O hedonismo individual do brasileiro

Grande parte de nossa população busca para si própria, egoisticamente, o prazer e a felicidade, o princípio e o fim de uma vida feliz, a qualquer preço. Ainda que isso cause dor e sofrimento a outras pessoas. Cada um almeja o hedonismo clássico, o prazer cirenaico, de Teodoro de Cirene, isto é, o prazer como um bem em si mesmo. E quanto tempo mais durar e mais intenso for, melhor achamos.

Tal prazer assim tão buscado e desejado evoluiu para o egoísmo do prazer momentâneo, podendo se revestir de vários aspectos: sexual, gastronômico, consumista (“Eu mereço”), provindo do desfrute de bens materiais, de bebidas e drogas diversas. Acrescente-se, ainda, o prazer corruptivo, intelectual, estético, cultural e artístico, ético, moral e religioso. Porém alguns desses prazeres podem nos levar ao amoralismo, à dor e ao desprazer, ou à forma primitiva de conduta, como matar a pedradas e estuprar coletivamente, dentre outras violências medievais.

A cultura, os costumes, a música e as artes brasileiras estão carregados de hedonismo: dificilmente outros países teriam tantos feriados e dias santos. Bem como tanto entusiasmo por futebol, carnaval, festas juninas, banhos diversos, praias, baladas e barzinhos depois do expediente. Lembremo-nos, ainda, de que o samba cura quase todos os males e de que o riso, a piada, ridicularizam nossa crise e nossa própria desgraça.

Por outro lado, o hedonismo religioso dá suporte para a busca da prosperidade e do prazer eterno. A “Marcha para Jesus” se contrapõe à passeata LGBT e a música gospel ganha espaço nos palcos nacionais e na grande mídia. Haja hedonismo!

Se, pelo menos, juntamente com nossos políticos, buscássemos o utilitarismo do século XVIII – que se preocupava com a felicidade e o prazer do maior número possível de pessoas, isto é, com a utilidade social (moral do útil coletivo) – valeria a pena sermos tão hedonistas.

(Ercília Macedo-Eckel, escritora – www.erciliamacedoescritora.com.br / [email protected])