Justiça tire a venda!
Redação DM
Publicado em 5 de maio de 2016 às 01:30 | Atualizado há 9 anos
Se a tal da Justiça não é cega por que não tira logo a venda para poder ver seus súditos, quase todos, à venda? Eu não estou afirmando que os nossos magistrados estão todos vendidos, não seria tão idiota assim, mas, afirmando, apenas, que quase todos estão vendidos para o dinheiro, poder, ideologias e que eu, particularmente, data vênia, estou farto de tudo isto e, tenho certeza absoluta, o misericordioso leitor também! Ligo a tv, vou à padaria ou ao mercado e o assunto é sempre o mesmo, sempre o tal de impedimento, cuja imensa maioria – “puxa saca” de gringos, reminiscências hereditárias, inconsciente coletivo, cromossomos ou “como somos”, como costumo brincar quando explico o tema para a Sophia Penellopy, a minha caçulinha de 8 aninhos, enfim, nossos ancestrais, os tataranetos dos nossos tataravôs, que lutavam entre si pelos espelhos e penduricalhos que os portugueses, espanhóis, holandeses, ingleses, franceses – entre muitos outros povos – traziam para trocarem por ouro e outras “especiarias”. É o mesmo que essa maldita luta idiota entre patrões e empregados, empresários e trabalhadores – como se o empresário, ou o patrão, não trabalhassem, não tocassem, como costumam dizer, o negócio, muitas vezes dispensando muito mais horas e energias do que o tal do “funcionário do mês” – esse ódio, guerra, objetivos opostos, tudo o que não ocorre em países desenvolvidos, cujo sistema político, todas os poderes, são regidos por leis estabelecidas e fiscalizadas por instituições incorruptíveis, sindicatos transparentes, aonde o político, até o premier, anda de metrô, coletivo e, muitas vezes, sequer é reconhecido, ou, melhor, importunado. Esta maldição, esta luta tão acirrada de classes, esta divisão tão absurda classificando-as de A ao E, afora os miseráveis sem teto, largados nas ruas, à mercê de tudo o que não presta, que estão aumentando de número bem na frente dos nossos narizes e restaurantes mais chiques, esmolando para fumar mais uma pedrinha, enfim, tudo isto também é reminiscência da escravatura, afinal, o nosso país foi o último a abolir o sistema escravocrata, em 1888, não faz nem 1666 semanas – enfim, é esta imensa maioria que prefere alcunhar de impeachment, não de impedimento, esta tentativa de impedir a permanência na presidência da primeira mulher eleita no país, a Dilma Rousseff, então, sobre esta presidenta, fico pensando como é possível que mais de cinquenta milhões de pessoas acreditem, piamente, que ela é honestíssima e outros cinquenta milhões queiram-na morta ou, ao menos, trancafiada sob sete chaves? Confesso que tudo isto torna-se para mim um consolo e, mais uma vez, rogo perdão ao misericordioso leitor pelo desabafo, mas, certifiquei-me que realmente, parece, que não estou louco, que permaneço detentor de todas as faculdades, porque para alguns, inclusive familiares, eu não mereço nem o ar que respiro e, cruz credo, já deveria estar mortinho da silva, debaixo de sete palmos lá, bem juntinho do chifrudo e, na verdade, nunca me disseram, mas eu tenho certeza que pensam assim, enquanto que para outros, inclusive familiares que me conhecem desde que eu usava calça curta e engraxava sapatos na Praça XV, epicentro de Ribeirão Preto ou apanhava algodão ou café nas férias para ter o meu dinheiro e não depender do rigorosíssimo papai, Antônio Gonçalves Dias Filho (33-83) – imensuravelmente responsável por tudo que há de amor neste meu miserável ser pelas artes, especialmente a literatura – sou um homem destemido e da verdade, demonstrando isto semanalmente nos escritos, nas crônicas e que só vivo para fazer o bem ao próximo e, claro, normalmente os mais velhos, afirmam que o meu lugar está garantido lá no paraíso. O pior, que é para mim o melhor, é que muitos daqueles continuam lendo os meus escritos, então, engulam: embora eu seja pecador, tenha pecado e descumprido muitos mandamentos durante a minha incrivelmente agitada e complexa vida tive, tenho e sempre terei o perdão que é concedido à todas as pessoas, indiscriminadamente e, por incrível que possa parecer-lhes, têm gente que gosta e até demonstra que gosta de mim! Ainda bem que eu não dependo mais de crenças, nem nos outros e nem no futuro da terra e dos céus para realizar o meu presente – já que já afirmei, por aqui também, que para mim não existe o presente, somente o passado e o futuro, o negativo e o positivo, respectivamente, paralelos, porém, antagônicos e, concomitantemente, impossibilitados de intermediarem, sustentarem e nem mesmo ladearem o “presente”, como ele é imaginado em nossa “mente que mente” – então, pouco me importa já que o importante mesmo é eu tentar dar conta da minha vidinha medíocre e passageira, de algumas poucas décadas, missão já quase cumprida porque já suportei cinco delas, sim, porque quem está vivendo no mundo, especialmente no Brasil, neste início de milênio, se sobreviver, haverá de contar, para os filhos e netos, que levava uma vidinha sem sentido, sem nexo, sem confiança, sem fé e amor, aonde ninguém confiava em ninguém, o amor desapareceu e a vida tornou-se quase que insuportável, como a minha, sem certezas de ir e voltar vivo da feira ou da banca de jornal. Sair de casa olhando para os lados e segurando bem firme a bolsa ou a carteira e torcendo para não ser assaltado. Rezar, orar, meditar, benzer, jejuar, banhar com sal grosso, acender velas de todas as cores, levar passes, cumprir promessas, fazer e comer o pão que o diabo amassou para viver mais um único dia. Até quando? Até.
(Henrique Dias, jornalista)