debandam, na desesperança, ressentidos com este cenário! Nossos governantes estão castrando gerações!
Analisando os personagens atuais de nossa gestão, as informações de mídia, o caminhar dos procedimentos judiciais, percebo claramente o estado do gigante que vacila, que titubeia, parecendo um barco à deriva. Sérgio Machado, o metralhadora .100 e seu filho, Expedito Machado, uma .40, correram com Romero Jucá, Fabiano Silveira e aparentam munição para derrubar Dilma, Renan, Sarney… Marcelo Odebrecht afirma que repassou 27 milhões de reais para a eleição de Dilma. Sérgio declara algo como 70 milhões de reais repassados para Renan, Jucá e Sarney, gentalha do PMDB, o partido das diretas já! Léo Pinheiro, OAS, vai falar… Assim como falou Torquato Jardim, num congresso de Ciência Política e Direito Eleitoral, em Teresina – PI, em 18/05/2016, antes de ser nomeado ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, em substituição a Fabiano Silveira, que estava envolvido com denúncias de operações nos bastidores para barrar a Lavajato, matéria do jornal Tribuna do Norte, que “os partidos políticos são balcão de negócios; o centrão, com 225 deputados de 13 partidos, está montado em nome da corrupção e da safadeza”. Diante de tanto despautério, chama-me a atenção a opinião de Arnaldo Jabor, articulista de “O globo”, em seu artigo que diz: “é preciso que as pessoas se sintam passageiras do trem do governo Temer” ou estaremos todos f… Não há muito tempo para que se tome medidas concretas para sanear as contas públicas. O rombo é imenso. E para Lula e sua corriola, a morosidade da justiça lhe é favorável, e os erros que Temer venha cometer vão no embalo do clima do “quanto pior, melhor”. Tudo porque o rombo do PT é recorde mundial. Arnaldo Jabor segue com seu raciocínio: “Temer está na corda bamba – de um lado uma equipe econômica de primeira linha – do outro – um bando de corruptos impregnados em ministérios e repartições de segundo, terceiro escalões trabalhando para o esquema do ‘lenha na fogueira’, dane-se o povo brasileiro.” Terá que demitir gente corrupta, aparelhada no governo, aumentar impostos, entre outras medidas pelas quais a população torce o nariz. “Há senadores vacilões (tipo Romário), que oferecem riscos a um possível retorno de Dilma. A comunicação é essencial, sob pena de nossa aflição continuar, para ampliar os espaços da presidência transitória.”
Fico de cá torcendo para que encontremos um denominador comum; que Romário entenda que não queremos Dilma, nem ele, Romário, nem Temer, que é transitório! Queremos diretas já! Novas eleições gerais! Oportunidade única.
O gigante vacila, titubeia. E as novas gerações estão sendo castradas também!
(Carlos Dias Felizardo, bacharel em Administração Pública, pós-graduando em Gestão, Licenciamento e Auditoria Ambiental)