Opinião

A grande imprensa e a Lava Jato

Diário da Manhã

Publicado em 24 de fevereiro de 2016 às 00:08 | Atualizado há 9 anos

Há três ou quatro semanas foi divulgada a participação dos partidos políticos nos fatos que se acham sob investigação da Polícia Federal, com a denominação de Operação Lava Jato. Pela relação tornada do conhecimento público ficou-se sabendo que o partido político com maior número de membros envolvidos nas apurações é o Partido Progressista (PP), grande aliado do PSDB, com 32 dos seus integrantes. O PMDB e o PT entram com oito cada um, outros partidos menos expressivos completam a lista de 47 investigados, deles fazendo parte inclusive um do PSDB.

Por que a grande mídia não dá enfoque a essa realidade tão deprimente para o quadro político nacional?

Tal comportamento midiático é revelador do facciosismo mais deplorável. A opinião pública, sobretudo aquela constituída pelas parcelas menos conscientes da história política brasileira é induzida a uma visão errônea das responsabilidades pelos fatos que escandalizam o povo brasileiro e muito mal também repercutem no exterior.

Um grande jornalista, que considero um dos paradigmas da nossa melhor imprensa, é Mino Carta. Ao contrário de muitos profissionais do jornalismo que simulam e dissimulam a fim de ocultar suas posições ideológicas reacionárias e golpistas, o competentíssimo diretor de redação da Revista Carta Capital projeta e analisa os fatos políticos com absoluta isenção e honestíssimo espírito crítico. Seu nome honra e dignifica o quadro de colaboradores do Diário da Manhã.

É notório que alguns dos políticos brasileiros cuja história não os recomenda à admiração das camadas conscientes do povo brasileiro, estão a agir no sentido de tirar proveito da crise moral e econômica que domina sobretudo o noticiário da mídia nacional. Esse noticiário os ajuda com a omissão proposital de importantes verdades históricas. Há quanto tempo não se fala em Daniel Dantas? Pois esse amigo e protegido de Fernando Henrique Cardoso, tão notabilizado por falcatruas que se viu condenado pelo juiz Fausto De Sanctis a 10 anos de prisão, foi tão beneficiado por outro amigo de FHC, o ministro Gilmar Mendes, que este anulou aquela condenação e o respectivo processo em famigerada decisão no Supremo Tribunal Federal. Os erros e os crimes do tucanato não existem nas notícias e nas análises dos que Mino Carta qualifica de “perdigueiros da informação”. No penúltimo número de Carta Capital afirma Mino Carta:

“Quanto à fazenda, fazendeiro mesmo é Fernando Henrique Cardoso e de jatinho a de voar Aécio Neves, ao certo sei que dispõe de campo de pouso.

Está claro que de FHC e de Aécio não é admissível suspeitar: postam-se na proa da fragata tucana e, portanto, são intocáveis. Seu partido tornou-se de fato o mais perfeito intérprete dos ideias da direita mais reacionária do País. O Partido da Social Democracia Brasileira, e já aí nos defrontamos com uma piada. Nunca houve quem ousasse perguntar-se como um professor universitário seja proprietário de um apartamento paulista, e de uma fazenda de boa extensão, fruto de uma obscura história a envolver um certo Jovelino Mineiro de turva memória. O único filho de FHC (o outro dele não era) andou metido em aventuras estranhas e eu não esqueço as excelentes relações que o ex-presidente mantinha com Daniel Dantas, o banqueiro do Opportunity, deliberadamente favorecido pelo então presidente do BNDES, Luís Carlos Mendonça de Barros, por ocasião da bandalheira da privatização das Comunicações.

Tive a oportunidade de ouvir a gravação dos grampos das conversas telefônicas entre Mendonça de Barros, André Lara Rezende e Pérsio Arida e parte mais significativa Carta Capital publicou em 25 de agosto de 1998, ecoada obviamente pelo estrondoso silêncio da mídia nativa. Ouvi claras referências à manipulação dos resultados da privatização a favor ‘dos italianos’ e portanto de Dantas, admitida a possibilidade de recorrer caso necessário, à ‘bomba atômica’, ou seja, o presidente Fernando Henrique Cardoso.”

Voltarei ao assunto depois de amanhã.

 

(Eurico Barbosa, escritor, membro da AGL e da Associação Nacional de Escritores, advogado, jornalista e escreve neste jornal as quartas & sextas-feiras – E-mail: [email protected])

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