A autofagia do PMDB e do PT (VI)
Diário da Manhã
Publicado em 6 de maio de 2016 às 03:12 | Atualizado há 9 anos
No artigo de 7 de maio de 2004 – O PT era uma estratégia, não uma diferença – o primeiro parágrafo faz esta síntese: “Ao surgir no cenário da política nacional, o PT buscou simbolizar alguns mitos. O mito da disciplina partidária. O da ética. O do conteúdo programático projetor do primado do interesse social. O da insubmissão às imposições do FMI.” O primeiro deles – o da disciplina partidária – foi executado uma vez com a expulsão de três deputados federais, pelo fato de terem comparecido ao colégio eleitoral a fim de votar em Tancredo Neves.
Conduta inteiramente oposta foi adotada com relação a um dos mais importantes – o da ética. O partido não expulsou qualquer dos envolvidos e condenados no chamado processo do Mensalão. Pelo contrário: nenhuma nota foi emitida de condenação aos beneficiários daquela nunca contestada orgia de malversação do dinheiro público. Do presidente Lula, por exemplo, emanou esta única frase: “São uns aloprados.” Nessa frase não há um mínimo de condenação. O que quer dizer aloprado? Simplesmente isto: muito inquieto, muito agitado. Para o presidente Lula portanto a prática da corrupção tão definitivamente provada no chamado Mensalão significava apenas “muito inquieto, muito agitado”. Definição ridícula, condescendente, protetora até, conduta que o presidente veio a ter novamente quando o assessor José Adalberto Vieira da Silva, do deputado cearense José Guimarães, irmão de José Genuíno, no ano seguinte, foi flagrado com mais de duzentos mil reais ocultos na cueca quando se achava no Aeroporto de São Paulo. Achando-se em Paris o presidente Lula, informado desse gravíssimo fato, limitou-se à seguinte expressão: “O Brasil não merece isto.” A esse episódio se deve acrescentar que o próprio deputado José Guimarães teve o seu mandato objeto de pedido de cassação na Assembleia Legislativa do Ceará, mas o plenário desta Casa o rejeitou por 23 votos contra 16.
Junto a uma agência do Banco do Brasil de Belo Horizonte o deputado José Genoíno obteve um empréstimo de três milhões e quinhentos mil reais destinado ao seu partido. Aspecto dos mais curiosos dessa transação foi que o avalista de tal empréstimo foi o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, cujo cadastro apresentava um patrimônio de apenas cento e sessenta mil reais. O fato nunca mais foi noticiado na imprensa e o partido nenhuma atitude adotou com relação a esse ato de inidoneidade.
Muitos outros episódios do mesmo jaez aconteceram na história do PT sem que se conheça uma só punição ou condenação partidária. Deputados do partido que votaram em Tancredo Neves receberam expulsão. Os petistas que violaram a ética, que cometeram desonestidades das quais não tiveram condições de se defender, nenhuma palavra tiveram da direção partidária de condenação a sua conduta. A contrariu sensu, foram todos defendidos e protegidos. Esta é das máculas mais terríveis da história do PT e vários nomes importantes da agremiação podem ser arrolados entre os meliantes.
Este articulista foi dos que mais tiveram dificuldade em acreditar nos atos desonestos de José Dirceu, que desde jovem teve militância de luta contra a Ditadura. Foi inclusive um dos presos políticos libertados quando do sequestro do embaixador Charles Burke Elbrick em setembro de 1969. Ultimamente, quando José Dirceu apresenta recibo de vinte e sete milhões de reais por uma alegada consultoria para uma das empresas comprometidas em propinas da Petrobras, vejo que a sua posição é indefensável, o que é profundamente desolador.
Eis, por enquanto, algumas das evidências da autofagia do PT.
(Eurico Barbosa, escritor, membro da AGL e da Associação Nacional de Escritores, advogado, jornalista e escreve neste jornal às quartas & sextas-feiras – E-mail: eurico_barbosa@hotmail.com)