Hospital veterinário público pode se tornar uma realidade em Goiânia
Redação DM
Publicado em 7 de abril de 2016 às 02:50 | Atualizado há 5 meses
A construção de um hospital veterinário público em Goiânia é pauta de um projeto que já tem a assinatura de quase toda a Câmara dos Vereadores e aprovação do prefeito Paulo Garcia.
A construção de um hospital veterinário público pode se tornar uma realidade em Goiânia. O projeto já teve a aprovação de 32 dos 35 vereadores da cidade, que assinaram a matéria escrita e criada pelo vereador Zander Fábio, do PSL. Segundo o camarista, a ideia já tem o aval do prefeito Paulo Garcia e a intenção é levar um tratamento adequado e acessível aos animais de estimação de famílias carentes. A verba para a manutenção da instituição viria do fundo municipal de meio ambiente.
O vereador Zander reconhece que a situação da saúde em Goiânia passa por dificuldades, e que usufruir dos recursos destinados à manutenção das instituições da rede municipal para manter um hospital veterinário público pode, não só gerar certa revolta por parte da população, como também pode complicar ainda mais um quadro que o poder público busca reverter há bastante tempo. “Foi pensando nisso que o projeto também inclui a criação do Fundo Municipal Ambiental, cuja parte dos recursos destinados a esse fundo serão usados para manter a instituição”, explicou Zander, em entrevista ao Diário da Manhã.
A iniciativa, segundo Zander, dá preferência a um convênio com alguma outra instituição que já tenha uma estrutura prévia que seja capaz de receber o hospital, e a mais cotada é o Hospital Veterinário da Universidade Federal de Goiás. “Várias reuniões têm sido feitas, principalmente entre a administração do Hospital Veterinário da UFG e os membros da comissão do projeto, a fim de analisar a possibilidade de um convênio entre a instituição e a prefeitura”, relatou ele.
O vereador contou também que cada camarista tem direito a 1 milhão de reais para financiar as propostas que forem criar e, dessa forma, ele usou todo o recurso disponível do fundo para investir na execução do plano. “Além desse valor, que já foi aprovado tanto pelo prefeito quanto pelos meus colegas, teremos o Fundo Municipal Ambiental para auxiliar em gastos extras e para a manutenção da estrutura. Foi determinado que cerca de 0,3% da arrecadação para o Fundo Ambiental será suficiente para conservar ativo o hospital”.
Caso não seja possível uma parceria entre a universidade e a prefeitura, a Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa) também foi consultada. A Anclivepa já administra outros hospitais veterinários públicos, como em São Paulo e no Rio Grande do Sul, e já buscou investimento até mesmo de instituições privadas, mas sempre mantendo um convênio com o Estado, para a manutenção desses hospitais. “Se nossa parceria for com a Anclivepa, teremos que ou alugar um prédio ou construir uma estrutura que abrigue o hospital. Dessa forma, a conclusão da pauta deve demorar mais um pouco, mas estamos buscando a solução mais rápida e mais viável para executarmos o projeto”, relatou o vereador.
Para Zander, mais do que um trabalho humanitário, o hospital também terá uma função sanitária, visto que recolher animais de rua está incluído no programa. A recolha de animais de rua, a castração dos mesmos e demais tratamentos necessários a esses animais serão alguns dos serviços prestados à comunidade, além de consultas, exames, cirurgias e fornecimento de medicamentos.
O projeto do hospital visa também oferecer programas de residência, de pesquisas científicas e também para médicos veterinários que buscam se qualificar e se especializar numa área específica, através de mestrado ou doutorado. Além disso, programas de adoção responsável, onde o hospital gerencia a adoção de animais de ruas por parte de pessoas que querem oferecer um lar àqueles que antes estavam desamparados, também fazem parte da matéria criada pelo vereador.
Quando questionado sobre a possibilidade de causar insatisfação por parte das clínicas particulares, o vereador explicou que todo o projeto foi bem planejado e que determinadas situações já foram previstas e estudadas. “As cirurgias de castração, por exemplo, não serão feitas no hospital. Os animais serão encaminhados às clínicas conveniadas com a prefeitura para que os procedimentos sejam executados lá e, em seguida, as clínicas receberão do governo os valores dos custos com as operações”, explicou Zander.
