Cotidiano

DM seleciona os 13 melhores discos de 2015 que você não pode esquecer

Júlio Nasser

Publicado em 31 de dezembro de 2015 às 13:45 | Atualizado há 9 anos

Welliton Carlos

A cada ano, mais pessoas se dedicam ao ofício da música.

Existe uma multidão interessada em deixar sua marca sonora. A indústria lança milhares de discos. A mídia abre as portas para centenas. Os ouvintes captam e filtram alguns, pois sabem ser impossível conhecer tudo.

E de muitos e muitos que passam pela mídia, indústria e ouvidos coletivos poucos ficam para a história, marcando de forma indelével a cultura de um tempo. Alguns carregam “hits”; outros levam histórias. Todos ficam. Alguns bem mais salientes.

Enquanto vários artistas encaram a arte como estilo de vida outros enxergam nela um modelo para não passar fome ou exercer o materialismo humanístico – ter carros, casas, joias, viagens.

Uma minoria de músicos consegue também agir como compositor. Atua assim como ourives, seleciona texturas musicais, adota inversões de acordes e procura revolucionar a própria linguagem – mas sem se descaracterizar como artista ou ser humano.

A cada 365 dias, eles se colocam uma meta: produzir um disco ou planejá-lo.  E que fique.

O trabalho do músico é diferente dos demais, pois necessita de um lampejo – que é mais do que a vontade, mas o ‘insight’. Ele precisa escrever a música e desejá-la, com amor e paixão. Foi assim neste ano com Adele, Blur e Kendrick Lamar.

Caso contrário, a música não será amada pelos ouvintes. Daí que ela deve representar uma verdade – que seja interior.

Em 2015, milhares de artistas tentaram fazer algo que marcasse. Além de ser o ano que pontua o retorno definitivo da indústria do vinil, e do começo do fim do CD, este ano que se finda marca também o início de uma era: a da música nas nuvens.

Kendrick Lamar, por exemplo, foi um dos mais acessados por meio do Spotify. E também o mais procurado nos sites de busca e redes sociais de vídeo e música.

A reportagem do dm.com.br selecionou treze lançamentos que valem o ano, por conta da qualidade técnica, abrangência e popularidade em seus segmentos. Foi um ano de muita produção, um ano ímpar em qualidade e abrangência. Há tempos não se encontrava tamanha produção qualitativa. Com destaque para as mulheres – Selena Gomes, Adele, Madonna, etc. O heavy metal não seguiu a tendência de oferecer as melhores produções. O rap se impôs. E os brasileiros mais uma vez foram uma decepção.  Rafael Castro, com “Um Chopp e  um Sundae”, entraria numa lista dos 100 melhores.  E talvez Tulipa Ruiz (com “Dancê) se classificasse entre os melhores lançamentos de world music.

Gal Costa surpreendeu com “Estratosférica” e se fossemos considerar coisas do tipo Anitta ou Catra como música, a revelação do ano seria Leo Justi, que faz um funk mauricinho em uma nova linguagem: o heavy baile.

Mas o Brasil não está em nenhuma lista internacional. Se cruzarmos as principais do mundo, o país é ignorado. Acompanha a crise econômica, imposta pela desordem política, uma verdadeira devastação criativa.

O desmatamento de ideias e criatividade é proporcional aos escândalos da política.

Em compensação, o mundo explode em criatividade. 2015 foi um ano para se guardar. Em décadas lembraremos dele. Quem viver, verá!

https://www.youtube.com/watch?v=zdBw7Vf9sX0

 

13 º

Halloween

Álbum: “My God-Given Right”

Estilo: heavy metal, power metal

Na décima terceira posição, o rock masculinizado se mantem vivo, mas com restrições.

