Brasil

A representação feminina no romance regionalista “Mandinga”, de Liberato Póvoa

Redação DM

Publicado em 11 de outubro de 2015 às 22:50 | Atualizado há 10 anos

O sertão do sudeste tocantinense, ambiente no qual a narrativa de “Mandinga” se desenrola, mantém as características desfavoráveis às mulheres que ali habitavam. Os personagens principais são masculinos, sempre acompanhados da presença feminina: esposas, mães, amasiadas, filhas, sogras, agregadas, benzendeiras e curandeiras.

As mulheres em “Mandinga” são observadas pelo olhar masculino, como demonstrado no diálogo:

– “Botá as minina na iscola? Tá doido? Mode prendê mandá carta pra namorado? Qui pricisão tem isso? Tão cumeno, bebeno, vistino e drumino sem pricisá sabê inxergá”.

O diálogo descrito mostra a vida de submissão dessas mulheres no sertão tocantinense, espaço geográfico que no século XIX foi comandado por fazendeiros, jagunços, caboclos e coronéis. Dentre as representações femininas nós temos Madalena, que desafiou os desmandos do pai para fugir com o seu grande amor, Constâncio, rapaz de olhos gazos, ingênuo e paciente. Madalena sofreu por desafiar a moral patriarcal e por não seguir o mesmo destino de sua mãe, Ana Bastos, a qual se casou por conveniência familiar.

As agregadas são representadas por siá Guilé, uma velha negra, de cabeça amarrada, sempre com um lenço de chita rajado de vermelho e cara murcha; velha Guilhermina, que estava sempre acocorada em frente a uma gamela cheia de massa de mandioca, trabalhava na desmancha, na fabricação de farinha; siá Fostina, avó dedicada, era responsável pelos afazeres domésticos estafantes na fazenda do Capitão Zé Menino; Rosa de Nezinho, mãe amorosa, sofria com a vida nômade que levava ao lado do marido e com as privações alimentares que sofria todos os dias.

Dentre todas essas mulheres descritas no romance “Mandinga”, uma é respeitada e circula entre todos os espaços na obra, ao lado de fazendeiros e sertanejos, é a velha Pulu, benzedeira, parteira e curandeira da região, uma mediadora entre o homem e o sagrado. Dona Pulu tem nas rezas o poder de curar resguardo quebrado, espantar onças e serpentes dos pastos. Seu poder de cura está relacionado à ótica do imaginário popular e da função mágica que emana de suas palavras.

Nesta breve análise das mulheres no romance “Mandinga”, percebe-se o desafio que elas enfrentaram num mundo em que o patriarcado dominava, em que eram consideradas meros objetos de prestígio social ou de utilidade doméstica.

Póvoa define o feminino como o mito de Cassandra, a qual, segundo a mitologia era aquela que tinha profecias, mas ninguém acreditava nelas, assim foram e são as mulheres do sertão tocantinense, heroínas fortes, corajosas e sensíveis para enfrentar o cotidiano incerto.

 

(Zoélia Tavares de Castro. É professora de Língua Portuguesa no Colégio Militar de Palmas-Unidade I e mestranda em Letras [email protected])


Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia