Opinião

Chaul no chá das cinco

Redação DM

Publicado em 24 de março de 2016 às 02:24 | Atualizado há 9 anos

Sou amigo do doutor Nasr Fayad Nagib Chaul, o educado, culto, articulado, competente e simpaticíssimo professor Chaul da Universidade Federal do Estado de Goiás (UFG), como tantos o conhecem. Portanto, tudo que eu venha a discorrer neste artigo, será pouco diante do meu respeito, admiração e gratidão por tanto aprender com seus conselhos e convivência.
Chaul possui uma ligação forte com a cultura do Estado de Goiás, tendo o respeito de todos os segmentos. Ele sempre colocou a cultura fora do alcance das picuinhas políticas, preservando-a de interferências que pudessem macular sua relação com todos os segmentos do Estado. Sem sombra de dúvidas, é aí que esta a razão do sucesso em sua passagem pela Agência Pedro Ludovico Teixeira (Agepel), Centro Cultural Oscar Niemeyer (CCON) e, agora, na Superintendência de Cultura da Seduce.
A sabedoria de Chaul está na certeza que para se fazer cultura é necessário, primeiro, ter profundo amor e respeito pela mesma, pois antes dos cargos públicos e suas ações (nem sempre as que esperam), deve existir a perfeita sinergia com todos os segmentos que a compõem e que possuem a mesma ideologia.
Além do excelente professor de história da UFG, do secretário de Estado, encontra-se obras literárias de grande relevância de sua lavra, com a participação de outros grandes historiadores, dentre as quais destaco:
Histórica Política de Goiás (2009), com Luís Sérgio Duarte, rediscutem conceitos básicos da historiografia goiana; História Política de Catalão (1994), escrita com Luiz Palacin Gomez e Juarez Costa Barbosa, apresenta-nos três ensaios sobre a cidade, oferecendo-nos conhecimentos sobre as raízes que deram ao município a fama de violento, com o mando do coronelismo e da oligarquia; A Construção de Goiânia e a Transferência da Capital (1999), torna-se uma obra necessária para alunos, professores de história e estudiosos da história regional, pois discute de maneira singular os aspectos econômicos, do desenvolvimento do Centro-Oeste, questões das terras e dos operários que trabalharam na construção de Goiânia; Caminhos de Goiás: da construção da decadência aos limites da modernidade (1997, 2002), é dividida em quatro capítulos que alternam a teorização e análise historiográfica de Goiás, baseando-se em conceitos de viajantes que percorreram o Estado no século XIX, relatando que o atraso era fruto de interesses de grupos conservadores, evidenciando a construção da nova capital como fator primordial da modernidade; Coronelismo em Goiás: estudos de casos e famílias (1998), relata um estudo minucioso das famílias de coronéis de Goiás, compreendendo o período de 1889 a 1930, discorrendo sobre a política e cotidiano da época e a intervenção política dos Caiado em Goiás; Goiás: Identidade, Paisagem e Tradição (2001), ajuda-nos a pensar a História Regional e seus desafios para o próximo milênio, somando aos esforços de tantos na busca de traduzir um pouco da história do nosso, ainda, desconhecido Estado de Goiás.
No que concerne as suas obras literárias, professor Chaul possui em seus livros uma gama de informações que dificilmente conseguiremos encontrar em vários outros. A peculiaridade de sua escrita está na pesquisa meticulosa, na atenção redobrada no que se que escreve, na narrativa concisa e agradável ao leitor e na riqueza de detalhes, elementos indispensáveis a um bom escritor.
Professor Chaul é um visionário, empreendedor, criativo e ousado, adjetivos que fez com que ele realizasse a maior revolução nas ações culturais do Estado, quando esteve à frente da Agência Pedro Ludovico Teixeira (Agepel), no primeiro governo de Marconi Perillo. Os que o sucederam, diante de várias razões que não me cabe nominá-las, não conseguiram manter o seu ritmo e sequer o que ele tinha implementado.
Tornei-me próximo e amigo de Chaul, quando fomos colegas na Assessoria do então senador Marconi Perillo (2007 – 2010), mais precisamente no escritório de representação política em Goiânia. Na vitória do senador para o seu terceiro mandato de governador, convidou este timoneiro da cultura goiana para assumir o abandonado Centro Cultural Oscar Niemeyer (CCON), que se apresentava com infindáveis problemas de ordem estrutural (pelo abandono) e sem nenhuma proposta consumada para o seu pleno funcionamento. Fui convidado por ele para este desafio e muito me honra ter feito parte de inúmeras conquistas, ao lado de outros grandes profissionais, que evidencio-os em nome do atual gestor do CCON, professor Lisandro Nogueira, também dos quadros da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Ao assumir o CCON, Chaul encontrou mais do que problemas. Deparou-se com uma gigantesca obra, com vários problemas estruturais pelo abandono do governo anterior; a dependência e subordinação a Secretaria de Estado da Casa Civil, onde encontramos muitas dificuldades e pouquíssimo interesse, diga-se de passagem, em nos ajudar. Mas por sorte sempre tivemos a atenção de dois presidentes de autarquias e um secretário de estado, onde faço questão de nominá-los: Luiz Bittencourt (Agecom), José Taveira (Fazenda), Jayme Rincón (Agetop), além do governador que esporadicamente despachava lá e era o momento que tínhamos, para expor as dificuldades e solicitar o seu auxílio, que sempre vieram ao seu tempo.
Fomos, no período de 2011 a 2015, graças ao comando firme de Chaul e sua pequena equipe, quem mais obteve mídias positivas na imprensa local, mais capas de jornais e revistas. Enfim, tivemos uma grande evidência pelas ações empreendidas. Todas, fruto de parcerias, trabalho exaustivo, comprometimento de seus colaboradores e muita criatividade. Aqui vale o adágio: quando se quer fazer, arruma-se um jeito, quando não, apresenta-se desculpas. O atual gestor, professor Lisandro, tem encontrado muitas dificuldades, mas possui o mesmo ideal e determinação de Chaul e demonstra muita competência e sucesso em suas ações.
Mas o ponto crucial que discorro neste artigo é quanto à minha alegria em saber que Nasr Nagib Fayad Chaul irá se candidatar a uma futura vaga na Academia Goiana de Letras (AGL), na Cadeira número 3, que tem como patrono Pe. Luiz G. Camargo Fleury, e que tinha como titular o escritor e pesquisador Humberto Crispim Borges, falecido em 10 de dezembro de 2015.
Sem mesmo saber quem poderá a vir concorrer com ele para esta cadeira e respeitando quem a pleiteia, creio que Chaul seja merecedor dela, que aliás, há muito já deveria ter ingressado neste templo de sabedoria da cultura goiana, onde tenho grande respeito e admiração por todos os seus imortais.
Conheço bem a AGL, pois iniciei um trabalho de depoimentos com seus acadêmicos, onde ao lado do velho amigo e irmão Luiz de Aquino, imortal da Academia, vinte entrevistas que me marcaram muito, cada uma com sua peculiaridade, onde falaram de maneira descontraída, sobre suas vidas, obras e assuntos de interesse da literatura goiana. Espero muito poder continuar este trabalho, no que conto com o apoio da nossa secretária de Estado, professora Raquel Teixeira.
A Academia Goiana de Letras sempre foi tocada por aguerridos presidentes, que encontram à sua frente problemas de toda sorte, principalmente, os financeiros, mas que colocam o amor a literatura e as artes à frente de toda a problemática. É preciso voltarmos a atenção aos mesmos e de alguma forma instigar que a mesma possa atuar de maneira mais incisiva na cultura goiana, pois o que não falta nela é a inquestionável capacidade de seus acadêmicos.
Temos uma visão distorcida das Academias, onde a vemos como um templo de velhos escritores que se reúnem para discussões literárias. Mas sua atuação é importantíssima para o fortalecimento da cultura goiana e para que se torne mais atuante, falta-lhes tão somente incentivos, que diante dos seus resultados são irrisórios, pois grande parte do trabalho é voluntário.
A possibilidade de ingresso de Nasr Chaul é um alento para que muitas ações poderão ser empreendidas, pois ele se tornará parte dela. Creio na sua capacidade, decisão de somar e acima de tudo de ajudar na transformação e conquistas que tanto anseiam nossos imortais.
Caro amigo professor Chaul, receba mais do que meu desejo de sucesso nesta tentativa, mas a minha vibração para que os acadêmicos acolham seu ingresso, na mesma proporção que você sempre abraçou as causas da cultura goiana.
Estou na torcida por você!

(Cleverlan Antônio do Vale, graduado em Gestão Pública, Administração de Empresas, pós-graduado em Políticas Públicas e Docência Universitária, doutorando em economia, articulista do DM – [email protected])

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