A ‘geografia poética’ de Ronaldo Mousinho – I
Redação DM
Publicado em 7 de maio de 2016 às 02:00 | Atualizado há 9 anosDesde o advento dos Inconfidentes, a ideia de construir-se, no Planalto Central, uma nova civilização, somente se revigorou, com o passar dos anos, sobretudo pela decisão de construir-se a nova Capital do País no interior do Brasil, ideal cristalizado no ideário político-administrativo de Juscelino Kubitschek de Oliveira, que, durante sua campanha, prometera, num comício na cidade de Jataí, por onde decidira iniciar sua caminhada eleitoral, cumprindo a promessa constitucional, que vinha desde os Inconfidentes, de transferir a Capital do País para o interior da Pátria. Era uma provocação espetacular que lhe fizera o goiano ‘Toniquinho’, mais tarde ‘Toniquinho JK’ como viria a assinar-se. Juscelino não titubeou, passado o impacto da interpelação sui generis: “Se o senhor for eleito Presidente da República, cumprirá o texto constitucional de transferir a Capital da República para o Planalto Central?” Passado o susto que a interpelação insólita lhe provocara, Juscelino respondeu, com aquela expressão de firmeza que lhe caracterizava a voz impostada – que sim. Resposta acolhida por milhares de palmas que ecoaram debaixo do toldo esticado sobre a carroceria do caminhão estacionado no barracão armado na praça pública.
Eleito, Juscelino deu início às obras da nova Capital, a partir da demarcação do território onde seria edificada a nova Capital, e subsequente expropriação, com prévio depósito da quantia respectiva. No ano de 1883, “em visão espiritual premonitória” à construção de Brasília, atribuída ao padre italiano Melchior Bosco, natural de Turim – Itália (popularmente cognominado de Dom Bosco), padroeiro de Brasília-DF, declara que, ‘entre os paralelos 15 e 20, donde se formava um lago… aparecerá neste sítio a terra prometida’ (‘Geografia Poética do Distrito Federal’ (‘Coletânea Comemorativa ao Cinquentenário do DF’), pág. 12.
Inaugurada, apoteoticamente, a 21 de abril de 1960, Brasília-DF alcançaria, em breve, mais de um milhão de habitantes, numa evidência de que o País acreditara na edificação da nova Capital. E com o advento de tão acentuado conglomerado populacional, viriam as inúmeras manifestações culturais, oriundas de todas as regiões do País – Norte, Sul, Leste, Nordeste, Centro-Oeste, cada qual expressando-se no que a literatura tem demais expressivo, a poesia.
À guisa de amostragem, pincei dentre os expoentes recrutados por Mousinho, inicialmente os poetas de minha terra natal, o Piauí, com destaque a Antônio Carlos Sampaio, natural de União-PI, Clinaura Macedo,Valença (PI), José Severiano Costa Andrade, de Simplício Mendes (PI), Hélio Soares Pereira, de Teresina(PI), Josélia Costandrade, de Simplício Mendes (PI), Marcos Freitas, de Teresina (PI), Maria de Jesus Evangelista, usa o pseudônimo Maju Guimarães, Maria Vanildes Alves,natural de Oeiras (PI), e Ronaldo Alves Mousinho, natural de Guadalupe (PI).
Eis breve Crestomatia da produção poética dessa ‘Geografia Poética’
De Antônio Carlos Sampaio, de União (PI):
“Faces da Arte”
“Arte, o que é arte? / Dás o primeiro passo
Arte onde estás? / outras faces…
Arte, como te identificas / Revela esse labirinto!
Arte, por que tantas voltas, envoltas? / És perceptível?!
– Não sei, talvez! Cautela!
És coroada de mistérios? / – Acho que sim! / Mistérios com ministérios!
Ao mestre competirá? / – Certamente, não totalmente.
Calada da tarde! / Nessas estridentes frentes, / É gente que parte.
Mar em multicor, / Dengosa que encanta a Rosa / Na onda desse amor.
