Opinião

A pátria de chuteiras calça sandálias

Redação DM

Publicado em 4 de junho de 2016 às 02:50 | Atualizado há 9 anos

O Brasil vai disputar a Copa América sem o habitual fanatismo dos torcedores. A gente repete na bola o que acontece com o governo interino de Michael Temer. Dunga vai pelo mesmo caminho. Tem a cabeça quase guilhotinada por causa da posição que ocupa nas eliminatórias para a Copa da Rússia, de 2018.

Pra rirmos mais. É um professor, como os brasileiros chamamos os treinadores, que não gostam de pensar o jogo. Não é Pepe Guardiola, tampouco Simeone. É o Dunga!

O País borbulha, protesta, reivindica. Não é necessária uma pesquisa de opinião para comprovar que Dunga não carrega a simpatia do torcedor brasileiro. Há um receio de que a seleção canarinho fique de fora da Copa do Mundo, pela primeira vez.

Contudo, a seleção pode ser considerada melhor que a equipe ministerial de Temer. A gente tá longe de ser aquela seleção – que em outrora – encantou o mundo, com toques refinados, com progressismo dentro das quatro linhas, com jogadas improvisadas, com arte; mas podemos surpreender, não?

Dunga optará pela obediência civil. Sua mediocridade tática, não lhe permite explorar os esquemas de jogo. Ou rompê-los, o que acredito ser o sonho do torcedor que se acostumara a ver Pele, Tostão, Sócrates, Zico, Romário, Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho.

A gente só se destaca no erro. Ganso pode ser a salvação, a bossa nova nesta harmonia que Dunga insiste em tocar, sem saber os acordes. Temos de reconhecer: Ganso é único no escrete que tem condições de deixar um atacante na cara do gol. Coisa que sempre fora nossa maior característica: bons 10. Agora, eles inventaram de sumir.

O Brasil têm chances de pegar à taça, nos EUA. Não terá a dependência a Neymar, um ótimo jogador no Santos e Barcelona, mas que ainda não mostrou, na seleção, o futebol que fez-lhe ir a Espanha.

Ganso sabe pensar. Tem alguns insights do nosso filósofo das quatro linhas, doutor Sócrates. No programa Cartão Verde, da Tv Cultura, o doutor disse: “Se esse cara quiser, vai ser melhor que nós todos, ele junta Zico e Zidane nas mesmas pernadas.”

Na apologia socrática, pondero, Neymar funciona, como no Barça. Mas é incapaz de assumir a responsabilidade da seleção. Talvez a camisa 10 pese-lhe às costas. Ganso pode ser esse cara. Necessitamos de um pensador futebolístico. Que ele aproveite a chance. Que ele dê passes, como se dá uma tacada na bola oito, perto da caçapa, nos Profissa.

Apensar de tantas manobras reacionárias, no futebol sempre tem a maluquice, o samba, o molejo, a tropicália. Vai que a galera se rebele, ignora o Dunga e a ideia do Brasil careta de hoje.

Sonhar é bom.

Mas quem sabe, ora. Nessas horas de crise de existencial/política/futebolística é que se nasce um novo país. Que venham os desrespeitosos aos esquemas táticos e aos vozeirões retrógrados que ecoam dos bancos. Vamos caitanear. Ganso pode ser esse cara. Se Deus quiser. Que Deus queira!

O Brasil tem de ser repensado. Por isso nos veremos na Copa América.

 

(Marcus Vinícius Beck, estudante de Jornalismo e cronista)

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