Pedro Solberg vence na Justiça em caso de doping e mira medalha no Rio
Redação DM
Publicado em 3 de janeiro de 2016 às 08:45 | Atualizado há 9 anosNo último dia 2 de dezembro, o juiz Luiz Norton Baptista de Mattos, da 7ª Vara Federal do Rio, determinou que a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), responsável pelo laboratório, pague a indenização. A UFRJ informa que já recorreu da decisão.
Em julho de 2011, dois meses após exame-surpresa coletado na casa do atleta, o Ladetec anunciou o doping por um esteroide, o androstane, o que lhe causou uma suspensão preventiva, cancelada meses depois. Para provar que houve erro, Pedro encomendou laudos independentes, feitos no laboratório de Colônia, que apontaram erro do Ladetec, em avaliação que teve apoio de Eduardo De Rose, maior autoridade do assunto no país. Na sentença, o juiz aponta problemas no manuseio e no armazenamento como prováveis causas do erro.
O seu caso foi um dos que levaram, em 2013, ao descredenciamento do Ladetec pela Agência Mundial Antidoping (Wada). Reformado e batizado de LBCD, o laboratório recuperou a chancela no ano passado.
Carioca, “alvinegro fanático”, fã de surfe e de tênis, filho do cineasta Ruy Solberg e da ex-jogadora de vôlei Isabel, criado nas areias de Ipanema — onde até hoje continua treinando, numa rede em frente à Rua Garcia D’Ávila —, ele fala ainda sobre a preparação para os Jogos do Rio, as chances de medalha e a parceria com Evandro.
O GLOBO: O que esta decisão da Justiça representa para você?
É um assunto muito chato. Até hoje, a mídia e as pessoas, quando citam meu nome, falam “depois de um duvidoso caso de doping”… Que duvidoso? Duvidoso nada! É muito chato isso. O laboratório errou, isto foi provado. Isto me incomoda: na hora que me apontaram o dedo, sai lá, enorme, na televisão: “Pedro Solberg dopado”… Mas quando comprovo que eles erraram, não se fala com a mesma veemência.
Pedro Solberg:
Acredita que iria a Londres-2012?
Sem dúvida. Tinha acabado de fechar uma parceria com o Ricardo (ouro em Atenas-2004), e acabou acontecendo esta história. Nós dificilmente não conquistaríamos a vaga. Quando voltei, meses depois, estava sem parceiro e tinha perdido quatro etapas da corrida olímpica. Foi frustrante.
Houve desconfiança na sua volta?
No primeiro torneio, na Holanda, os jogadores tiveram uma reunião com a direção para entender por que eu estava ali. Entendo o lado dos caras, a Wada ainda não tinha se posicionado, apenas a federação tinha cancelado a suspensão. Você sente, dos outros (jogadores), um olhar de desconfiança. Não estou nem aí. Tenho total certeza da minha inocência, já comprovei, agora quero ganhar a causa até o fim. O pior momento foi quando joguei um torneio nos EUA. Os torcedores me xingavam, fui muito hostilizado.
Sua parceria com Evandro é recente, mas tem bons resultados. Como chegarão aos Jogos?
Estamos juntos há pouco mais de um ano. É bem pouco. Vejo o lado bom de que nosso time é um dos que têm mais a crescer. Além disso, somos dois jogadores de bloqueio, estamos evoluindo muito na defesa, um fundamento que não dominávamos. Em janeiro, vamos só treinar. Depois, vamos ver quantos torneios vamos jogar. Talvez seis ou sete antes dos Jogos.
É um esporte em que o entrosamento conta muito…
Acho que não tem nenhum esporte em que você conviva tanto com uma pessoa. Nem o tênis de duplas… É todo dia junto, dorme no mesmo quarto, vai jantar, perde, ganha. Este foi um motivo de eu ter querido jogar com o Evandro: me identifico com ele, é um cara guerreiro em quadra, mete a cara. Confio 100% nele.
Vocês ganharam a vaga de Ricardo e Emanuel, uma dupla campeã olímpica. Há um peso maior?
Nós terminamos em segundo no circuito mundial. Ricardo Emanuel terminaram em 9º ou 10º, não tinha muita dúvida de que nosso momento é melhor. A CBV e o COB tinha dito que seria uma escolha técnica.
Os bons resultados fazem muitos acharem as medalhas no vôlei de praia uma barbada…
Vão ficar achando! O masculino está muito forte. No circuito, acho que há umas dez duplas com chance de medalha. Em alguns torneios que Alisson e Bruno (Schmidt, campeões do circuito) venceram, eles perderam no início e foram pela repescagem. Está duríssimo. No feminino, são menos times no topo. Aí, acho que nossas chances de medalha são melhores.
Você e suas irmãs, Maria Clara e Carol, são sempre ligados à sua mãe, que também jogou. Mas seu pai (Ruy Solberg) é cineasta. Desde criança optou pelo esporte?
Minha ligação com cinema é mais pela família materna que pelo meu pai. Tenho tias, primos, cunhado, que trabalham com cinema. Mas sempre fui apegado ao esporte, à competição. Talvez eu goste mais de competir do que jogar vôlei (risos). Mesmo de bobeira, com os amigos na praia: “Vamos jogar? Valendo o quê, um coco?” Senão, nem quero.
Em dezembro, seu pai estava com o Chico Buarque, quando eles foram hostilizados no Leblon…
(interrompe) É inacreditável, né? Falei com meu pai, fiquei com muita raiva. A pessoa não tem direito de ter opinião. Quem são essas pessoas para vir abordar outros com mais de 70 anos na rua? É mau caratismo, covardia… Mas eles se saíram muito bem.
Como carioca, como vê os gastos públicos nos eventos esportivos?
A urgência de quem está com problema de saúde, ou passando fome, é muito maior do que o esporte. Espero que haja um legado. Tivemos exemplos como Barcelona e Sydney, que já eram cidades mais organizadas. E teve Atenas, onde não ficou legado algum. É preocupante e não sou tão otimista, tomara que esteja enganado e que o Rio aproveite em todos os sentidos.