Cultura

Pequenos leitores, grandes universos

Redação DM

Publicado em 5 de abril de 2016 às 02:02 | Atualizado há 8 meses

Um momento importante na construção de um bom leitor é obviamente a infância. A literatura infanto-juvenil traz consigo uma enorme responsabilidade de lidar com a magia da infância e com o aprendizado para a “vida real”.Lígia Cadermatori, que estuda a importância da literatura infantil, explica como os estudiosos definem do que se trata esse gênero literário: “Vários teóricos, entre eles Peter Hunt, estabeleceram uma característica distintiva a partir da qual se pode conceituar o que é literatura infantil: o livro para crianças pode ser definido a partir do leitor implícito – isto é, a partir do tipo de leitor que o texto prevê. Os principais traços do leitor implícito do texto infantil são: um leitor em formação e com vivências limitadas por força da idade”.

A escritora Ivone de Assis conta sua experiência como autora infantil “Como escreveu Tzvetan Todorov “Contar é igual a viver”. Então, é o que sinto. Enquanto narro uma história, estou reinventando a vida. O bom é que podemos dar o final que queremos dar. No momento da escrita é como se fôssemos o criador do destino da personagem. Mas, quando o livro vai para as mãos desses leitores, que estão descobrindo o mundo, eles arrancam ideias tão incríveis de lá, que ficamos a dizer: “Como são bons!”.

Ivone escreveu uma versão bem século XXI do clássico “Chapeuzinho Vermelho”, colocando o elemento que alcança as crianças de hoje, a internet. “A adaptação do clássico de Charles Perrault foi em uma época em que as redes sociais ainda estavam despontando no Brasil, isso fez com que a obra ganhasse uma proporção interessante. Com o tempo, percebi que o leitor vai muito além da wi-fi em uma leitura de contos, e é esse “entrelinhas” que me encanta na produção literária”. Além de Bonezinho Vermelho, Ivone de Assis escreveu O medo do escuro

Existem livros e autores infanto-juvenis brasileiros que ficaram para sempre consagrados pelas academias literárias e corações e mentes de crianças de muitas gerações. Tais como: Pedro Bandeira, Ziraldo, Monteiro Lobato, Ana Maria Machado. Mas existem ótimos livros desse gênero literário de autores goianos que deveriam ser reconhecidos. Segue uma pequena lista, de três títulos de autores goianos para crianças e adolescentes:

Alice no país de Cora Coralina

Pegando uma carona em um dos títulos mais lidos do mundo “Alice no país das maravilhas” de Lewis Carrol, temos a versão comedora de pequi dessa menina que descobre um mundo a parte, Alice no país de Cora Coralina da autora goiana Augusta Faro. Alice conta sua aventura na Cidade de Goiás. Podemos descobrir todas as histórias e lendas da antiga Vila Boa. O porquê dos nomes de igrejas, ruas, rios, pessoas e até dos morros que cercam a cidade. Alice nos mostra músicas e poemas de Cora e outros ícones regionais que marcaram a história do povo vilaboense. Farricocos, Procissão das Almas, Índios Goyazes, Igrejas, Praça do Chafariz e do Coreto, ruas e becos de pedra, construções feitas pelos escravos… Enfim, toda a história da antiga capital de Goiás.

A Transformação de Joca

Do autor goiano Hector Ângelo Melo Briet de Almeida, abordando as dificuldades de se adaptar a escola e o sentimento de isolamento, fato comum a muitas crianças.  A Transformação de Joca narra a angústia de um menino que estuda em uma escola onde os professores e os colegas não se interessam por ele. Juca ainda vive o drama de não ser amado pela mãe, mas com ajuda mágica consegue encontrar a escola de seus sonhos e sua vida se transforma.

Ana Pedro

O nome do autor deste livro é Miguel Jorge, também criado nessa Goiânia. Em seu livro ele aborda a questão do machismo e conflitos de gênero. Ana torna-se Pedro no dia do nascimento porque Thomás, o pai, exige da mãe Madalena um menino momentos antes do parto. A parteira apresenta ao pai a nudez de outro menino, Ruiter, nascido no mesmo dia. Thomás sentiu-se mais homem e Ana abdicou de sua feminilidade. Pedro cresceu sob os olhos orgulhosos do pai e com ele aprendeu as artes do universo masculino. A adolescência, porém, explodiu e com ela os sinais da existência de Ana. Pedro quer ser Ana, sem perder o amor do pai. E este terá que enfrentar o seu monstro interior: o autoritarismo.

Das histórias mundiais que foram traduzidas em centenas de línguas e conquistaram crianças de culturas muito diversas, existem títulos inesquecíveis. E os autores clássicos brasileiros Ziraldo e Pedro Bandeira, por exemplo, que nunca devem faltar na estante de um pequeno leitor:

Pequeno Príncipe (França)

Do francês Antoine de Saint-Exupéry. Um piloto cai com seu avião no deserto e ali encontra uma criança loura e frágil. Ela diz ter vindo de um pequeno planeta distante. E ali, na convivência com o piloto perdido, os dois repensam os seus valores e encontram o sentido da vida. Livro mais traduzido da história, depois do Alcorão e da Bíblia.

O Menino Marrom (Brasil)

A história de um menino marrom do autor Ziraldo, mas que fala também de seu amigo, um menino cor-de-rosa. São dois perguntadores inveterados que querem descobrir juntos os mistérios das cores. “Quem inventou que o contrário de preto é branco?”.“Se um de nós é marrom e outro não é exatamente branco, por que nos chamam de preto e branco?”. São muitas as perguntas, e muitas serão as descobertas.

A Droga da Obediência (Brasil)

O livro é o primeiro da série de personagens “Os Karas”. O criador chama-se Pedro Bandeira, e o livro conta as aventuras deste grupo de adolescentes corajosos e questionadores. Na história, eles acabam se envolvendo em um perigoso enredo com a droga da obediência, descrita como uma droga muito perigosa, cujo efeito é que quem a usar se torne “fiel como um cãozinho”.


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