O caso do lulismo, a falência do PT e a ‘nova direita com ódio’
Diário da Manhã
Publicado em 22 de novembro de 2015 às 01:33 | Atualizado há 4 meses- Autor aponta o esfacelamento do mundo petista de Dilma Vana Rousseff Linhares
- Presidenta é uma tecnocrata de esquerda, que se aproxima ao perfil de Ernesto Geisel, diz
- Líder petista teria impulso obsessivo e controlador, de tecnocrata e matriarca, frisa ele
O ocaso econômico do projeto lulista, a falência do PT e a emergência de uma nova direita no Brasil, que fetichiza um comunismo inexistente e adota a estratégia do ódio, formam o coquetel explosivo da crise política que abala, hoje, o Palácio do Planalto e constituem os temas de ‘Dilma Rousseff e o ódio político’ [2015], Editora Hedra, de autoria do filósofo e psicanalista Tales Ab’ Saber, doutor da Universidade Federal de São Paulo [Unifesp].
Crítico, o autor aponta o esfacelamento do mundo petista de Dilma Vana Rousseff Linhares. A ex-guerrilheira da Vanguarda Armada Revolucionária – Palmares [VAR-Palmares] que virou economista e subiu a rampa do Palácio do Planalto em 2010 e reelegeu-se em 2014 com um programa à esquerda. Mas preferiu nomear um homem do Bradesco, do mercado, para gerir a economia, o liberal Joaquim Levy, acossado por Luiz Inácio Lula da Silva e Henrique Meirelles.
– O tempo atual é sombrio. É a falência cidadã do uso da própria democracia.
Ódio nas ruas
O escritor é taxativo. “O ódio brutal que se expressa hoje nas ruas do País contra o PT é também a tentativa astuciosa e igualmente mágica, baseada em grandes comoções e na redução calculada da linguagem, de anular e esvaziar os motivos encantatórios daquele monumental amor dos brasileiros pelo ex-presidente” [Da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ex-operário metalúrgico que conquistou uma hegemonia em quatro eleições nacionais].
– Dilma Rousseff não tem o poder de sedução do carisma de Lula!
O psicanalista avalia que Dilma Rousseff é uma tecnocrata de esquerda. “Ela se aproxima ao perfil de Ernesto Geisel [Quarto general-presidente da República à época da ditadura civil e militar]. Mais: segundo ele, Lula talvez se arrependa de ter escolhido Dilma Rousseff para sucedê-lo. Ao indicá-la, o líder petista desejava não encontrar sombra política a ele. Mas a ex-brizolista teria feito o projeto Lulista, um keyniasinismo de consumo, desabar.
– Como um castelo de cartas.
Tecnocracia
Desde a origem, e sempre, a tecnocrata de esquerda escolhida, advinda do PDT de Leonel Brizola, representou instabilidade política muito forte no próprio PT de Lula, dispara. Assim, no auge do poder, começava-se a plantar a semente da derrocada, atira. Tales Ab’ Saber acredita que Dilma Rousseff se parece com o também economista José Serra, um tucano de alta plumagem, que foi adversário do PT nas eleições de 2002 e de 2010. Derrotado.
– Amálgama de vagas noções à esquerda, mais forte consciência e desejo de controle da economia, a desenhar o mundo algo ao seu próprio modo
“Dilma Rousseff e José Serra, o seu adversário primeiro na eleição de 2010, eram igualmente ativos, interventores, herdeiros de uma fantasia de técnica e de razão forte para a gestão do Estado no Brasil. José Serra representava, de fato, uma espécie de neodesenvolvimentismo tucano – em uma última imagem muito esmaecida de um Celso Furtado, um moralista técnico, com compromisso com o País, em meio à irresponsabilidade financista da classe e do partido”.
Já Dilma Rousseff era, de grande mau humor e com tendência forte ao dissenso, um José Serra de saias. José Serra, um Dilma Rousseff de calças. O filósofo afirma que, não sendo Lula, e Lula não estando no lugar do jogo político dela, as intuições do ex-presidente da República de nada lhe serviriam. “Isto não impediu q1ue, ao fim de seu primeiro governo, ela própria fosse vista com mal-agradecida e recalcitrante pelo próprio Lula e sua família”, fuzila.
– Tecnocrata de esquerda, Dilma Rousseff é de uma inabilidade radical com o outro!
No início de seu primeiro mandato, a prerrogativa de Dilma Rousseff de desmentir os homens de seu governo quando bem entendesse, particularmente em público, era bem mais importante do que a ideia de harmonia, coordenação e a virtual lealdade interna do próprio governo, ressalta o autor. Mistura de sua necessidade de afirmação da última palavra, de controle de todas as ações e de demonstrar-se a ativa matriarca de seu próprio poder, frisa.
Mulher autoritária
– Tal comportamento gerou o mito de uma mulher política autoritária e de acesso impossível que só fez crescer. Não há dúvida que, sobre muitos aspectos, ela contribuiu ativamente para o seu próprio isolamento.
Incisivo, Tales Ab’ Saber afirma que a presidente da República, Dilma Rousseff, teria impulso obsessivo e controlador, de tecnocrata e matriarca. O escritor abusa da ironia e pergunta ‘quem é Ronaldo Caiado? ‘[A referência é ao senador goiano e líder do Democratas, Ronaldo Caiado]. Para ele, a nova direita é aberta a todos arcaísmos imagináveis. “Um novo tipo de paixão política à direita, que se abateu de modo feroz sobre o início do 4º governo petista”, diz
Ao reduzir a taxa de juros para 7,5%, Dilma Rousseff teria atraído a ira do sistema financeiro e dos seus aliados políticos estratégicos. Não custa lembrar: a média da taxa de juros da era Fernando Henrique Cardoso [1995-1998 e 1999-2002] atingira o patamar de 26,7%. “A oposição veio então com força”, resume. Os bancos não aceitaram a política, observa. Uma briga desigual, define. O que produziu abalos no capitalismo social pós-2003, metralha.
– Dilma Rousseff criara, finalmente, após dez anos de predomínio petista, a sua oposição real. [O sistema financeiro]
Cronologia
1980 Nasce o PT
1985 PT boicota o Colégio Eleitoral
2002 Luiz Inácio Lula da Silva ganha as eleições
2006 Lula é reeleito contra o tucano Geraldo Alckmin
2010 Dilma Rousseff é eleita. O 1º poste de Lula
2012 Fernando Haddad é eleito prefeito de São Paulo
2014 Dilma Rousseff derrota Aécio Neves e é reeleita
2015 Grave crise política atinge o Palácio do Planalto e o PT
SERVIÇO
Livro: Lançamento em outubro
Título: Dilma Rousseff e o ódio político
Autor: Tales Ab’ Saber
Editor: Hedra
Avaliação: Ótimo