Um outro Projeto de Lei, dessa vez de âmbito estadual, redigido pelo deputado estadual Bruno Peixoto, foi redigido e levado à discussão na Assembleia Legislativa. No entanto, o processo foi arquivado com a justificativa de que a decisão cabe única e exclusivamente ao poder executivo. Dessa forma, o projeto criado por Zander em 2014 é a única forma de trazer um hospital veterinário público para Goiás. “Há dois anos que o projeto foi escrito e ainda não temos a previsão de uma data para começar a executar o plano, mas a fase burocrática já está na fase final, e já temos recursos para começar a agir. O prefeito também tem pressa no projeto, então acredito que, ainda nesse ano, já teremos progressos mais palpáveis”.
Consultas
Levar o pet numa consulta com um veterinário nunca sai barato, com preços começando numa média entre R$ 50 e até R$ 100 reais por cada visita. E quando o tutor não tem condições de levar o animal à clínica, fazendo com que o médico veterinário tenha que ir até a residência do cliente, essa consulta pode sair ainda mais cara. Mas as despesas com o animal de estimação apenas começa na consulta, pois para auxiliar no diagnóstico ou a identificar o problema, muitas vezes é pedido um exame, que geram custos extras, e isso sem falar nos remédios para os tratamentos.
Muitas famílias têm condições de arcar com os custos demandados pelo cuidado com seus pets, mas existem outras que já não conseguem zelar dos seus companheiros. Famílias carentes também deixam de criar animais de estimação justamente por não poderem financiar remédios, vacinas e consultas com o médico veterinário.
A partir dessa necessidade, em São Paulo foi criado o primeiro hospital veterinário público do Brasil, e fica localizado no Tatuapé, na zona leste da cidade. A unidade vive lotada, a demanda é maior do que a capacidade, embora o atendimento seja por longas 12 horas do dia, das 7 às 19 horas. Cerca de 600 mil reais por mês são necessários para custear os procedimentos realizados pela equipe formada por 22 médicos veterinários.
Com tanta aparelhagem e com cirurgias e procedimentos delicados e caros, a prioridade precisa ser dada para quem realmente precisa. Para garantir que isso aconteça é feita uma triagem detalhada logo na recepção. Uma assistente social verifica as condições da pessoa, os ganhos entre outros detalhes para ver se ela se enquadra ou não nos que são atendidos nesse hospital. No geral, 3 pessoas são rejeitadas diariamente por não se enquadrarem.
Opinião de veterinário
O médico veterinário Alberto Corrêa Mendonça, que também é doutor em ciência animal e professor de anatomia na Universidade Federal de Goiás, apoia o projeto do vereador, mas com ressalvas. Ele que também realiza procedimentos cirúrgicos em clínicas particulares diz que o projeto é bastante relevante e de suma importância para a população. “Mas, assim como funciona em São Paulo, deve ser realizada uma triagem das pessoas que buscam o serviço para que o trabalho do hospital seja garantido somente às pessoas carentes, que não possuem nenhuma condição de pagar pela consulta ou pela cirurgia. Dessa forma, os profissionais não se sentirão lesados e não haverá nenhuma contrariedade com a implantação do hospital”, pontuou Dr. Alberto.
Ele também partilha da opinião do vereador quanto à importância sanitária do hospital, que vai tirar da rua animais doentes e que sofrem de enfermidades que infectam tanto outros animais quanto humanos. “O valor humanitário do serviço também é inestimável, tendo em vista que os tutores cujas condições financeiras não sejam favoráveis poderão dar a devida assistência aos seus animais, e poderem dar o cuidado que eles realmente merecem”, disse o professor.
Outro ponto colocado pelo médico é a necessidade de se fazer uma unidade completa, que seja independente. “Apenas consultas e cirurgias são serviços insuficientes, porque a maior necessidade numa clínica é a aparelhagem, que geralmente é cara, para se fazer exames, que consequentemente, são caros também. Para se ter uma ideia, uma tumografia custa mais de mil reais. Mas esses exames são fundamentais para auxiliar o profissional a diagnosticar o paciente e para evitar erros médicos. Então o hospital deve realizar, no mínimo, radiografias, exames cardiológicos, tumográficos e laboratórios para analisar amostras de sangue, fezes, urina, pele e uma série de outros exames. Além de demandar bastante verba e profissionais especializados, fazer um hospital assim demanda bastante pesquisa também”.