O Halloween conseguiu, dentro de sua linguagem de power metal e metal melódico, fazer um disco a altura de um estilo que é extremamente concorrido devido a capacidade técnica dos executantes. “My God-Given Right” tem uma sonoridade poderosa e uma gravação de voz perfeita. É um desafio para esta banda se manter na ativa há tanto tempo e com qualidade. Em um ano em que o próprio Iron Maiden e Lamb of God colocaram discos no mercado, eles mostram atualização em suas melodias certinhas e ‘cantabiles’ criativos. Destaque para as guitarras em suas melodias menores, que remetem ao barroco.

 

12 º

Slayer

Álbum: “Repentless”

Estilo: thrash metal

Na 12 º posição, ponto para uma banda que jamais fez concessões. O Slayer faz parte do tripé do thrash metal, ao lado do Megadeth e Metallica. De todas, é a mais honesta. “Repentless” marca um ano agitado no heavy metal, de muita produção, mas pouca qualidade. O Slayer é sempre uma curva ascendente. O tempo passa e a música permanece rápida e agressiva.  Deve arrebatar mais um Grammy para o grupo.  A faixa título tem na caixa ( parte da bateria) seu metrônomo, que funciona como uma metralhadora. É um disco arrebatador.

 

https://www.youtube.com/watch?v=jiSfmus4EUg&list=PL93qhAzYpKaakgv3kwlG4Sj38WdKmuiE3

11º

Diana Krall

Álbum: “Wallflower”

Estilo: jazz, pop, canção

Em  11º lugar, “Wallflower”, disco da cantora de jazz Diana Krall, que atua sempre de forma classuda.

O detalhe de sempre é que Krall se apresenta como uma cantora e pianista. As composições e versões são tratadas com arranjos virtuosos e orquestrais que levam o ouvinte para outros estados de memória e êxtase.

A versão dela para “Don’t Dream It’s Over” sintetiza quem é Krall: uma cantora de jazz moderna, profundamente abalada pela canção pop. Ouça sem medo.

10 º

Imagine Dragons

Álbum: “Smoke and Mirrors”

Estilo: Indie rock, rock, pop

A 10 º colocação vai para “Smoke and Mirrors”, da banda Imagine Dragons, que é e deve continuar sendo, pelo menos nos próximos dois anos, a referência do indie rock. O disco em questão começou a ser revelado em 2014, mas o lançamento ocorreu em fevereiro.

Banda de Las Vegas, com texturas eletrônicas, colagens de estúdio e muita influência e citações, que perpassam a obra de Beatles, Muse e os queridinhos do Arcade Fire, o ID perpertua um estilo em crise – o indie.

 

9 º

Joe Satriani

“Shockwave Supernova”

Estilo: rock, heavy metal, hard rock, jazz,

A 9 º colocação é destinada a um ícone da música instrumental, o guitarrista americano Joe Satriani, que tem uma produção praticamente anual de pérolas instrumentais, seja em discos seja em shows arrebatadores. O disco novo do guitar hero é “Shockwave Supernova”, uma compilação de canções viajantes.

Satriani busca as cores de sempre, mergulhadas em sua visão do futuro. Abusa de arpejos, climatizações, formatações melódicas (solos de uma corda da guitarra). A balada “Lost in Memory” é delicada, com uma percussão agitada ao fundo.

As melodias menores  se contrastam com o pouco uso das escalas pentatônicas.

Devido ao formato, parece que algumas faixas foram sobras ou inspiradas em “Unstoppable Momentum” (2013).

8 º

Lana Del Rey

“Honeymoon”

Estilo: soft rock, indie, psicodélico, sadcore, jazz,

Em oitavo lugar, você não pode passar 2015 sem conhecer a obra de Lana Del Rey, “Honeymoon”, uma cantora que se destaca pelos caminhos que trilha. Sua introdução no cenário pop aborda a canção de cinema, o fraseado das cantoras de jazz da década de 1950 e 1960 e a música alternativa. A faixa título mesmo parece nos jogar em uma máquina do tempo, nos despojando décadas atrás. Sua voz se contrasta com a cama de violinos.

