A volta do feitor de promessas
Diário da Manhã
Publicado em 20 de janeiro de 2016 às 23:32 | Atualizado há 9 anos
Antigo especialista em tramoias ensinou que a história se repete – a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa. O expert não conhecia Goiânia, ou teria proposto uma interpretação criativa para a sucessão de trapaças que ocorrem nestas paragens; aqui a história se repete mais vezes: a terceira como deboche, a quarta como desastre e a quinta como catástrofe.
Há pouco mais de uma década as eleições municipais em Goiânia deram margem a uma escabrosa recorrência histórica. A ambição deslavada do notório messias da “pequenina” Cristianópolis inventou o embuste da resolução mágica dos problemas da Capital em 6 meses. Não resolveu nenhum – e o que é pior: agravou todos. O engodo se fez escárnio e recandidatou-se; a mentira metodizada reinventou o falso mito, agregou o fisiologismo petista faminto de cargos e benesses – e o magistral loroteiro reelegeu-se facilmente.
A insaciável sede de poder sobrepujou a parca inteligência: o senhor dos desatinos vislumbrou numa miragem a chefia do governo estadual e reduziu o mandato na prefeitura a mero trampolim. Renunciou ao mandato de prefeito sem pestanejar. Esqueceu as promessas mirabolantes que enganaram Goiânia e tentou governar Goiás prometendo milagres ainda mais espetaculares.
Impossível enganar a todos, o tempo todo. O sonho de retorno triunfal nos braços do povo foi somente delírio: Goiás não consumou o pesadelo do retrocesso ao passado de triste memória. A presunção do salvador da pátria foi derrotada pela astúcia que engoliu o dono, mas impôs à Capital um legado humilhante: um vice-bufão omisso, passivo, inepto; incapaz de solucionar os problemas que herdou e ocultou da população.
Alavancado pela propaganda irresponsável – que vende até avestruzes de ovos de ouro – o filhote do arlequim reelaborou a mentira: prometeu ‘uma cidade sustentável’ sem sequer conhecer o significado da expressão. Deu nisto que está aí: não há governo; só mais problemas e repetidas promessas vazias.
Confirmando a premissa de que não há nada tão ruim que o petismo não consiga piorar, eis que o impostor chefe ressurgiu dos escombros da aliança farsesca que engendrou – e só recentemente rejeitou e “deserdou”, após o fracasso inevitável.
Fantasiado de opositor, o demiurgo da hipocrisia ensaia a volta ao passado: aproximou-se de Ronaldo Caiado – tradicional adversário do petismo – e travestiu-se no mais recente amigo de infância, com o intuito de beneficiar-se da popularidade do antigo adversário e consumar o repúdio ao filhote mal concebido.
Lamentavelmente o ilustre senador não é apenas o político de inegáveis virtudes; todo humano pode ser vítima da intemperança – o que explica a extravagante parceria com o demagogo do cerrado, possivelmente inspirada na máxima de Hassan ibn al-Sabbah: “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”.
Neste pacto de afinidade nas desavenças errar na avaliação dos benefícios pode ser fatal: não é vantajoso criar escorpiões para combater baratas; nem é válido invocar a mula sem cabeça para repelir o caipora – e muito menos fiar-se na palavra de quem promete hoje para não cumprir amanhã. Vale lembrar um antigo ditado: “Da união do ódio com a mentira nasceu a traição, filha cruel que devorou os pais”. E cabe à população manter-se atenta para não ser enganada mais uma vez: Goiânia merece um futuro melhor.
(Camille Adorno, escritor e advogado – [email protected])