Comparar JK com Lula é afrontar a nação
Redação DM
Publicado em 13 de fevereiro de 2016 às 00:01 | Atualizado há 9 anos
Jornalista conceituado e ciente da realidade nacional, ficamos perplexos com o recente artigo “JK na Vieira Souto e Lula no Guarujá”, de autoria de Elio Gaspari, publicado no O Popular, edição de quarta-feira (3/2), no qual faz considerações injustas e incompatíveis com a memória e honradez do eminente e saudoso ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, que se imortalizou pela construção de Brasília no Planalto Central. O artigo é ilustrado com foto de Juscelino e insere o mapa do Brasil com sigla do real como a insinuar corrupção em seu governo. Para quem não leu o teor do artigo, vejamos alguns de seus trechos ofensivos à memória de JK (CP, art. 138 e parág. 2º): “Dias depois da morte de Juscelino Kubitschek, o presidente Ernesto Geisel recebeu uma carta de um coronel zangado.” Ele dizia: “Estamos assistindo à ‘choradeira’ nacional pela morte de JK, muito bem urdida e explorada pelos comunas e seus eternos aliados irresponsáveis. (…) O que é mais triste, prezado amigo, e disto discordo, é ver-se o governo decretar luto oficial por três dias. O presidente tinha horror a Juscelino e anos antes participara da decisão que cassou o seu mandato de senador, banindo-o da vida pública por dez anos. Geisel anotou na carta do coronel: o lamentável é que as provas não eram provas de qualquer valor jurídico. Na realidade, eram indícios, embora todos soubéssemos da ladroeira consumada. Eu penso que não houve, nem haveria condenação.” Para Gaspari, ao referir ao presidente da ditadura militar, “o símbolo da ladroeira era um apartamento no Edifício Ciamar (Avenida Vieira Souto, 206, o mesmo onde viveria Caetano Veloso”. Também se refere ao tríplex de Lula no Guarujá e ao sítio de Atibaia, ora investigados. JK (dizemos nós) foi um presidente de mãos limpas e morreu pobre.
Vejamos agora a humilde, correta e brilhante trajetória pessoal, política e administrativa do construtor de Brasília: Juscelino Kubitschek de Oliveira nasceu em Diamantina (Minas) em 1902. Foi telegrafista por concurso e depois se formou em Medicina, fazendo curso de cirurgia em Paris. Tornou-se capitão médico da Polícia Militar em Belo Horizonte, secretário do governo e deputado federal. No Estado Novo (ditadura de Getúlio Vargas) perdeu o mandato. Foi prefeito de Belo Horizonte (1940-1945) nomeado por Benedito Valadares, quando realizou expressivas obras urbanísticas com o apoio do famoso arquiteto Oscar Niemeyer, inclusive o conjunto da Pampulha. Em1946 foi deputado à assembleia nacional constituinte. Em 1950 venceu seu opositor Gabriel Passos ao governo de Minas. Em sua gestão voltou suas atenções para o binômio energia-transportes, criou a Centrais Elétricas de Minas Gerais (Cemig), construiu cinco usinas para produção de energia e abriu mais de 3 mil km de estradas. Em sua campanha presidencial derrotou o general Juarez Távora (daí os militares se tornaram raivosos), enquanto Juscelino implantou a indústria automobilística, desenvolveu a política social e econômica para o Nordeste e criou a Superintendência do Desenvolvimento Econômico do Nordeste (Sudene) com sede em Recife. Impulsionou a construção das grandes usinas hidrelétricas de Três Marias e Furnas. Também se dedicou às iniciativas das rodovias Belém-Brasília, Belo Horizonte-Brasília e Brasília-Acre, além de outras.