Lançado em setembro, o disco deve marcar o ano, com diversas indicações ao Grammy. Seu estilo hipster é o que existe de melhor hoje em Nova Iorque, a razão de ser da turma do Upper West Side.

Sua versão para “Don’t Let Me Be Misunderstood”, eternizada pela banda The Animals e Nina Simone, é de fazer chorar.  Sua voz é de uma velha, fraca, oprimida, triste.  Exatamente por isso que é tão visceral e revolucionária.

 

7 º

Infected Mushroom

Álbum: “Friends on Mushrooms”

Estilo: eletrônico, psicotrance, progressivo eletrônico

A 7 º posição é de um grupo que já se tornou clássico no cenário tecno. Infected Mushroom, duo israelense de música eletrônica, que marca o retorno do psicotrance ao gosto da juventude na casa dos 20 e poucos anos.

As bases usadas em “Friends on Mushrooms” são cada vez mais eletro rock, mas sem perder a veia psicodélica que o duo desenvolveu nos últimos anos.

É na verdade um atestado da importância da banda para as demais seguidoras, com o atestado de que sua releitura é capaz de produzir música fresca e pulsante.

Os samplers e os efeitos analógicos dão todo o charme para a releitura da dupla de produtores. Destaque para “Bark” e “The French”.

 

 

6 º

Munford and Sons

Álbum: “Wilder Wind”

Estilo: indie rock, pop, folk, rock, etc

A sexta posição é o novo disco de Munford and Sons, banda londrina que tem realizado uma importante atualização do folk.

O grupo teve uma passagem pelas vocalizações do bluegrass, mas logo encontrou o pop. “Wilder Wind” marca o ano devido a esta ‘estranha’ guinada. Músicas como “Believe” e “The Wolf” são reflexos desta transição.

Os ouvintes do primeiro e segundo disco podem estanhar o que foi lançado. De fato, existe uma forte polêmica em torno das guitarras da banda. É preciso ficar atento. O disco é um dos melhores do ano, mas pode representar o tiro de misericórdia do grupo, que enfrenta claramente a crise de transpor o terceiro disco.

5 º

Kamasi Washington

Álbum: “The Epic”

Estilo: jazz, música contemporânea

A quinta posição é destinada ao grande saxofonista Kamasi Washington, que tem surpreendido a cada produção. “The Epic” é grande em tudo: na quantidade de músicos que participou do projeto, na qualidade das músicas e acima de tudo no tamanho do disco, de três horas de duração.

O saxofonista é um estouro: está acima da média das demais produções de jazz. Seu fraseado e dos convidados flutua do free jazz aos ecos de be bop. Mas o que mais chama a atenção é a evolução. Washington avança nas colagens, nos contrapontos orquestrais e acaba por impor sua bandeira em um planeta ainda não conquistado. Ele reinventa o jazz. Você acha isso pouco?

Esse cara é formado em música e envolvido com projetos de extensão na Universidade da California com etnomusicalidade.

Ouça “Isabelle” e “Askim” e depois conversamos. Concentre-se nas dissonâncias, no fraseado cromático, nos acordes menores com sétima maior e nona. Esse é o cara!

4 º

Of Monsters and Men

Álbum: “Beneath the skin”

Estilo: indie rock, pop, folk

A quarta colocação é de Of Monsters and Men, banda de folk rock da Islândia que se destacou no passado recente com o hit “Little Talk”. Ela tem se desenvolvido e ampliado os horizontes, a ponto de colocar no mercado um disco mais maduro, onde os arranjos se revelam menos pretensiosos e mais espontâneos. “Crystals” e “Human” despertam  o ouvinte para a qualidade das letras, a poesia e a tessitura. Repete-se o padrão de composição das vozes, em que muitas vezes atuam em dupla de paredes, enquanto ao fundo outras realizam ecos. É uma musicalidade contemporânea, que marca a reflexividade de uma nova era, marcada pela impessoalidade das relações e fim de acordos pré-estabelecidos entre as pessoas. O disco fala de rupturas, mas também de redenção. É introspectivo em “Of the Storm” e contemplativa em  “Backyard”.  Trata-se de um grupo em sua plenitude. O segundo disco vai marcar o ano e a década, com certeza.

