Brasil

A PERSEVERANÇA DAS ONDAS DO MAR

Redação DM

Publicado em 2 de janeiro de 2016 às 21:50 | Atualizado há 8 meses

“Dai-me Senhor a perseverança das ondas do mar,que fazem de cara recuo um ponto de partida para um novo avanço”

GABRIELA MISTRAL

(Poetisa Chilena)

 

 

Caro leitor

Que 2015 seja como as ondas do mar:

um recuo para novos avanços

que hão de vir em 2016.

Feliz Ano Novo!

Elizabeth Caldeira Brito

 

 

A LÁGRIMA E O BÚSIO

Em tudo o que desponta,

auspicioso e novo,

perdura o velho, falso morto.

 

É isso

que  me diz a onda

agasalhando a maresia.

 

É essa

a lição do infinito

que recebo das ilhas.

 

Nada em nós

é mais antigo que o mar.

 

Eis porque nascemos num pranto:

– a lágrima

é uma semente do oceano.

 

CASTIÇAL

Quando o poema amanheceu,

deu de cara com a noite finda.

E percebeu, na lacuna do tempo,

que o infinito se libra

nas quinas do som das palavras.

 

E o verso, amanhecido,

descreveu mais um novo amanhã.

(Conheço versos

a quem o presente nunca é bastante

e cujo horizonte é sempre uma ponte

a conduzir-lhes ao horizonte do além)

 

E até penso, displicente,

que o poema é castiçal soerguido

na noite do mundo.

Luz pequena a relembrar-nos

que o dia se levanta

quando firmamos a esperança.

 

ANO NOVO

fui ver a avenida

a multidão sorria e se

cumprimentava,

meus amigos

conversavam…

e eu,

eu me sentindo um nada

(afim de voltar pra casa)

 

ano novo…

eu, o mesmo

 

PRELÚDIO DAS ÁGUAS

O mar não é apenas

o mar.

É o espelho do tempo,

do ano que se esvai…

É um gigante impávido

lavando a ardência das pedras

prenunciando o barco imaginário

de velas içadas

a arfar

no entardecer da vida…

Em que areias

ficará tua carcaça

ao alento do vento agreste?

Sussurra, oh mar,

sob a imensidão

das estrelas

que soçobram neste céu.

Retumba

esse pranto por liberdade

desdobra as asas

do porvir…

lança esse fanal

contra os abismos

afasta as brumas

pois chega a glória.

O mar não é apenas

o mar

é mais um ano que aborda

– depois do prelúdio das águas…

 

 

CORDEL DO ANO NOVO

[…] Um novo ano desperta

Vamos nos harmonizar

Cultivar a irmandade

Humanidade a cantar

Ser sol solidariedade

Os sonhos multiversar

Que o Ano-Novo ilumine

Com paz e felicidade

Que o mundo evolua

E floresça a liberdade

Que o Amor prevaleça

E haja mais boa vontade

Agora é pra valer

2016 logo vigora

A vida a nos guiar

Na poesia que aflora

Vamos todos navegar

por universos afora

O velho ano dormiu

2016 acordou

Continuemos na luta

Novo sonho despertou

A musa renova o verso

A poesia transmutou…

 

2016…

2016…

não te desejo força,

já há forças demais agindo no mundo,

desejo-te um ano de delicadezas.

.

 

não te desejo as graças de um deus

ou deuses,

elas estão aí, no seu entorno

e dentro de ti,

desejo-te olhos iluminados

que te permitam

ver…

.

não te desejo tudo novo,

mas sabedoria em teus caminhos,

para se livrar do que é trevas,

conservar em ti o que é bom,

criar o novo

onde necessário

.

2016…

se houver algo a transbordar de ti,

inundar tua vida,

criar-te espanto,

por abundância,

 

ah…

que seja o amor,

então…

 

de tanto!

 

NASCE!

Bento, que bento é o frade,

e arde o fogo novo, velho escaravelho

vermelho, espelho que mira

o mirto, incendeia incenso.

 

É seco, é claro, o novo espaço,

espalha-se ao ar de arte e têmpera

em tempo e dia de estreia

a estrelar-se em noite quente.

 

Tudo que nasce é rebento, rebenta

a crosta, a pele, desvela o íntimo

e fino invólucro, película.

 

Nascente bendito! E digo

rebento também àquilo

que de novo é bento.

 

 

A página Oficina Poética, criada e organizada pela escritora, acadêmica Elizabeth Abreu Caldeira Brito, é publicada aos domingos no Diário da Manhã. Esta é a 201ª edição (desde 08/01/2012). [email protected]


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