O poder envelhece (?)
Redação DM
Publicado em 3 de fevereiro de 2016 às 21:36 | Atualizado há 8 meses
Cabelos grisalhos, emagrecimento, palidez. Essas características costumam ser de pessoas idosas, mas também é visível naqueles que ocupam cargos importantes, como gestores do executivo, que muitas vezes aparentam um pouco (ou muito) dessas características, além de também demonstrarem um olhar mais cansado e uma fisionomia de preocupação. Esse conjunto, na maioria das vezes, faz com que tais gestores pareçam ser mais velhos do que realmente são. A partir dessa observação surgem os seguintes questionamentos: alto nível de estresse e uma vida política agitada podem levar ao envelhecimento acelerado? Ou seja, o poder envelhece? Conforme uma pesquisa das universidades de Harvard e Massachusetts, sim.
O estudo, realizado por um grupo de pesquisadores das universidades de Harvard e Massachusetts e o Escritório de Investigação Econômica dos EUA (NBER, na sigla em inglês), divulgado no final do ano de 2015 na revista British Medical Journal, observou que os líderes políticos vivem menos anos que pessoas que não estão no poder, como seus os adversários derrotados. A pesquisa levou em conta a idade do candidato e sua expectativa de vida. Os líderes eleitos viveram 2,7 anos menos depois das eleições e apresentavam risco 23% maior de sofrer morte prematura. Mesmo contando com recursos financeiros e bom acesso a sistemas de saúde de qualidade, os presidentes tendiam a viver mais do que a média da população, mas menos do que os candidatos com vidas políticas menos estressantes.
Para o co-autor do estudo, Andrew R. Olenski, não há uma razão confirmada para o envelhecimento dos líderes dos países analisados (Alemanha, Austrália, Áustria, Canadá, Dinamarca, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Nova Zelândia, Noruega, Polônia, Espanha, Suécia, Reino Unido e Estados Unidos), mas o ritmo acelerado de vida e o estresse são apontados como possíveis motivos. “Os nossos resultados mostram que os líderes eleitos podem envelhecer de uma forma mais rápida”, afirmou. Para o presidente do Conselho Regional de Psicologia (CRP), Wadson Arantes, o estresse é o principal fator para desencadear o envelhecimento precoce, visto “que a questão do estresse passa por questões psicológicas e afeta o físico também”, destaca.
A partir da pesquisa, ao se analisar a aparência dos governantes brasileiros é possível detectar um envelhecimento acelerado, principalmente se compararmos quando o gestor assumiu e quando finalizou o mandato. Exemplo disso é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que assumiu a presidência do Brasil aos 57 anos, mas logo nos primeiros anos de sua gestão seus cabelos, tanto da cabeça quanto da barba, ficaram completamente brancos. Lula, após oito anos como presidente do Brasil também enfrentou um câncer de laringe, o que pode estar ligado ao ritmo acelerado da vida como presidente do Brasil e ter desencadeado seu envelhecimento.
A atual presidente do país, Dilma Rousseff (PT), também envelheceu após assumir o poder. Em apenas cinco anos, Dilma envelheceu mais que o tempo cronológico e, hoje, tem fortes olheiras e pés de galinha na região dos olhos. A presidente também está emagrecida e com aparência cansada. Para o médico norte-americano e autor do livro ‘Real Age: Are You as Young as You Can Be?’, traduzido para o português: ‘Idade Real : Você é tão jovem como você pode ser?’, Michael Roizen, “um presidente pode envelhecer dois anos a mais que um trabalhador normal no período de um ano”. O especialista baseou sua opinião em uma pesquisa meticulosa nos prontuários de vários presidentes que comandaram os Estados Unidos nos últimos 80 anos.
Roizen ainda aponta o estresse como fator determinante para o envelhecimento dos líderes polítocos: “Lidar com o estresse envolve uma série de técnicas, mas a principal delas é conversar sobre isso. O problema com os presidentes é que eles não têm amigos suficientes”, afirma. O pesquisador destaca que o envelhecimento acelerado apresentado pelos governantes é devido ao “estresse não correspondido”, visto que os políticos não têm amigos suficientes para mitigar o estresse, como afirma Roizen.
Em Goiás, o governador Marconi Perillo (PSDB) assumiu o Palácio das Esmeraldas pela primeira vez em 1º de janeiro de 1999, aos 35 anos e a aparência de um jovem – como foi apresentado durante a campanha no ano anterior, considerado a renovação e a juventude no poder. Apenas quatro anos depois, Marconi já deu sinais de um envelhecimento além do tempo decorrido, ou seja, a idade biológica (do organismo) foi maior que a idade cronológica (dos anos que passaram), visto que o governador apresentou um olhar mais cansado, além de olheiras, algumas rugas e cabelos brancos, perdendo a jovialidade que foi carro-chefe de sua vitória. Atualmente, Marconi está com 52 anos e foi eleito pela quarta vez como governador do Estado. É nítido seu envelhecimento, afinal, são quase 20 anos no poder. No entanto, se fosse um trabalhador comum, de acordo com Roizen, teria uma aparência mais jovem.
Estilo de vida
Muitos políticos saem em jornais e revistas praticando exercícios físicos para tentarem aparentar uma vida saudável e uma jovialidade que, na maioria das vezes, não têm. Exemplo disso são as atividades físicas que a presidente Dilma ou até mesmo o prefeito Paulo Garcia (PT) praticam, visto que constantemente são fotografados andando de bicicleta pelo Planalto e por Goiânia, respectivamente. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os problemas biológicos e a genética são responsáveis por 27% de tudo o que influi no envelhecimento e condiciona a saúde. O estilo de vida que a pessoa leva corresponde a 43%, o sistema de saúde 10% e os fatores culturais e psicossociais, 20%.
Assim, a forma de envelhecer está submetida quase em 70% à acontecimentos aleatórios ou ao azar. Desta forma, o estilo de vida que os políticos levam – pressões, preocupações e o estresse, por exemplo – determinam quase a metade da porcentagem de como eles envelhecem e as marcas que ficam em seus rostos, principalmente. De acordo com o dermatologista Erasmo Tokarski, em entrevista ao site Metrópole, o estresse libera mais adrenalina e, consequentemente, aumenta a formação de radicais livres que oxidam as células levando a um envelhecimento precoce, especialmente na área dos olhos. “Normalmente as olheiras são as mais prejudicadas, fato que se deve a congestão sanguínea da área. Pessoas com tal ritmo de vida tomam pouca água, levando a desidratação o que colabora com o envelhecimento precoce”, explica.
Noites mal dormidas, alimentação inadequada, tensão e mais uma vez o estresse estão ligados à liberação de hormônios como corticóides ou cortisol, sendo assim esses fatores consomem e desregulam o ciclo de liberação de todos os hormônios numa reação em cadeia. E são os hormônios que indicam a juventude e saúde.
Para que os anos sejam menos notados
1. Controlar o consumo de álcool – Desidrata e aumenta a produção de radicais livres;
2. Não fumar – Segundo a Sociedade Espanhola de Medicina Estética, os fumantes envelhecem 2,5 anos a mais para cada 10;
3. Ter relacionamento estável – O sexo libera hormônios de crescimento que ajudam a manter a elasticidade da pele, segundo o doutor David Weeks;
4. Fazer exercícios com moderação – Comprovado pelos pesquisadores da Universidade McMaster (Ontario);
5. Rir com os amigos – Reduz o estresse, que acelera o encurtamento dos telômeros;
6. Se proteger do sol – É o principal agente externo de envelhecimento.