É o rio Parnaíba: / Ricas mensagens nas margens… / Florou… Sambaíba!
No haicai Guilherme / Peguei a chama e levei / Na flor da epiderme.
Veja a polidez. / Saiba falar e calar./ Aguarde a sua vez.”
De Clinara Macedo, Valença do Piauí:
“Oração de uma Violinista”
Meu Sinhô, Meu Jesus Cristo / Peço que olhe pra isto / Muito Lhe devo
pagá.
Mas pra minha provação / Peço de coração / Faça isso comigo não!
Tá difícil de aguentá.
Tô aqui pra te pedi / Corage pra prossegui / Inté eu me aposentá / Preciso sê paciente / Cum maestro, cum assistente, / Cum os ‘siacha’… Tem quem agüente?/ Mas Tu pode me ajudá!
Jesus Cristo, Meu Sinhô / Por Sua bondade e amô / Perdoe d’eu reclamá / De isquecê O Teu Sermão / Me daná nas confusão/ D’eu faz malcriação/ E gostá de conversá.
Os meus defeito eu num nego / E a minha cruz eu carrego / Mas gosto de me lembrá / Tu, O Humilde Carpinteiro / Disse aos Doze Companheiro
‘Quem quisé sê o primeiro / Queira o último lugá’.
Mas, cum a Tua permissão / Em orquestra tem o disse não! E me ajude a infrentá / Quando eu tô na última istante / Os comentário humilhante / De convidado arrogante, / De assistente ou titulá.”
Eu Lhe tenho confiança / Pois me perdoe a pidança/ Mas sem querê abusá/ Sinhô me dê a alegria/ Se tive´ ‘fotografia’/ Me livre da agunia/ De tremê na Hora H.
Pois ninguém qué nem sabê / Se eu me trevi, Vão dizê!/E num adianta explicá: Maestro! Eu num sô Assim!/ A foto saiu ruim! / Eles vão é ri de mim/ Se eu num consegui tocá.
Sinhô, Lhe peço perdão / Abranda meu coração/ Num permite eu me irritá/Pra que também meus amigo / Tenham paciença cumigo / Que eu num mereça o castigo / De Deus num me perdoá.
Se sô ou num sô feliz / Num sei… O que foi que eu fiz?!/ Mas que Lhe perguntá: ? //Se zangue comigo não / Esta minha profissão / Foi present e ou expiação?/ Tá vendo? Sei nem rezá!
Meu Sinhô, eu Lhe agradeço / Sua bondade nem mereço / Mas consigo observá / Que carrego uma certeza / De sofrê cum esta fraqueza / Pois num possuo a grandeza / De vê e num repará.”
“O Pão Nosso de Cada Dia / Tu me deu cum Sinfonia / Mas quero pedi também / Que as ofensa eu dê perdão / Que nas minha tentação / Num deixe caí não! / Livrai-me do mal. Amém.”
José Severiano da Costa Andrade (Da Costandrade)
De Simplício Mendes (PI)
“Saudade é mar sem fim de águas serenas / Em que voga o escaler do pensamento/,Trazendo causas para novas penas/ A quem já vive em negro desalento…”
“Saudade é véu que tímidas falenas / Queimam, na noite atroz do isolamento, / Para o ébrio de luz banhar-se apenas / Na tepidez dos risos de um momento…”
“Saudade é espelho da alma, onde, piedosa, / A lembrança reflete, em negro ou rosa, / As imagens que, longe, vão ficando…”
“É um relógio perdido e retardado…/ – Mas, quem não sente que ele vai marcando / “Os diversos momentos do passado?”
(Licínio Barbosa, advogado criminalista, professor emérito da UFG, professor titular da PUC-Goiás, membro titular do IAB-Instituto dos Advogados Brasileiros-Rio/RJ, e do IHGG-Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, membro efetivo da Academia Goiana de Letras, Cadeira 35 – E-mail liciniobarbo[email protected])