A par dos relevantes empreendimentos públicos já citados, a obra prima do presidente Juscelino Kubitschek foi a edificação de Brasília no Planalto Central, tendo ele enfrentado forte oposição dos que não queriam a mudança, entre eles o jornalista Carlos Lacerda. Após sua posse em janeiro de 1956 proclamou o seu empenho de “fazer descer do plano do sonho a realidade de Brasília”. Em abril de 1956 enviou mensagem ao Congresso para a criação da Comissão de Planejamento da Construção e da Mudança da Capital Federal. Em setembro de 1956, através da Lei 2.874, aprovada pelo Congresso, oficializou o nome de “Brasília” e dispôs sobre a organização da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). O talentoso arquiteto Oscar Niemeyer foi escolhido para a chefia do Departamento de Urbanística e Arquitetura, enquanto o arquiteto Lúcio Costa foi o responsável pela realização do Plano Piloto da nova Capital. Em outubro de 1956 foi sancionada a lei 3.273, de autoria do deputado federal Emival Caiado, fixando a data de 21 de Abril de 1960 para a mudança da Capital. JK escolheu a data de 21 de abril em homenagem a Tiradentes, herói nacional e patrono cívico da Nação. Trabalhadores de todo o País, sobretudo de Goiás, acorreram a Brasília, começando pelo Núcleo Bandeirante. Historicamente, JK esteve em Goiânia no governo José Ludovico de Almeida para tratar da desapropriação da área da nova Capital. Estivemos em Palácio para cobrir o acontecimento. É oportuno lembrar que Goiânia, a capital de Pedro Ludovico Teixeira serviu de estímulo ao então presidente Juscelino Kubitschek à implantação de Brasília.
Registre também que o primeiro jornalista de Goiás que esteve em Brasília, quando ainda era campo aberto e onde havia o Cruzeiro Velho, foi o então editor-chefe do O Popular, Eliezer Penna, que se fez acompanhar do veterano fotógrafo Hélio de Oliveira. Ampla cobertura foi realizada sobre os trabalhos iniciais de Brasília. Foi no Cruzeiro Velho, com a presença do presidente Juscelino, autoridades civis e militares que o então cardeal dom Vasconcelos Mota, celebrou a primeira Missa em Brasília. Isso ocorreu nos primórdios de 1956. Outro fato significativo foi a presença da IV Reunião da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em julho de 1958, em Goiânia, sob a coordenação do arcebispo dom Fernando Gomes dos Santos. No dia 7 do mesmo mês, a CNBB foi a Brasília hipotecar a Juscelino em sua campanha pró-mudança, pois havia um grande movimento da civilização beira-mar contra a instalação da nova Capital no Planalto. Com o fotógrafo Hélio de Oliveira, acompanhamos a comitiva da CNBB, integrada, entre outros, por cardeais, arcebispos e bispos, inclusive por dom Jaime de Barros Câmara, cardeal do Rio de Janeiro; dom Helder Câmara, arcebispo auxiliar do Rio; dom Fernando Gomes dos Santos, arcebispo de Goiânia, e outras autoridades religiosas e civis. A comitiva da CNBB foi recepcionada pelo presidente Juscelino, arquitetos Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, além de outras figuras de projeção nacional.
Durante a visita da CNBB a Brasília, o presidente Juscelino Kubitschek, de Oliveira gentilmente nos atendeu para uma entrevista, ocasião em que nos ditou a seguinte mensagem de saudação à comitiva da CNBB que lhe fora hipotecar solidariedade à construção de Brasília: “No instante em que visitam Brasília os senhores Cardeais, Arcebispos e Bispos que participam da Conferência Nacional de Bispos do Brasil em Goiânia, quero saudá-los em nome do povo brasileiro, pedindo-lhes que abençoem este empreendimento cujo alto objetivo é o esplendor e a glória deste País cristão e católico.” Agora (dizemos nós) por justa e meritória gratidão dos goianos, JK foi eleito senador por esta unidade da Federação, mas seus algozes da ditadura militar, a exemplo do que fizeram com outros políticos honestos e dignos, como no caso do progressista governo Mauro Borges, o então o senador Juscelino Kubitschek de Oliveira teve seu mandato cassado e seus direitos políticos suspensos por dez anos! Para finalizar e diante da corrupção endêmica (saquearam a Petrobras, BNDES, Eletronuclear e outras estatais, pagamento de bilhões de propinas pelas empreiteiras, desvios de recursos para países do exterior), tudo protagonizado pelo lulopetismo fascista e aliados no País (que o digam a Lava Jato e a grande maioria dos brasileiros). Logo, comparar a trajetória político-administrativa do honrado ex-presidente JK com Lula é humilhar e afrontar a Nação!
(Armando Acioli, jornalista e formado em Direito pela UFG)