Será siriema?
Diário da Manhã
Publicado em 14 de março de 2016 às 00:03 | Atualizado há 9 anos
Tudo o que via em programas populares ele tentava imitar. Olhos esgazeados, nariz adunco, pescoço de garça, uma larga e cínica boca de sapo. Um arremedo canhestro de gente. Contudo, era duro na queda, não dava braço a torcer. Às vezes tentava esboçar um sorriso, mas o tique nervoso fazia-o tremelicar como se tivesse chupando limão.
O lema que o levava ao êxtase era o do rei do rock: Elvis Presley. Chubby Cheker, o rei do Twist, era parte integrante. Neil Sedaka com Oh Carol levava-o às lágrimas e a voz lhe saía desgraçadamente ruim ao solfejar a famosa versão de “Oh Carol, eu sou apenas um tolo, querida eu te amo, apesar de você me tratar mal”… Até aí a coisa ia às gatas, a gente aturando a dissonância nos arranhar os tímpanos, mas logo a porca torcia o rabo na hora de abrir o peito com notas mais altas, e o pior, em inglês: “Darling, there will never be another”… Às vezes, ele esticava ou aproximava a mão esquerda ou direita e nesse movimento a voz acompanhava em agudos ou graves. No agudo parecia um garrote sendo castrado com os olhos num reviramento de quem vai desmaiar e no grave, o mesmo garrote, agora um boizão inteiro, convidando vaca pra ir pro brejo. O motivo disso ninguém sabe, nunca soube e jamais lhe foi perguntado por medo de levar um coice já que ele era mais bruto que argola de laço.
Mas o que ele mais gostava, o que lhe tirava o sono era o corte do cabelo, o bigode e o andar dos cowboys. Tocava-lhe fundo o cabelo do Elvis, com aquela mecha as vezes derramando na testa. Tentou usar bigode e não teve muita sorte. Primeiro imitou o do fidalgo Dom Quixote e não gostou por achá-los muito espessos; À la Clark Glabe também não, as meninas acharam que ele era xibungo. Os do artista da Catalunha, Salvador Dali, lhe deram uma tremenda dor e inchaço no beiço de riba depois que topou com a ronda noturna e o policial acudiu pensando que duas lagartixas estavam entrando na boca dele e resolveu, educadamente, livrá-lo daquele mal, agarrando os rabos, isto é, ambas as pontas curvas e finas com a delicadeza própria dos componentes da ronda puxando-as com o carinho necessário de se livrar alguém do furioso ataque dum calango.
E o John Wayne andando até ao balcão do saloon quebrando o chapéu na testa e virando no queixo a garrafa de uísque? Que andar de macho, cruz credo!
Ninguém até hoje conseguiu, por mais que se pesquise nos compêndios especializados, nos anais científicos ou nos almanaques de elixir paregórico a razão, frize-se, pela qual se opte por um penteado tão estrambótico. Se fosse para desfile carnavalesco, vá lá, mas o mandruvá de argola adotou-o como coisa normal, mas logo desejou que se abrisse um buraco prele sumir no mundo ao passar por uma Maria Chiquinha de uns seis aninhos que estava vindo do zoológico e assim que ela avistou aquela bizarrice se escondeu detrás da mãe apontando o dedinho na direção do topete de siriema, exclamando: Mããeee, a siriema fugiu do zológio, mãe!
(Alcivando Lima – [email protected])