Lucro com impacto social
Redação DM
Publicado em 16 de abril de 2016 às 02:22 | Atualizado há 9 anos
Em um cenário em que o sistema socialista está cada vez mais desacreditado e que os eleitores de vários países começam a rechaçar a solução paternalista da chamada “esquerda populista”, o sistema capitalista, já chamado de “o menos pior de todos”, também tem o dever de se questionar e se renovar.
O caminho desta renovação se chama Investimento com Impacto Social e Ambiental (IISA). O modelo de negócio do IISA está a meio caminho entre a filantropia, normalmente feita a fundo perdido, e o investimento que visa somente o retorno monetário. O IISA vai além de ser simplesmente um investimento socialmente responsável, já que exige que se atinjam metas pré-determinadas, objetivas e/ou subjetivas, de impacto social, mas não deixa de exigir igualmente resultados financeiros positivos para seus projetos.
A maior parte das iniciativas para lidar com necessidades prementes como a fome, falta de saneamento básico, saúde e educação, além de questões ambientais como o desperdício de alimentos e descarte errado do lixo, continuarão a depender dos Governos e ONGs. Mas já é evidente que a demanda por recursos é muito maior do que esses programas podem suportar. O IISA é parte da solução.
Muitos investidores individuais e famílias que administram grandes fortunas tem uma tradição de separar parte de seus recursos para investimentos com impacto social, além da parcela destinada à filantropia. Mas estas iniciativas eram feitas de maneira informal e pulverizada. Em 2001, o banco Goldman Sachs criou o primeiro fundo para investir em projetos de impacto social e, com isso, institucionalizou e parametrizou o IISA. Desde então, a companhia investiu mais de US$ 5 bilhões em comunidades americanas carentes. O Grupo de Investimento Urbano realiza parcerias com líderes e organizações sem fins lucrativos locais, com foco no desenvolvimento das comunidades, iniciativas de impacto social e financiamento para pequenas empresas.
No Brasil, a ideia é ainda recente, mas a perspectiva é positiva. Uma projeção realizada pela Força Tarefa Brasileira de Finanças Sociais , em parceria com a Deloitte, constatou que os investimentos em negócios com impacto social no País devem quadruplicar nos próximos cinco anos, passando de R$ 13 bilhões em 2014 para R$ 50 bilhões anuais em 2020. O levantamento constatou que grande expansão desse investimento será no microcrédito e de fundos de investimentos que investem em empresas com produtos e serviços que de alguma forma impactam positivamente a sociedade. No mundo todo, a expectativa é de que o valor chegue a US$ 1 trilhão, de acordo com o banco JP Morgan.
Com o intuito de alavancar os resultados dos investimentos com impacto social, há sete anos, foi criada a Vox Capital, a primeira gestora de fundos de IISA no Brasil. O fundo da Vox investe em empresas com alto potencial de crescimento e que estão causando impacto social positivo por meio de soluções para problemas reais de saúde, educação e serviços financeiros. Outro exemplo é a Artemisia (www.artemisia.org.br), instituição sem fins lucrativos, pioneira na disseminação e no fomento de negócios de impacto social no Brasil. Desde 2004, sua missão é inspirar e orientar pessoas e empreendedores a criar uma nova geração de negócios, onde o impacto social seja tão importante quanto o lucro.
Para as empresas, existe uma outra razão para entender e ampliar seus investimentos com impacto social, a atração de talentos. Os Millennials, a geração nascida a partir do início dos anos 80, demonstram uma grande preocupação com o social e o ambiental e, mais do que isso, buscam consumir produtos e trabalhar em empresas que demonstrem estas mesmas preocupações. As empresas que ignorarem o IISA certamente serão vistas como ultrapassadas e egoístas por esta geração, que tende a se tornar uma parcela cada vez maior da força de trabalho nas próximas décadas.
(Sonia Villalobos é presidente da CFA Society Brazil)