Pecuária eficiente retribui investimento
Diário da Manhã
Publicado em 10 de maio de 2016 às 02:47 | Atualizado há 9 anos
Ao passar por Goiânia na última semana, o Rally da Pecuária, que se dispõe a percorrer cerca de 60 mil quilômetros pelo interior brasileiro, promoveu uma série de palestras de natureza técnica a uns 200 agropecuaristas no auditório da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás. Os temas foram os mais palpitantes possíveis, versando sobre uso da tecnologia apropriada às fazendas, sanidade animal, pastagens melhoradas, ganho de peso a partir da gestação do bezerro, entre outros enfoques. Esses assuntos serão levados pelo país rural afora.
Interessante observar que na atualidade, o agropecuarista aceita essas novas idéias sem maiores questionamentos. Nos idos de 70, Doane Camargo de Santana, médico veterinário da Faeg, insistia em suas preleções aos fazendeiros na necessidade da vacinação contra a febre aftosa. A vacina era dada pela entidade classista, que distribuía aos criadores em suas propriedades. Esse ingente esforço era em vão para muitos, que preferiam jogar as caixas de vacina intacta fora. Hoje, o Brasil encontra-se em vias de ver livre da vacinação porque a aftosa há pelo menos duas décadas não ocorrem no rebanho.
A rede do agronegócio, que envolve o pecuarista em sua propriedade, compreendeu a necessidade de vacinar seu rebanho. A balança comercial brasileira respondeu de forma positiva. O superávit no primeiro trimestre foi da ordem de US$8,4 bilhões, um aumento de US$13,9 bilhões em relação ao ano passado. Os dados são do Ministério da Indústria e Comércio. E a carne bovina participou com US$1,1 bilhão, na décima posição.
Países, altamente exigentes em matéria de sanidade como os Estados Unidos, se comprometem a comprar carne in natura made in Brazil. É sinal que os criadores entenderam a importância da imunização periódica do rebanho. Os frigoríficos participam também da exigência da qualidade, para dispor de um produto igualmente de qualidade.
O aquecimento das exportações de carne bovina no primeiro trimestre deste ano está relacionado à elevação dos preços da proteína no mercado doméstico, que diminui a demanda interna pelo produto e ao fator câmbio, incentivando as exportações. A expectativa do mercado para 2016 é a continuidade de um Real desvalorizado em relação ao dólar, o que contribui para a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional.
Mas, a peteca não pode cair. Pelo menos assim é o que pensa Maurício Nogueira, da Agroconsult, da coordenação do Rally da Pecuária. Ele bate na tecla da eficiência da pecuária. Cumprindo essa tarefa, o pecuarista obterá resultados com um rebanho melhor e rentável. Os preços do milho, da soja e outros grãos melhoraram no mercado e a arroba do boi gordo também acompanhou essa evolução. A cotação do dólar em relação ao real é uma faca de dois gumes. É uma verdade. Mas, o produtor sente no bolso quando compra os insumos básicos, porque alguns de seus ingredientes são importados. A ração, destinada aos animais, ficou mais cara e, assim, por diante.
No entanto, não cabe ficar chorando por muito tempo. A água do rio não fica parada. A produtividade sinaliza com busca constante. A vaca com o bezerrinho na barriga precisa ser melhor alimentada, para produzir um bezerro mais gordo. O animal em regime de confinamento tende a ser abatido aos dois anos de idade. Desta maneira, produzirá o baby beef, uma carne mais tenra. Com isso, atenderá a um mercado mais sofisticado, mais rentável. O animal criado no pasto demanda cinco anos ou mais para o abate. E isto custa mais. Sem falar no ganho de peso.
Diéde Loureiro, ligado também ao Rally da Pecuária, vê necessidade de cumprimento do ciclo na atividade. Ele engloba como essenciais os fatores da nutrição, genética, treinamento da equipe da fazenda e o aspecto sanitário. Trocando em miúdos, os cuidados com a alimentação são recomendados. O sal mineral aditivado e as proteínas não podem faltar no cardápio da vaca, sobretudo em fase de gestação, para produzir um bezerro sadio e forte. A genética deve ser buscada. A matriz é recomendada. O pecuarista jamais deve ignorar a sua equipe. É o peão, afinal, quem lida diretamente com cada animal.
As condições sanitárias são vitais em qualquer mercado de consumo. Se quebrar um dos elos da corrente, um país consumidor interrompe a comercialização. A Organização Internacional de Epizootias (OIE), com sede em Paris, veta a importação de carne daquele país. Lembre-se de um caso de aftosa num município do interior da Amazônia. Embora fosse uma situação localizada, que nunca vendeu carne para seu próprio Estado, a notícia se espalhou pelo mundo via internet. Até explicar que navio não tem pneu, o estrago econômico já estava feito.
Pelo que se depreende, o agropecuarista brasileiro tende a liderar a produção de alimentos. Por alguns fatores. O Brasil detém terras e clima apropriados. O agropecuarista está aprendendo a aproveitar os 40 milhões de hectares degradados nos últimos 10 anos. Ele está adotando os novos conhecimentos tecnológicos postos à disposição pelas entidades de pesquisa. Compreendendo a necessidade da gestão e dos recursos humanos na propriedade. Enfim, sua visão de futuro se alarga.
(Wandell Seixas, jornalista voltado para o agro, bacharel em Direito e Economia pela PUC-Goiás, ex-bolsista em cooperativismo agropecuário pela Histradut, Tel Aviv, Israel, e autor do livro O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste)