Cultura

Moda, televisão, política e irreverência

Redação DM

Publicado em 17 de março de 2016 às 00:34 | Atualizado há 7 meses

 

Filho adotivo de imigrantes espanhóis, Clodovil nasceu em 1937 na cidade de Elisário, São Paulo. Ao lado de outros estilistas de sua geração, é citado como um dos responsáveis pela criação da identidade brasileira na moda. Como apresentador de TV, era visto como uma figura polêmica, que não evitava tocar em assuntos delicados. Comandou atrações em várias redes: Globo, Manchete, CNT, Bandeirantes, Gazeta, entre outras. Na política, foi eleito deputado em São Paulo com a terceira maior contagem de votos das eleições de 2006. Morreu em 2009, aos 71 anos, sem concluir o mandato, devido a um AVC. Nos últimos anos de sua vida, com a saúde fragilizada, passou por vários procedimentos cirúrgicos.

Começou a trabalhar nos anos 1950 como professor de desenho no interior do Paraná. Mudou-se para São Paulo no objetivo de estudar Filosofia. Desistiu da ideia para dedicar-se à moda, pois tinha facilidade em desenhar vestidos. Nos anos 1960, começou a trabalhar como costureiro. O contato íntimo e habilidade com a máquina de costura desde o início justificam o perfeccionismo e unicidade de suas criações. Em setembro de 2015, Clodovil foi tema do programa ‘Universo da Moda’, veiculado pela emissora Mega TV de São Paulo. O estilista é descrito como uma das figuras mais importantes da moda brasileira, ao lado de nomes como Zuzu Angel e Dener Pomplona de Abreu.

Para o professor de moda Vagner Carvalheiro, Clodovil e outros estilistas passaram a dar personalidade às roupas de suas clientes nos anos 1960. Antes disso, a moda que circulava o país era praticamente uma reprodução do que existia nos grandes polos mundiais. “A partir do momento em que eles estudavam os clientes deles, criava-se uma moda brasileira. Eles não copiavam, literalmente. Eles faziam a coisa pensando na pessoa: uma roupa sob medida e exclusiva”, afirma. Wagner comentou ainda os esforços de Clodovil para que a moda se tornasse algo mais acessível. “Ele tinha uma preocupação muito grande de que as pessoas mais simples pudessem vestir suas roupas”.

Wagner Carvalheiro ressalta ainda a materialização da habilidade de Clodovil em suas peças, e afirma que seu perfeccionismo fazia com que algumas roupas pudessem ser vestidas até do lado avesso. “Estudo as roupas dele muito pelo avesso. O avesso do Clodovil é inconfundível. Ele tinha uma equipe muito pequena, mas de muita qualidade”. Para o professor, o trabalho de Clodovil pode ser dividido por década, com destaque para o acabamento das peças, sua marca registrada. “Nos anos 1970 ele trabalhou com a cor, nos anos 80 com volume, e nos anos 90 ele se preocupava com o movimento e a fluidez: a parte de baixo dos vestidos era mais leve”.

Personalidade

Quando foi eleito deputado federal em 2006, Clodovil prometeu que Brasília jamais seria a mesma depois de sua passagem por lá. Conduziu sua campanha eleitoral na televisão de forma irreverente: “Eu não vou prometer nada. Eu vou denunciar aquilo que passar pela minha frente”. Também disse que a política brasileira era antiquada, e que pretendia mudar tudo. Fez piada até mesmo com seu número, 3611. “Por que eu escolhi o 11? Meu amor, porque o 24 já era, agora é um atrás do outro”.  Chegou à Capital Federal com 493.951 votos, o que representa mais de 2% do total, número bastante expressivo para um deputado.

Em seu testamento, deixou seu último desejo registrado: criar uma fundação com o nome de sua mãe – Isabel Hernandes – parte de um extenso projeto que seria conhecido como ‘Casas Clô’. Segundo sua advogada e amiga, Maria Hebe, ele deixou tudo arquitetado. “Uma casa cor-de-rosa que abrigaria meninas órfãs para que elas tenham educação básica. Desde aprender a pregar um botão, até ao estudo, o ensino, se possível, universitário”. Em entrevista, o chefe de seu gabinete em Brasília, Maurício Petiz, revelou que o maior medo de Clodovil quando o assunto era morte estava relacionado à saudade que sentia de sua mãe: “Ele tinha medo de se perder da mãe no universo”.

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