Cuide bem da sua voz

Quem vive da voz deve ao seu instrumento de trabalho uma série de cuidados. Muitos cantores não se atentam a esses cuidados e com o passar dos anos acabam desgastando excessivamente as cordas vocais. Eles até tentam disfarçar mas a perca vocal deles chega a um ponto que fica gritante.Cantores como Zezé di Camargo, Lindomar Castilho, Gilberto Gil e até cantores muito jovens já apresentam problemas vocais, caso do sertanejo Zé Henrique dupla de Gabriel. Vozes mundialmente marcantes como da cantora Adele e o vocal do Led Zeppelin, Robert Plan, também são do grupo que maltrataram as próprias cordas vocais.

Zezé di Camargo já teve que passar por uma cirurgia para a retirada de um cisto nas cordas vocais, mas ele só se submeteu ao procedimento 10 anos depois de descobrir o problema causado pelos excessos dos recursos de sua voz. Ele temia que a cirurgia retirasse sua capacidade de cantar e que tivesse que deixar o mundo da música.O cantor Gilberto Gil teve que interromper uma apresentação depois de cantar apenas quatro músicas. Pediu desculpa pelo vacilo e pela rouquidão e disse que tentaria cantar mais uma parte do repertório, mas se não conseguisse remarcaria a apresentação. Lindomar Castilho, que fez “Você é doida demais” se encontra afastado do mundo artístico mas no fim de sua carreira já apresentava uma voz fraca e falha, fruto de uma vida boêmia e boleros que abusavam dos graves.

Zé Henrique e Adele foram acometidos pelo mesmo problema nas cordas vocais, mesmo sendo jovens, o caso é que eles desenvolveram um pólipo que comprometeu a voz de ambos. No caso de Zé Henrique foram necessárias duas cirurgias, mas mesmo assim sua voz foi acometida por outros problemas posteriormente.Robert Plan é uma das maiores vozes do rock mundial. Porém os agudos que o consagraram foram os mesmos que danificaram sua voz. Durante uma turnê intensa na década de 70 ele teve um problema na garganta que levou a uma lesão que foi tratada com uma cirurgia, depois ele teve que ficar por quase um mês sem falar para se recuperar.

Os vilões da voz

O tabaco é um dos maiores prejuízos para a voz. O caso da cantora Adele é ligado ao tabagismo, ela fez até hipnose para se livrar do vício e não terminar prematuramente sua carreira. Acontece que a nicotina fica fixada e acumulando nas cordas fazendo com que elas fiquem rígidas e percam a capacidade vibratória.

O álcool também faz mal para a voz, por ser uma substância que causa irritação na laringe. E tem outra coisa quando se está bêbado você perde um pouco do controle da voz, a capacidade de modular e acaba esganiçando, falando muito alto o que pode causar dor e rouquidão.

Gritarias insanas, acontece que o grito é um grande impacto para as cordas vocais a repetição do processo causa desgaste. Gritar pode causar edemas e até lesões na mucosa da região que produz a voz. No passar do tempo essas lesões podem virar o terror de quem canta, os calos vocais.

O corpo é um emaranhado de complexidade. Como se trata de um conjunto, várias doenças em todo o corpo podem afetar a vocalidade ’’Por exemplo, se a pessoa tem um refluxo gastroesofágico, rinite alérgica ou estresse e ansiedade constantes, é comum apresentar diferentes modulações nos períodos de crise”, destaca a fonoaudióloga

Anna Alice Almeida.

Dicas dos profissionais para os profissionais

Sabah Moraes é cantora, com licenciatura e mestrado em canto. Ela fala sobre a importância da técnica vocal “Ela é imprescindível para proteger o aparelho vocal de abusos causados por canto e fala errados. Além de potencializar e melhorar a condução do canto, saber usar sua voz com técnica e respiração adequadas, protegem a laringe de variadas patologias, como nódulos e fendas”.

A professora de canto Sabah diz também como o aquecimento é um ato de responsabilidade para com o aparelho vocal e para cantar melhor “Lógico que, de acordo com o gênero que você canta, isso é mais exigido ou não. Para o cantor de ópera tido dever ser potencializado. Entretanto,  não importa seu gênero de música, o aparelho é frágil. Trabalhamos com músculos e, assim, devemos estar com eles em dia e saber usá-los. Muitos alunos só procuram aulas quando já apresentam alguma patologia”.

“A técnica para o profissional é essencial pra manter a musculatura laríngea em dia, com flexibilidade e tonicidade. É como um atleta. Ele não pode ficar dias sem treinar ou treinar sem aquecer, pois o corpo responderá com dor e lentamente.” completa Sabah.

Um profissional da voz (cantor, ator, professor, etc) deve ter: um professor de canto, um fonoaudiólogo, um otorrino, sempre à mão. A cantora também mostra outros benefícios da técnica “As aulas de canto, com profissional especializado, contribuem para aumento de extensão vocal, projeção vocal, afinação, fraseado, dicção, interpretação, melhora a qualidade do timbre, o uso da ressonância”.

A também cantora e professora de voz e violão, Letícia Yohanne reforça os avisos “A técnica vocal auxilia na preservação da voz a medida que te permite utilizar corretamente a musculatura do aparelho fonador. Isso faz com que você melhore o tônus muscular, prevenindo possíveis lesões, organizando o processo respiratório e isso gera saúde vocal, ou seja, te dá longevidade. A técnica servirá como uma ‘academia’ para sua musculatura vocal”.

Lembrando que cada organismo é único Letícia fala sobre os cuidados vocais “Os cuidados de um cantor são, na maioria das vezes, muito pessoais. As vezes há coisas que um pode fazer que outros não podem. Mas basicamente para ter uma boa higiene vocal, devemos manter uma alimentação balanceada problemas estomacais como refluxo podem alterar significantemente a saúde vocal”.

Letícia fala dos cuidados com a saúde que refletem na voz e a importância da hidratação “Simplesmente bebendo água ou fazendo inalações, o importante é sempre estar hidratado, mantendo inclusive as vias respiratórias também hidratadas, aquecer a musculatura antes de cantar e relaxar ou desaquecer no fim das atividades. Aprimorar a técnica e evitar o fumo, bebidas alcoólicas”.

Ainda para ressaltar o quão imprescindível é o aquecimento a cantora Letícia diz “É como se o aquecimento fosse um ‘regulador da voz’. Ele te ajuda a entender os caminhos que você deve traçar corporalmente para emitir o som sem lesionar a musculatura, sem sofrimento”.