Cultura

Um sonho real

Redação DM

Publicado em 24 de março de 2016 às 21:26 | Atualizado há 9 anos

 

O ano era 1996 e à esta época os estudantes Nando Rocha, Pablo Angelino, Ruber Paulo, Maira Brisa e Miguel Jabur, perambulavam o colégio Lyceu de Goiânia – onde cursavam o ensino médio – com um sonho em comum: criar um grupo de teatro e porque não o próprio teatro? E, a coisa aconteceu. Lá mesmo criaram o Ritual Produções Artísticas, que logo se tornaria o Grupo Sonhus Teatro Ritual. Em uma época que professores e escolas de arte eram escassos, o grupo foi tomando para si o cargo da formação artística e, daí podia-se ver que aquela iniciativa era bem mais do uma brincadeira de adolescentes.

Aos poucos o grupo criou na área anexa ao Lyceu de Goiânia, o Espaço Sonhus, que se tornou um solicitado centro cultural E como companhia, o grupo se profissionalizou com a produção de 25 espetáculos, que  rodaram parte do Brasil e oito lugares do mundo. Por isso, a segunda década completa cheio de projetos, inclusive com três livros prontos para serem publicados este ano. Ou seja: motivos não faltam para celebrar.

Como não poderia ser diferente, o grupo – atualmente formado por Nando Rocha, Pablo Angelino, Jô de Oliveira e Lorrana Flores – vai comemorar esta trajetória no palco, encenando hoje, amanhã e domingo no Teatro Goiânia, sempre às 20h, um dos seus espetáculos mais aclamados e viajados:

Q.Q.ISS?! As Aventuras de Pendú e Camí – Do Outro Lado da Lua e do Arco Íris. Este espetáculo mostra como o grupo de estudantes evoluiu em uma companhia competente. Pois, além de galgar mais espaço para arte, sabe ainda emocionar o público ao contar uma história, mesmo sem dizer uma só palavra. Q.Q.ISS?! pura mímica e efeitos visuais.

Para produção da montagem convidaram alguns artistas especialistas deste tipo de linguagem reconhecidos nacionalmente. Um deles é o mímico  Miquéias Paz, que assina a direção. O outro nome famoso da ficha técnica é o do paulista Luis Louis, que, inclusive,  ajudou na preparação do elenco da minissérie global

Hoje É Dia de Maria. O peça tem ainda o mérito de ser embalada por duas obras primas. Uma delas é o disco da banda londrina Pink Floyd: The Dark Side of The Moon (1973). A outra influência é o filme O Mágico de OZ (1939) na versão de Victor Fleming, para o clássico do escritor L.Frank Baum.

É por  conta destas influências e da presença do palhaço, da mímica e de uma linguagem cômica-visual, que o grupo transforma uma trama singela – , que poderia se encaixar muito bem em uma peça infantil – em uma profunda reflexão filosófica. Tudo isso ocorre a partir da perspectiva de dois espantalhos –  Pendú e Camí -, que descobriram o poder de suas pernas, e estão prestes a descobrir o mundo. Vale muito embarcar neste sonho.

Entrevista Nando Rocha – um dos fundadores do Grupo Sonhus Teatro Ritual.

DMRevista: Por que celebrar estes 20 anos do grupo é um ato de resistência?

Nando Rocha: Manter um trabalho continuado e coletivo por tantos anos seguidos é um desafio. Tanto do ponto de vista da convivência, da como do ponto de vista econômico-financeiro, e, principalmente, do ponto de vista criativo, artístico. Ademais estamos no Brasil e em Goiás. Se fosse na Europa, talvez não seria tão difícil perdurar juntos por duas décadas, pois além do fator sócio-econômico, predomina uma outra relação com a cultura e com a arte por lá. Nos EUA, a segunda maior fonte de arrecadação para o PIB norte-americano provém da industria cultural (especialmente o cinema e o teatro), vindo atrás apenas da industria de produção de aeronaves.

DMRevista: Como o grupo foi parar no Colégio Lyceu de Goiânia?

Nando Rocha: Eu, Pablo Angelino, Ruber Paulo, Maira Brisa e Miguel Jabur éramos alunos do ensino médio no Lyceu em 1996. Nos conhecemos nessa ocasião e começamos a fazer teatro juntos. Fundamos o grupo, que se chamava na época “Ritual Produções Artísticas”. Foi uma revolução cultural na escola na época. Assim que terminei o ensino médio, em 1998, fui convidado pelo então diretor Miguel Carlos para lecionar teatro na escola. Fui contratado pelo Estado através da Secretaria de Educação em 1999, quando não haviam professores de teatro na rede, nem tampouco concursos públicos para professores de teatro. Não existia nem a faculdade de artes cênicas, nem o curso técnico em teatro do Basileu França. Logo em seguida o Pablo também foi contratado como professor de teatro no Estado. Assim nossa história foi andando pareada sempre com a Educação. Acho que não foi de todo uma escolha nossa, ou apenas nossa.

DMRevista: Como chegaram à escolha do álbum The Dark Side Of The Moon?

Nando Rocha: O álbum “The Dark Side of The Moon” é um ícone pop e criou-se uma lenda sobre assistir o filme “O Mágico de Oz” de 1949,  junto com este disco. As duas obras interagem perfeitamente, dando outros sentidos para as cenas do filme ou mesmo para as músicas. Como nosso personagem é um espantalho e, de certa forma, também nos inspiramos na obra de Victor Fleming e pelo fato de não encontrarmos à época algum sonoplasta que correspondesse com composições originais que queríamos para o espetáculo, resolvemos então experimentar assistir um ensaio nosso gravado ouvindo o álbum. A nossa surpresa foi tamanha ao perceber que as músicas complementavam o sentido das cenas inclusive com as letras (mesmo em inglês) que expandia a dramaturgia como um todo. Para nossa surpresa o espetáculo hipnotiza as crianças que adoram tudo e ainda limpam os ouvidos escutando um rock progressivo de primeira.

SERVIÇO

Apresentação do espetáculo Q.Q.ISS?! As Aventuras de Pendú e Camí – Do Outro Lado da Lua e do Arco Íris – Sonhus Teatro Ritual

Quando: De hoje a domingo, às 20h

Onde: Teatro Goiânia

Ingressos: R$20 (inteira) e R$10 (meia)

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