Brasil

Irapuan e a literatura

Redação DM

Publicado em 17 de dezembro de 2015 às 21:20 | Atualizado há 10 anos

Certo dia, na segunda metade da década de 1970, 1975 mais ou menos, meu amigo Jesus de Aquino Jayme, escritor de muito talento, em encontro que se deu na livraria de Paulo Araújo, na Feira Hippie, Praça Cívica, surpreendendo-me porque não tinha identificação ideológica com o governador, me falou:

– Eurico, você sabe (nessa época eu passava a maior parte do tempo em cidades do Sul do Estado, a tentar a sorte na advocacia) que o Irapuan está a fazer um bom governo? Há poucos dias fui ver a grande reforma feita no Cine Teatro Goiânia e gostei muito. Trata-se de uma obra muito meritória, que está a proporcionar o incremento e o desenvolvimento da produção teatral aqui em Goiânia. Vá lá para você conhecer. O Irapuan é um incentivador da cultura artística.

Nunca esqueci esse louvor honesto do autor de “O cometa de Halley”, porque era uma opinião e um testemunho absolutamente insuspeitos e, naturalmente, dos mais abalizados. Depois tive oportunidade de tomar conhecimento de boas realizações irapuanistas no setor educacional.

Ocorrem-me essas lembranças em face da incursão recentemente iniciada de Irapuan Costa Junior na produção literária. Em 2014 ou 2013 – não me lembro bem – o ex-governador e ex-senador publicou o livro “Teimosas Lembranças”, conteúdo meio conto meio crônica. Nele se revela o escritor por que a forma é literariamente de boa qualidade.

Há poucos dias, mais precisamente no dia 8 deste mês, tiveram lançamento no Palácio das Esmeraldas mais dois livros dele. Um se intitula “Jogo da memória” e se subintitula “Lembranças, Livros e História”. O prefácio é de Edgar Welzel e foi escrito em Stuttgart no último mês de setembro. Nele se lê: “Ao ler os originais de ‘Jogo de memória’, de Irapuan Costa Júnior, automaticamente surge a pergunta: afinal em que categoria literária se enquadra esta coletânea? Serão contos, histórias, crônicas, narrativas reais ou ficcionais, reminiscências, ensaios, relatos biográficos, episódios históricos, colunas, resenhas ou outras acepções do mundo literário? É inconteste: nesta coletânea de temas encontramos quase de tudo, inclusive uma pequena novela ‘A mulata Jandira’, que, mesmo sendo um texto curto, é de extrema sutileza, sua leitura deleitosa prende o leitor, o qual, em virtude da descrição pincelada de Jandira, entre um piscar de olho e outro, chega a vê-la a sua frente.”

É correto este resumo crítico e interpretativo. Acrescente-se que o texto é bom.

O outro livro de Irapuan é bastante afirmativo da sua sólida formação cultural. Trata-se da tradução de “Primeiros Princípios”, obra do filósofo Herbert Spencer. Confesso que me impressionou a capacidade tradutória de Irapuan. Este, em nota inicial da obra afirma: “Esta é uma tradução sui generis. Não foi feita por encomenda de nenhuma editora, universidade ou outra qualquer entidade ou pessoa. Sua natureza não a predispõe a resultados financeiros. Ela nasce da pura fruição mental e da vontade de preencher em nossa língua uma lacuna de século e meio, tempo que vai do lançamento da primeira edição de “First Principles”, por Herbert Spencer, em 1862, até esta tradução. Desde os anos 1960 quando tive meu primeiro contato com este livro, numa tradução francesa de 1970, feita pelo filósofo Émile-Honoré Cazelles (1831-1907), a par do prazer de sua leitura, intrigou-me o fato de não existir uma edição em português. Um dos clássicos de filosofia mais famosos já escritos, de autor também famoso, logo vertido para o francês, espanhol, italiano e outras línguas, não havia ele merecido do Brasil ou de Portugal até então, como até hoje, um esforço de tradução e não se trata de um livro hermético, mas de um texto límpido de fácil leitura. O filósofo americano Will Durant (1885-1981) ressaltou que Herbert Spencer (1820-1903) foi sempre muito claro na exposição de suas ideias e chegou mesmo afirmar:

– Spencer tornou-se o mais claro expositor de doutrinas que a história conhece; sobre os mais complexos problemas escreveu em termos tão lúcidos, que por uma geração, o mundo inteiro passou a interessar-se pela filosofia.

A tradução realizada por Irapuan Costa Júnior incidiu sobre a segunda edição inglesa de 1867 do pensador nascido em Derby na Inglaterra, tendo também se socorrido da tradução espanhola feita em 1879 pelo matemático e catedrático da Universidade de Granada, José Andrés Irueste.

Altamente meritório o trabalho de Irapuan. Voltarei a ele brevemente.

 

(Eurico Barbosa, escritor, membro da AGL e da Associação Nacional de Escritores, advogado, jornalista e escreve neste jornal às quartas & sextas-feiras -E-mail: [email protected])


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