Cotidiano

Para fazer o bem

Redação DM

Publicado em 29 de dezembro de 2015 às 21:16 | Atualizado há 5 meses

Lucilene Macedo, mais conhecida como Lena, professora universitária, não gosta do natal. De suas lembranças de infância, dos poucos anos nos quais morou com a mãe, guarda a bebedeira e o escândalo do padrasto como sinônimos da data. Depois, quando foi morar com seu tio, o natal era desculpa dos adultos para virar a noite bebendo. Ela não viveu nada do que as crianças normalmente esperam do natal, a data para ela não tinha magia alguma.

Quando começou a trabalhar, a época significava apenas trabalho dobrado. Quando se casou, porém, sonhava passar o natal em família, com os filhos, montando a árvore juntos, família feliz no melhor estilo “comercial de margarina”. Mas os filhos não vieram e o marido não durou.

Restou para Lena passar seus natais com os amigos, o que não era nada ruim, mas ela notava que a maioria das pessoas enxerga a data como um pretexto para comer e trocar presentes. No seu modo de enxergar o mundo, poucas pessoas vivem realmente o verdadeiro sentido do natal. Nesse ano de 2015, entretanto, ela resolveu mudar seu modo de comemorar a data.

“Natal é  o aniversário do Cristo e eu pensei no que ele gostaria que fizéssemos. Eu tive a ideia de sair a noite para distribuir chocolates perto de hospitais. Como eu sei que ninguém marca consulta na noite de natal,  escolhi o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo). As pessoas que eu encontrasse estariam em um contexto de sofrimento, precisando de uma palavra amiga”, conta Lena.

Antes de ir para o Hugo, ela passou na casa de um amigo para desejar feliz natal. Ele estava com visitas e ela acabou contando dos seus planos. Alguns jovens se interessaram muito pela iniciativa e resolveram acompanhá-la.

Do lado de fora do Hugo, em um ponto de ônibus, encontraram uma mulher. “A primeira mulher que eu abordei com o chocolate e um desejo de feliz natal levou um susto porque a mãe dela tinha acabado de ter um enfarto e estava sendo atendida naquele momento. Ela não entendeu o que estávamos fazendo e perguntou “você não tem família”?”, recorda Lena.

Após conversar com a mulher e deixar que ela desabafasse, Lena e os jovens entraram no hospital. Ela relata que as pessoas se transformavam, pois estavam imersas em um contexto de dor, e a demonstração de carinho as desarmava. Foi o que aconteceu com a família que encontraram no Hugo.

“Na recepção do hospital havia uma criança ferida. O pai havia ido comprar bebidas com a criança e bateu  a moto. O pai não machucou, mas a criança se feriu muito. O pai chorava muito, pois havia comprometido o natal de toda a família. O menino ganhou muitos chocolates e acabou se divertindo, pois embora ele estivesse sentindo dor, ele estava muito fragilizado com a dor dos pais. O choro dos pais estava doendo mais nele do que os hematomas”, conta Lena.

Vendo a transformação na atmosfera da família, os funcionários do hospital começaram a se emocionar, se abraçar, desejar ‘feliz natal’ uns para os outros. A energia pesada do hospital mudou completamente.

Uma amiga que Lena encontrou no Hugo a aconselhou a visitar também uma delegacia. Escolheram o 8º DP do setor Pedro Ludovico, o 8º DP. “Chegando lá vimos o caos, muitas pessoas prestando queixa, dando depoimento. O Delegado achou nossa ação muito bacana e nos convidou para entrar em uma sala onde suspeitos de assalto estavam prestando depoimento. Na sala tinha muita gente, o ambiente estava muito pesado.  Entramos lá, distribuímos os chocolates e aquilo nem parecia mais uma delegacia, pois  todos se abraçaram em um clima de harmonia muito gostoso”, relembra.

O grupo ficou até umas 3 da manhã na rua. Chegaram a abrir o vidro do carro para desejar feliz natal para pessoas de outros carros e jogar chocolates dentro dos carros delas. “Foi uma experiência muito bacana. Vivi a verdadeira magia do natal, sem a máscara do consumismo que estamos tão acostumados. Recebemos tanta gratidão das pessoas, foi incrível”, conclui Lena.

Para ela, o natal é isso: Caridade, solidariedade, harmonia, alegria. Com uma atitude simples, porém inusual, Lena encontrou o verdadeiro motivo do 25 de dezembro e preencheu o vazio que a data sempre deixava em seu peito. Para 2016 o plano é fazer o mesmo e, quem sabe, influenciar outras pessoas para transformar a ação em uma tradição.

Lena Macedo, professora universitária, resolveu ter uma experiência incomum no natal de 2015

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