Garota de Berlim

Nascida na Alemanha Oriental, em um país dividido ao meio, Nina Hagen atravessou o muro de Berlim em 1976, aos 21, devido a problemas políticos de seu padrasto, que também era músico. Problemas com o governo da Alemanha eram comuns na família de Hagen. Seu avô, judeu, foi morto em um campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Nina é uma das pioneiras na adição de elementos líricos ao rock. Sua educação musical foi responsável por isso. Aos 13 anos já era considerada uma revelação da ópera. Conhecida principalmente por sua voz potente, visual excêntrico e habilidade cênica, a artista já viajou o mundo ao longo de 40 anos de carreira.

Com mais de 15 álbuns de estúdio lançados, Nina já explorou vários estilos musicais. Ás vezes é chamada de ‘avó do punk’, mas não restringe-se ao rótulo. Nos trabalhos de Nina Hagen, podemos nos surpreender com elementos de rock clássico, punk rock, blues, música eletrônica, música erudita e até mesmo reggae. Ela surge no auge do Punk, e em 1977 já vivia o clima  excitante da cena de Londres ao lado de nomes como Johnny Rotten (da banda Sex Pistols), Ari Up (da banda The Slits) e Lene Lovich. O tempo que passou na capital britânica em contato com a cultura punk influenciou bastante no lançamento de seu primeiro disco, que vendeu mais de 250 mil cópias na Alemanha, verdadeiro sucesso.

Em 2009, Nina converteu-se ao protestantismo, e desde então tem lançado trabalhos voltados aos ensinamentos bíblicos e ao público cristão. Foi batizada na Igreja Protestante Reformada de Schüttorf, e considera-se feliz e realizada com o novo modo de ver a vida. A influência da religiosidade pode ser observada nos últimos registros musicais da cantora. Em 2010 lançou o álbum ‘Personal Jesus’, cujo título remete a um hit da banda inglesa Depeche Mode, regravada por Nina. Apesar de abordar temas bíblicos em suas letras, a cantora não deixou de tratar de temas sociais em suas músicas. Seu último disco, ‘Volksbeat’, de 2011, segue na mesma linha do anterior. Além de Jesus, condena guerras, forças nucleares e direitos civis.

Nina Hagen também já trabalhou no cinema e na televisão, desempenhando o papel de atriz e de dubladora. Ela é responsável pela dublagem da personagem Marge do seriado ‘Os Simplsons’ desde 2006. Nina assumiu a personagem devido à morte da antiga dubladora. Nina também usou sua voz para dar vida à personagem Sally no filme ‘O estranho mundo de Jack’, do diretor Tim Burton lançado em 1993. A artista é vegetariana, e também é constantemente associada à causa da defesa dos animais, sendo uma das figuras artísticas mais representativas da organização PETA (Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais). Nina é comunmente chamada de ‘a mãe do punk’ na Europa, e divide o cargo com Patti Smith (nos Estados Unidos).

Nina no Brasil

Em 1985, a cantora esteve no Brasil para participar a primeira edição do ‘Rock in Rio’. Ao subir ao palco, logo de cara mostrou seu carisma interpretativo ao público brasileiro, gritando repetidas vezes “eu amo vocês!”, cada uma delas com uma entonação e expressão facial diferente. Ela apresentou-se por duas noites ao público na Cidade do Rock (dias 13 e 20 de janeiro), e levantou o público com sua excentricidade. O visual e a atitude de Nina fizeram com que ela atraísse a atenção midiática, o que fez com que sua figura ficasse marcada na memória do povo brasileiro.  Em uma época em que não era tão comum ver mulheres tão impactantes e expressivas no rock, Nina tornou-se um símbolo do Rock in Rio.

Vários artistas do Brasil ficaram impressionados com o desempenho de Nina Hagen, que passou a ser vista como uma das musas do evento. O cantor Supla ficou tão balançado com a presença de espírito que a convidou para participar de uma de suas canções. Na época Supla tocava na banda Tokyo, e Nina Hagen foi convidada por eles para participar dos vocais e do videoclipe da canção ‘Garota de Berlim’, apelido que os artistas do Rock in Rio deram a ela durante o evento. A cantora também fez amizade com Baby Consuelo e Elba Ramalho. O impacto de Nina Hagen no meio cultural também faz dela uma grande influência. O cantor paraense Wanderley Andrade cita Nina como uma de suas principais influências artísticas.