Dois períodos, uma sociedade
Redação DM
Publicado em 5 de maio de 2016 às 01:23 | Atualizado há 9 anos
O liberalismo adotado no Império serviu apenas de fachada para que o conservadorismo e o patrimonialismo continuassem a dominar a sociedade. Esta deixou de herança para a sociedade atual as incoerências e preconceitos já existentes naquele período e que continuam na sociedade atual, mas agora de uma forma mais mascarada. Uma das maiores incoerências era o adotar uma Constituição e um discurso liberal e continuar com a utilização da mão de obra escrava e a desigualdade tanto de gênero quanto social. Na verdade o estado não era liberal e sim liberal-conservador.
Essa incoerência no discurso liberal não era restrita apenas ao Brasil. Na própria França existia certa incoerência, já que foi desconsiderada a igualdade entre os sexos na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. As mulheres continuaram a lutar e Olympe de Gouges, revolucionaria francesa, decidiu por fazer a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã. Por isso ela foi condenada a morte e a sentença que proferiu sua condenação dizia que ela “(…) se imiscuiu nos assuntos da República, esquecendo-se das virtudes seu sexo (…)”.
Não muito diferente, mas muito distante daquela época a sociedade atual, apesar da incontestável evolução social que houve, continua com certos preconceitos e incoerências que já existiam anteriormente.
O uso da mão de obra escrava no Brasil durou cerca de 300 anos e finalmente quando foi abolido, esse fato foi romantizado sendo que dá a entender que isso foi uma dádiva. O fim da escravidão no Brasil foi uma vitória, mas não houve nenhum auxílio aos negros que não possuíam moradia ou meios de se sustentar, a não ser continuar a trabalhar para seus senhores em troca de moradia e alimentos. Atualmente, cerca de 54% da população brasileira é negra. Apesar disso os negros representam apenas 17% na parcela mais rica do país. Além de serem marginalizados pela sociedade. Essa é maldita herança social que nos assombra.
Tomamos o nordeste do país como um lugar pobre, miserável. Isso se dar pois ao decorrer da evolução do país não houve grandes “investimentos” no nordeste. Assim foi formado um pensamento pejorativo em relação a essa parte do país. Quando se fala em nordeste imagina se pobreza, desigualdade social, bolsa família e o Lampião. Além de também serem marginalizados. Aliás, o nordeste do país é muito rico em cultura.
Apesar de serem sociedades de períodos completamente diferentes, uma sendo no período Imperial e a outra no período atual. Podemos notar as semelhanças entre a sociedade dos dois períodos, ou melhor, a herança negativa que a nossa sociedade atual herdou. Mas continuaremos a lutar, “pois um filho teu não foge à luta”, para que assim possamos conquistar uma sociedade mais justa.
(Caio Henrique Pereira Carvalho, estudante de Direito / e-mail: cai[email protected])cai