O Universo de Schulz

Por Ludimila Mendonça

Um cachorro da raça beagle que tem múltiplas personalidades, isso só poderia sair da cabeça de um cara cheio de criatividade e sensibilidade. A mente por trás do famoso Snoopy é Charles Monroe Schulz, um americano de descendência alemã que escreveu cartuns por quase 50 anos. Nascido em 1922, morreu com câncer alguns anos depois de aposentar o lápis e a prancheta no ano de 2000. 

O quadrinho do Snoopy, em sua versão original se chama “Peanuts”, que significa amendoim. Pra quem não conhece esse cartum, coisa que é difícil, são crianças de cabeças muito grandes com traços de personalidade e questionamentos existenciais um tanto quanto adultos. Em português o apelido de Charlie ficou “Minduim”, colocado pela escrachada amiga Patty Pimentinha.

A história do cartunista está registrada no livro Peanuts and Schulz: A biography, uma biografia escrita por David Michaelis. Em seu livro o autor conta que a inspiração para os personagens dos quadrinhos são figuras que passaram pela vida de Schulz e a Peanuts gang é bastante autobiográfica.

A gangue

Um dos fatores do sucesso desse quadrinho é o seu personagem principal, que desperta um sentimento de identidade em muitas pessoas. Charlie Brown, um garotinho que hora é um descrente, hora cheio de esperança, mas sempre questionando a existência. Muitas vezes seus devaneios acabam na frase “Mas que puxa!”.

Lucy, uma garotinha mandona e cheia de razão, de acordo com Michaelis também veio da vida de Schulz. Uma das esposas do autor chegou à conclusão que Schulz era louco e precisava de tratamento psicológico. O jeito que ele encontrou pra levar a situação com humor e tirar sarro da esposa foi criando Lucy, uma garota autoritária que tem uma banquinha de plantão psiquiátrico.

Patty Pimentinha, a garota meio moleque que não escuta ninguém. Essa menina tem uma grande amiga, Marcie, que está sempre no seu encalço e a chama respeitosamente de “Senhor”. As garotas que não se enquadram no estereótipo de “menininha” já devem ter se sentido meio Patty. Os alunos dispersos que sentam no fundão e não dão muita bola pras aulas também tem tudo pra serem fãs de Patty.

A caçula de Charlie Brown é Sally, diferente do irmão ela faz o tipo “deixa correr”. Meio preguiçosa e bastante positiva, não divide com Charlie preocupações sobre a vida. Ela seria como um alter ego do personagem principal, um sopro de descontração na casa de Snoopy.

O Beagle

Dos personagens dos quadrinhos um dos mais complexos é o cachorro de estimação de Charlie Brown. No começo dos quadrinhos ele não tinha pensamentos, apenas estava ao lado do garoto e andava nas quatro patas. Mas quando Schulz deu autonomia de pensamento a Snoopy ele não parou mais de voar.

Schulz serviu o exército durante a Segunda Guerra Mundial, essa parte da sua vida ficou imortalizada em uma das personalidades de Snoopy. Sobre a sua casinha (no caso imaginada como Sopwhith Camel

seu avião) o cachorro encarna um piloto da Primeira Guerra, que tem um inimigo invisível, o Barão Vermelho. Nesse alter ego ele usa um capacete e um óculos de aviador.

Joe Cool é outra personalidade de Snoopy, o carinha descolado de óculos escuros Encostado na parede sem fazer nada, apenas sendo um cara muito legal. Uma das personalidades do cachorro mais interessantes é um escritor frustrado, que publicou um livro uma vez, que foi fracasso de vendas. O beagle encarna também um advogado, um jogador de hóquei, um patinador e até o primeiro astronauta a chegar até a lua.