A Sophia, a Dilma e a vagabunda
Redação DM
Publicado em 29 de março de 2016 às 03:30 | Atualizado há 9 anos
Em janeiro eu havia prometido, e o misericordioso leitor assíduo talvez se lembre, que escreveria apenas um artigo por mês sobre a minha filha caçula, a Sophia Penellopy, 7 anos, portanto, apenas 12 vezes por ano e, como o mês de março já se vai, eis-me aqui tentando cumprir a promessa, após vários dias de jejum e sofrimento, num deserto de inquietações de ser ou não ser e, lógico, não conseguindo me conter vou contar, mais uma vez, que após o falecimento da minha querida mãezinha, a dona Jô, Joventina Maria Gonçalves Dias, em março de 2014, expliquei a Sophia – pois foi o primeiro sepultamento que a precoce assistiu – à época, com 6 anos, que a vovó, o espírito dela, havia se mudado para o céu. Ela me fez inúmeras perguntas sobre Deus, Jesus Cristo, Trindade, Diabo, Inferno, a Bíblia, enfim, fiquei impressionadíssimo com a quantidade de questionamentos, digamos, teológicos e, não é que dois dias depois, para o meu espanto, ela finalizou a Oração do Pai Nosso assim:
E abençoe todas as pessoas que estão aí no céu com o Senhor e principalmente o Senhor mesmo, e tenha uma boa luta.
Ela continua orando desta forma e eu, como já comentei aqui também, nunca proferi a palavra amém com tanto apreço e introspecção porque sempre me lembro da mamãe, Dona Jô, que um dia, ou melhor, uma madrugada, após confessar-lhe que eu estava desgostoso com a vida e com a iniquidade reinante, ela me disse calmamente:
Filho, se eu tiver o privilégio de estar diante de Deus vou ter muito mais perguntas do que agradecimentos.
Fiquei perplexo na hora e depois fui tão ridículo que até hoje me arrependo amargamente, porque perguntei se havia lido esta frase em algum lugar, em algum romance e ela, com a sua humildade e amabilidade peculiares respondeu que não, que era de sua autoria. Inúmeras vezes, em inúmeros lugares, repito a frase saudando a madre que me concebeu.
Para finalizar e fazer jus ao título vou contar: eu estava na quitanda, conhecidas, atualmente, como varejões, quando encontrei com o André, cujo nome completo prefiro não mencionar para não implicá-lo num eventual processo que algum cretino me mova alegando que estou desrespeitando um símbolo ou a moeda nacional, sei lá, então, só posso dizer que ele trabalha na padaria onde compro o pão de cada dia: Nossa Senhora da Aparecida. Sim! É o nome da padaria e um clamor para que nenhum processo ocorra! Brincadeirinha e, voltando, o André é uma pessoa cativante e muito amado pelas crianças. Cuida da segurança sem manter aquele olhar carrancudo e desafiador dos seguranças. A Sophia Penellopy o adora. Bem, quando soube do artigo que assinei e foi publicado aqui, neste matutino vanguardista, sobre aquela mulher que é estampada em todas as cédulas, em todas as notas e cunhada nas moedas de um real, cuja identidade 99% da população desconhece porque, afinal, nem o nome da vadia aparece, aquela que alguns arriscam dizer ser a princesa Isabel, que eu apelidei de vagabunda no artigo intitulado: Sobre a vagabunda novamente!, então, perguntei quem ele acha que deveria estar estampada nas tais notas e ele prontamente respondeu:
Por que o senhor não escreve uma carta para a Dilma Rousseff sugerindo que ela substitua a tal desconhecida pelo rosto lindo da Sophia Penellopy?
O que o misericordioso leitor acha da ideia? Até.
(Henrique Gonçalves Dias, jornalista)