Lembranças dos tempos de escola – parte XXVIII
Diário da Manhã
Publicado em 22 de dezembro de 2015 às 00:41 | Atualizado há 9 anosNo primeiro dia de aula, na minha antiga escola notei que os alunos eram parte da turma anterior, parte da outra sala, da qual Lucíola fazia parte antes e outros desconhecido por mim. De início já percebi que grande parte dos novatos, aparentemente, não simpatizou pela minha pessoa, não sei pelo qual motivo, talvez por causa de ainda não me conhecerem, de qualquer forma, minha intenção era me tornar amigo de todos eles.
Érick que agora passara a estudar comigo, Edu, Roney e Maick, voltaram a integrar a minha turminha e tirando a suposta indiferença daqueles novatos para comigo tudo parecia ter voltado a ser como antes. Novamente eu havia voltado ao paraíso natal, outra vez eu estava no meu reino enlevado.
Aurian, Salles, Evanilde, Biano, Andson, Edu, Eleno, Gil, Érick, Paty, Mari, Pedrosa, Regina, Vânia, Vando e outros eram colegas que me respeitavam muito sabiam do meu potencial e minha liderança quando o assunto fosse trabalho escolar. Por isso, desde outros tempos faziam de tudo para pertencer à minha equipe. Embora, o sorteio para a escolha fosse quase sempre realizado pelo professor, todavia, eles acabavam dando um jeitinho wanderleense de aliar-se a mim. Pestana, Cleidimar, Déia, Dalva, Selmária, Karlas, Délia, Mária, Vívia, Penha, Miranda, Nétia, Édma, Dione, Queiroz, Babe, Carlinhos, Marcieide, Laine, Zélia, Borges, Diná, Heglys, Juscilaine e Lucienne eram todos desconhecidos, exceto Sandra, irmã de Edu, Ravi, minha prima e Biano, filho da minha ex-professora Irá. Já Marly, Endys, Celita, Mara Cristiane, Felícia, Héri, Gió Kesley foram colegas, anteriormente, mas só me lembrei disso, recentemente.
Entre aqueles que demonstravam me odiar. Erimar parecia ser a garota que mais sentia ódio de mim. Puxa vida!
Karlas era a cantora de nossa sala e uma pessoa muito inteligente, criativa e cativante.
Nesse ano a professora Eleni ficou responsável pelos ensinos de Didática e Estrutura e Funcionamento do Ensino de Primeiro Grau; Berto pela Educação Física; História era aplicada por um professor recém-chegado, José Benício, irmão de Eleno; Língua Portuguesa deixou de ser ensinada por Zeni e passou a ser ministrada por Janny; Noel aplicava Matemática; e Metodologia da História era Vanessa, minha ex-catequista e irmã de Djou, quem ministrava.
Um dia, nossa professora Ida de Metodologia da Geografia nos dividiu em grupos e pediu para que pesquisássemos sobre os animais da fauna brasileira que estavam em risco de extinção. O tema da minha equipe foi animais aquáticos. A equipe daqueles que pareciam me odiar optou por falar de vários animais, dentre eles, a ararinha-azul, ave que eu havia lido muito sobre ela. Chegada o dia das apresentações dos trabalhos, vi aquela equipe sem dominar o assunto abordado, fiquei impaciente, inquieto, não me contentei em eles não aprofundar o assunto sobre uma ave rara como aquela e depois era a minha chance de me familiarizar melhor com eles. Resolvi, sem nenhuma intenção de prejudicá-los colocar algumas teorias sobre tal animal, e comecei falando sobre o número exato de exemplares ainda existentes. Terminada a explicação, fui aplaudido, elogiado e cumprimentado pelos meus colegas e pela professora. Vando, o engraçadinho da turma, me transformou em objeto de propaganda com o enunciado: “Este é meu colega!” De tal forma que depois daquela aula, fiquei sabendo que o ódio daqueles para comigo agora era verdadeiro. Não que a intenção do meu amigo fosse me prejudicar, longe disso! E pensar que eu só fiz aquilo para ajudá-los. Inclusive Erimar, que nem parte da equipe fazia passou a guardar um grande rancor de mim.
Apesar de muitos da sala gostar de mim eu não me sentia à vontade, uma vez que não pegava bem para um aluno tido como exemplar como eu, ser odiado por alguém, principalmente por um ser que, obrigatoriamente, tinha que conviver comigo e eu com ele durante várias horas diárias. Eu tinha nítida certeza que se levasse o fato ao conhecimento da diretora Zeni ela o resolveria num breve intervalo de tempo, mas optei por não inseri-la num problema tão banal como aquele, uma vez que o seu tempo era muito corrido. Então, em outra aula da professora de Metodologia da Geografia, quando fui convidado para introduzir o tema proposto para a minha equipe, eu disse a ela que eu iria sim introduzir o assunto, mas antes gostaria de fazer uma denúncia. A professora ficou meio assustada, passou-me a palavra e eu contei para todos o que estava acontecendo. Contei que estava recebendo várias críticas e sendo hostilizado, devido a minha colocação na aula anteriormente apresentada, mas disse também que não me importaria uma vez que as críticas e hostilizações estavam sendo dirigidas por pessoas de caráter questionável.
A professora reestruturou aquele termo para “sem caráter”, e entendeu como sendo muito forte, pesado e antiético para ser usado em sala de aula ou em qualquer outro lugar contra alguém e aconselhou-me a não mais usá-lo. Naquele momento, a sala silenciou. Por um momento cheguei a pensar que iria receber algum tipo de punição e, pensei comigo mesmo: se ela pedir para que eu retire aquelas palavras eu a responderei que, apenas para cumprir sua ordem eu as retiraria, mas de nada adiantaria eu retirá-las e continuar tendo uma visão negativa daqueles que me criticaram. Pois se uma coisa dessas chegasse a acontecer comigo, se a mim fosse aplicado um castigo, advertência ou uma indesejada suspensão, minha reputação, que sempre foi zelada por mim, se reduziria a zero. Mas aquele assunto se encerrou por ali, logo após a professora, a mesma professora que anos anteriores havia criticado Finim e eu pelo fato de o seu filho de menor idade que nós estar cursando uma série acima da nossa, nos dar uma aula sobre ética, moral e respeito para com o próximo e, juntamente, com a minha equipe, apresentamos o nosso trabalho, o qual nos rendeu nota máxima.
Naquele ano, as aulas de Educação Física passaram a ser à noite, de dezoito às vinte horas, eram os homens quem ocupava a quadra, das vinte as vinte e duas eram as mulheres. Isso às quintas-feiras. Quando nós homens éramos dispensados, íamos observar as mulheres fazer seus exercícios. Quer dizer, nossa atenção não estava centrada necessariamente nos exercícios, mas sim em certas partes corpóreas das meninas. Lógico, quem não queria observar aquelas pernas grossas e nuas.
(Gilson Vasco, escritor)