BEM ALÉM DE MUITO
Redação DM
Publicado em 22 de maio de 2016 às 01:41 | Atualizado há 6 meses
“Iúri é jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás em 1985. Fundador da Contato Comunicação (1986), onde edita mais de 40 jornais e revistas. Ex-presidente da União Brasileira de Escritores – Goiás. Fundador do Goiânia Conventions Visitors Buerau de Goiânia. Membro das academias Goiana, Goianiense e Espírita de Letras, além do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás. Curador de diversas exposições e do Museu da Medicina de Goiás.” É autor de 16 livros.
(Do livro: Poemas de amor, adrenalina e testosterona)
Poemas do escritor, publicitário e acadêmico Iúri Rincon Godinho (Goiânia – GO), do livro: Poemas de amor, adrenalina e testosterona. Goiânia: Kelps, 2014. Telas dos artistas plásticos: Cléa Costa, M. Cavalcanti e Alcione Guimarães; do acervo pessoal de Iúri.
SINAL
Nasceu um sinaleiro na sua rua
e agora as esquinas
têm vermelhas caras fechadas
Botaram dois quebra-molas
no asfalto
além de pés-de-galinha
em cada um de nós
Nem sei se deveria dizer isso
mas o fato é que a realidade
pisca esqualidamente amarela
E eu
na meia idade e meio verde
até tinha vontade
de passar aí de novo
mas nunca encontro
essa bosta de sinal aberto.
ÚLTIMA RECEITA
Se me quiser
não reclame
calmaria
vendaval
se me quiser
é com megalomania
amasso e
carnaval
se me quiser
nunca haverá
entrega
igual
se me quiser
que seja louca
vida real
se me quiser
bem
se não
– mundo gira –
tiau
Se me quiser
não enche.
Me coma
como animal
Se me quiser
cala a boca
beija minha boca.
Ponto final
ENQUANTO
Flechados pelo cupido com ferocidade
protegidos pelas sombras
condenados pela realidade
fugiram para marte ou adiante
onde viveram felizes para sempre
enquanto durou o instante
PORTO
Minha alma sempre gulosa
enfim encontrou paradeiro:
me ofereçam milhares de rosas
ficaria com seu cheiro
Largo o mais afinado dos cantores
Elvis incluído
por seu sussurro
em meu ouvido
E se isso não for amor
desisto, vencido:
só sei que o som mais belo
continua sendo seu
gemido
TESOURA
Cortei a unha
poupei os pulsos
Tu não mereces tanto
corte
Então que eu faça a
corte
e te recorte
pra colar do meu jeito
forte
no álbum de figurinhas
da nossa
paixão sem
passaporte
UTI
Frágil como panda
A vida é breve
Fila que anda
Gente que prescreve
AQUELA
Busco palavras tão fortes que suem
paixão
palavras poderosas que te deitem
no chão
Se não as encontrar
que eu mantenha nem que seja um par
de fé
e descubra ao menos uma capaz de te pegar
de pé
FRASE SEM PONTO
NÃO EXISTEM VÍRGULAS
PALAVRAS CRASES GESTOS
SUBSTANTIVOS OU OBJETO
QUE DESCREVAM
O NOSSO TRAJETO
NÃO EXISTEM VERBOS
PALAVRAS ONOMATOPEIAS
NEM TODO ALFABETO
QUE TRADUZA
O NOSSO TRAJETO
SEM AUMENTATIVO ROTO
SEM ME ESCREVER SANTO
ME DEVORE TANTO ASSIM
DESDE SEMPRE ASSIM
BEM ALÉM DE POUCO
QUAL VIDA SEM FIM
GRÁVIDA DE ENCONTROS
NOSSA RELAÇÃO É ASSIM
QUALQUER COISA ENFIM
COMO UMA FRASE SEM PONTO
A página Oficina Poética, criada e organizada pela escritora e acadêmica Elizabeth Abreu Caldeira Brito, é publicada aos domingos no Diário da Manhã. Esta é a 222ª edição (desde 08/01/2012). [email protected]