Adele

Álbum:“25”

Estilo: pop, folk, soul

Terceiro lugar merecido para uma cantora que se infiltrou na mídia de forma insidiosa, tamanha sua influência. Adele catalisa com “25” a clássica expressão do pop: é uma diva em formação, mas com voz sólida e portadora de arranjos realizados nos mínimos detalhes com os melhores maestros do mundo. Seu disco poderia soar superficial e pasteurizado. Mas é uma homenagem ao bom gosto e aos fraseados românticos.   A melodia em tom menor (acordes invertidos e simples) fazem do hit uma demonstração de que a voz e a narrativa (a letra é gigante) traz para o cancioneiro algo bem tradicional: o relato de uma história.

Trata-se do terceiro disco da cantora britânica, que tem batido recordes até mesmo dos Beatles.  Ela tem flertado cada vez mais com o soul e folk, revelando uma capacidade de falar coisas para o grande público em estilos que não são os mais procurados.  Como diz o próprio nome do disco, “25”, ela se volta para sensações nostálgicas da passagem da vida.

É uma cantora de massa, que hoje tanto faz estar ou não numa lista dos melhores.  Marca 2015 pelo hit e pela performance em sua própria vida, mostrando que não precisa abusar da sexualidade ou de valores  de um mundo sempre hibrido entre a bondade e maldade.

https://www.youtube.com/watch?v=Gos0B72nU7E

Blur

Álbum: “The Magic Whip”

Estilo: rock alternativo, britpop

O segundo lugar é uma banda veterana. Blur, a encarnação do britpop, resolveu voltar ao mundo com um novo disco após 12 anos de hiato.  Em uma nova leitura dos anseios melódicos e sociais da juventude anos 2015.

É para se pensar: ser feliz hoje é não se preocupar com nada e se desligar. A mensagem da banda é essa. Mas o Blur está mais eletrônico e introspectivo, com referências setentistas-oitentistas, como  Joy Division e Talking Heads. Mesmo assim avança  nas sonoridades do Gorillaz e Damon Albarn, que lançou discos solo e acabou influenciado o restante da banda dessa vez. “The Magic Whip” é a transposição:  mas deixa claro que somos ainda presos a um passado.

Kendrick Lamar

Álbum: “To Pimp a Butterfly”

Estilo: rap

A primeira colocação não é mais uma novidade. Kendrick Lamar é considerado um dos maiores rappers a surgirem nas duas últimas décadas. Com sua prosódia de artista antenado com as causas sociais e suas várias citações, como o uso de sax ao estilo de John Coltrane, fazem de sua releitura da vida cotidiana uma catalisação de sensações.

É popular, artístico e reverente aos valores urbanos étnicos-raciais.  Vencedor de dois Grammys em 2015, ele acabou por lançar um disco que deve estar novamente na festa da indústria da música.

“To Pimp a Butterfly” é praticamente imbatível em qualquer comparação. Trata-se de uma epifania. E como tal dificilmente terá concorrentes. Já venceu em valores, em musicabilidade, em reprodução de realidades. O próprio Senado americano já reconheceu a superioridade da linguagem do rapper, o considerando representante de todo uma geração.  Os grooves, os shapes da bateria (caixa-chimbau) marcam e batem forte no coração de uma comunidade.

A questão que envolve Lamar é mais do que a música. Ele foi escolhido para ser a imagem do novo movimento negro nos EUA, tendo hoje uma importância maior do que personalidades como Barack Obama ou Ben Carson.

Lamar surge em um momento conturbado nos EUA: o recrudescimento do movimento negro por conta da maior repressão aos valores da comunidade. É uma lufada de ar fresco em um país que sufoca os negros bem baixinho, quase em silêncio.


Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia

últimas
notícias