A autofagia do PMDB e do PT (III)
Diário da Manhã
Publicado em 15 de abril de 2016 às 02:45 | Atualizado há 9 anos
Os partidos principais nascidos do início da redemocratização foram o PMDB, o PT, o PDS, o PDT e o PTB. A legislação imposta pelo regime civil militar que caminhava para o fim impôs a inserção da palavra inicial Partido a todas as agremiações. Daí porque Partido do Movimento Democrático Brasileiro (sucessor do MDB). O Partido da Democracia Social foi o substituto da Arena.
O PMDB conquistou o governo de São Paulo com Franco Montoro, Minas Gerais com Tancredo Neves, Paraná com José Richa, Goiás com Iris Rezende, Mato Grosso do Sul com Wilson Martins, Espírito Santo com Gerson Camata, Pará com Jader Barbalho, Amazonas com Gilberto Mestrinho e Acre com Nabor Júnior.
Vê-se assim que em termos de contingente eleitoral o grande partido da oposição foi o mais representativo.
A ex-Arena, isto é, o PDS ficou com os governos do Rio Grande do Sul (Jair Soares), Bahia (João Durval Carneiro), Ceará (Gonzaga Mota), Maranhão (Luís Rocha), Mato Grosso (Júlio Campos), Paraíba (Wilson Braga), Pernambuco (Roberto Magalhães), Piauí (Hugo Napoleão), Rio Grande do Norte (José Agripino Maia), Santa Catarina (Espiridião Amin), Sergipe (João Alves Filho) e Alagoas (Divaldo Suruagy).
O Rio de Janeiro viu eleito seu governador Leonel Brizola (criador do PDT – Partido Democrático Trabalhista).
Faltava a eleição direta para presidente da República. Aconteceu primeiro a mudança de nomeação pelo Regime Militar para eleição indireta a fim de suceder o general João Batista Figueiredo. Marcada para 1984, candidatou-se pelo PMDB o governador de Minas Gerais, Tancredo Neves. E pelo partido do governo Paulo Maluf, governador de São Paulo. A cada dia que se aproximava dessa eleição as pesquisas divulgadas pela Folha de São Paulo mostravam que o candidato oposicionista teria vitória esmagadora.Foi o que aconteceu: 480 votos para Tancredo Neves e 180 para Maluf.
Porém, no dia que seria o da posse do presidente eleito, este veio a falecer – fato extremamente dramático para o povo brasileiro e que determinou drástica mudança nos rumos da política brasileira. A presidência da República foi assumida definitivamente por aquele que foi o primeiro dos presidentes da Arena, José Sarney, de trajetória política longa e única nos quadros da UDN, principal suporte civil do Golpe Militar de março de 1964. O político maranhense ingressou no PMDB para poder ser o candidato a vice de Tancredo no pleito presidencial indireto. Sua política econômico-financeira na presidência da República foi conduzida com desastres sucessivos e culminaram com enorme impopularidade do seu governo e, de consequência, do PMDB. Quando assumiu, o governo Sarney já era vítima de alta inflação resultante do governo militar. Concorriam para suas agruras várias crises internacionais a fim de tentar “desafogar o país” o governo Sarney viu-se compelido a criar diversos planos econômicos.
O primeiro deles, o Plano Cruzado, conjunto de medidas econômicas lançado em 28 de fevereiro de 1986, baseado no decreto-lei n° 2.283 de 27 de fevereiro, conduzido pelo ministro da Fazenda Dilson Funaro foi o primeiro plano econômico nacional após o fim da ditadura militar. Consistia de medidas que visavam: congelamento de preços de bens e serviços nos mesmos níves na data de seu início; congelamento da taxa de câmbio por um ano em 13,84 cruzados igual a 1 dólar e 20,58 Cruzados igual 1 libra; reforma monetária com alteração da unidade do sistema monetário, que passou a denominar-se cruzado (Cz$), cujo valor correspondia a mil unidades de cruzeiro; e várias outras providências que tiveram grandes reflexos na economia brasileira.
O cruzado funcionou de modo a agradar toda a população brasileira, até que ocorreu o seu fracasso. Registre-se que além de Dilson Funaro o plano contou com a colaboração do ministro do Planejamento João Sayad, os economistas Edmar Bacha, André Lara Resende e Persio Arida.
Segundo registro de economistas o plano começou a fracassar exatamente devido ao desequilíbrio dos preços relativos da economia. Por não equalizarem o valor presente dos preços, muitos produtores que corrigiam seus preços entre dia 1 a 15 do mês, ficaram com o preço tabelado abaixo da rentabilidade desejada ou até mesmo abaixo do custo de produção: algo que ou inviabiliza a venda dos produtos para o consumo ou levava a uma queda na sua qualidade. Saíram beneficiadas as empresas que reajustaram seus preços nos dias anteriores ao plano.
Outras tentativas fracassaram, com as consequências políticas traduzidas na acachapante derrota do paladino da Constituição Cidadã Ulysses Guimarães. E outras más consequências para o PMDB.
(Eurico Barbosa é escritor, membro da AGL e da Associação Nacional de Escritores, advogado, jornalista e escreve neste jornal às quartas & sextas-feira – E-mail: [email protected])