Brasil

A Bossa é coisa nossa e sempre Nova

Redação DM

Publicado em 24 de janeiro de 2016 às 23:53 | Atualizado há 10 anos

A cidade de São Paulo, o querido SAMPA de Adoniran Barbosa, dos “Demônios da Garoa” e dos “Trovadores Urbanos”, surgida em 1554 por obra do divino missionário Manoel da Nóbrega, o luminoso espírito Emanoel que foi mentor espiritual do famoso médium Francisco Cândido Xavier, teve fundação em 25 de janeiro, que é o dia dos Correios, do Carteiro e também da Bossa Nova, em homenagem ao aniversário natalício de Tom Jobim, conforme Lei Federal no. 11.926, de 17 de abril de 2009.

Tom, João Gilberto e Menescal formam o trio criador desse marcante estilo musical que suprime o bordão, ou seja, repele a corda sonora baixa, e, sincopando a duração da nota, produz um misto de tique-taque com teleco-teco nessa musiquinha harmoniosa e agradável, que encontra nos versos de Vinicius de Moraes a expressão da alegria a contagiar variados ritmos, especialmente o samba, que, na bossa, sai da fossa.

Sobretudo depois que Frank Sinatra encanta o Tio Sam com a “Garota de Ipanema”, começou a falsa história de que a bossa seria mera derivação do jazz americano da costa oeste do Pacífico, quando, na verdade, este apenas passou a influenciá-la, mas ela não deixou de ser coisa originalmente nossa.

O grande músico Henri Salvador, nascido na Guiana Francesa e que morou muito tempo no Rio de Janeiro, divulgou a bossa na França, onde faleceu aos 90 anos de idade. Numa entrevista ao jornal “Le Monde”, divulgada pela “Folha de São Paulo”, nega ter sido o mentor da criação desse estilo musical com sua canção “Dans Mon Île” e afirma, com grande humildade, que Tom Jobim é um gênio e ele, Henri, um simples melodista e cantor.

O primeiro registro oficial da bossa nova aconteceu em 1958, no Rio de Janeiro, com a gravação do disco “Chega de Saudade”, que continha a canção do mesmo nome, composta por Tom e Vinicius. João Gilberto foi o cantor das músicas gravadas. Antes, porém, a música que leva o nome do disco já havia sido cantada por Elizeth Cardoso – a divina, sob acompanhamento instrumental do próprio João Gilberto.

Muitos outros participaram desse movimento artístico, entre eles e elas, destacam-se: Ronaldo Bôscoli, Baden Powell, Jhonny Alf, Elizete Cardoso, Sylvinha Telles(cantora predileta de Tom Jobim), Wanda Sá, Márcia,  Leny Andrade, Caetano Veloso, Sílvio César, Joyce, Luiz Bonfá, Marcos Valle, Paulo Sergio Valle, Luiz Carlos Vinhas, Dick Farney, Toquinho, Claudete Soares, Edu Lobo, Oscar Castro Neves, Chico Freitas, Tito Madi, Lúcio Alves, Carlos Lyra, Jair Rodrigues, Simonal, Miúcha, Agostinho dos Santos, Geraldo Vandré, Sérgio Mendes, Maysa, Maria Betânia, Maurício Einhorn, trio “Os Cariocas”, “Quarteto em Si”, Gal Costa, a grande musa Elis Regina e Nara Leão, que esteve exilada em Paris, porque além de repórter do combativo jornal “Última hora”, cantava muita música tida como contestadora ao regime militar, sobretudo o samba “Opinião”.

Os militares reinantes não viam com bons olhos os bossanovistas, tanto é que estes procuraram expandir a bossa nova no exterior, onde alcançou e ainda alcança grande repercussão, principalmente nos Estados Unidos, França e Japão.

Mas, como nem tudo são flores entre as melhores coisas, Caetano Veloso, talvez só por ter alcançado maior sucesso na criação do movimento tropicalista (meados dos anos 60), proclamou seu rompimento com a bossa, afirmando que seu convívio com esta não fora saudável, e por isso lhe fez acintosa ironia em sua canção “Saudosismo”, em que apregoa o embate de gerações. Será que o Tropicalismo estaria mais em consonância com o regime militar imperante na época, com seu fantasioso lema sobre o Brasil: “ame-o ou deixe-o”?…

Eis o meu poema intitulado “A Bossa é Nossa”, que tenta retratar essa coisa linda, que encanta o Brasil e todo o Mundo:

Quão sublime, noite adentro,

uma doce voz, sobretudo feminina,

ao som de sax, pistom com surdina

e suave repicar de violão,

fazendo a bossa nova

no toque-taque do atabaque

e no chocalhar da maraca!

Embala-me a genial

criação de Tom Jobim,

João Gilberto e Menescal,

os versos de Vinicius de Moraes

e a saudosa Elis Regina com Jair Rodrigues

no ARRASTÃO de dois na bossa,

a rolar como as ÁGUAS DE MARÇO.

Depois, vislumbro Gal cantando BONITA

e, meio DESAFINADO, lhe faço um APELO

para ser MINHA NAMORADA

e que linda namorada poderia ser!

Então, lhe daria a mão na ESTRADA DO SOL,

declarando: EU SEI QUE VOU TE AMAR.

Ah! SE TODOS FOSSEM IGUAIS A VOCÊ,

porque só TINHA QUE SER COM VOCÊ

mas PRECISO APRENDER A SER SÓ,

para, em profunda MEDITAÇÃO,

contemplar Miúcha no SAMBA DO AVIÃO,

pois ELA É CARIOCA e a morena vai sambar

e com ela SÓ DANÇO SAMBA, o SAMBA DE VERÃO,

enquanto Dick, em COPACABANA, com ESTE SEU OLHAR,

por entre uma e outra onda nova (WAVE) sempre a surgir,

namora a princesinha do mar,

sem perder de vista Maysa conduzindo O BARQUINHO

e Nara Leão, um bem, bem distante da pátria,

OUTRA VEZ a cantar CHEGA DE SAUDADE, no exílio em Paris.

E o torrão brasileiro se expande lá fora

no vozeirão de Sinatra, encantando o Tio Sam

com a GAROTA DE IPANEMA, sem, no entanto, esclarecer

que a bossa – coisa nossa- é o próprio seio do Brasil,

um coração a saltitar no busto de suas lindas mulheres,

envolto em deslumbres mil

e jamais filha do americano jazz,

com o qual se afina, no enlevo que este traz

só para influenciar

e, no dizer de Carlos Lyra,

o nosso samba entortar.

 

(Vivaldo Jorge de Araújo, ex-professor de História e Língua Portuguesa do Lyceu de Goiânia, é escritor e agente aposentado do Ministério Público Goiano)


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