Cultura

“De cada amor, tu herdarás só o cinismo”

Diário da Manhã

Publicado em 10 de outubro de 2015 às 21:35 | Atualizado há 4 meses

 

Cantor, compositor, poeta e violonista, Angenor de Oliveira, mais conhecido como Cartola, nasceu no Rio de Janeiro no dia 11 de outubro de 1908. É considerado por vários críticos do meio musical como o maior sambista de todos os tempos. Participou com destaque do desenvolvimento do samba como gênero musical, e foi um dos fundadores da Estação Primeira de Mangueira, uma das mais célebres escolas de samba do Brasil. Teve destaque como compositor a partir da década de 1930, e depois de passar um bom tempo fora do meio musical, registrou em sua última década de vida quatro LPs bastante aclamados.

Era o mais velho de oito filhos. Foi batizado com o nome de Agenor, mas foi registrado erroneamente como Angenor, fato que só descobriu na hora de formalizar o casamento com Dona Zica. Seus antepassados foram escravos em fazendas de Campos dos Goytacazes, no estado do Rio. Aos nove anos, Cartola ganhou do pai um cavaquinho, seu primeiro instrumento. No morro da mangueira, durante a adolescência, conheceu Carlos Cachaça, parceiro musical e amigo de longa data.

Abandonou os estudos aos 15 anos para trabalhar. Passou a ser conhecido no meio sambista desde bem jovem, e como compositor, fez sucesso na década de 30, tendo canções gravadas por nomes como Carmem Miranda, Silvio Caldas e Francisco Alves. Na década seguinte, foi cantor de rádio. Suas letras costumam falar das dificuldades cotidianas de forma simples. Para o próprio Cartola, não poderia ser diferente. “Gosto de fazer música de dor de cotovelo, de mulher, de amor, de deus, por que é isso que eu acho importante”.

Passou por tempos difíceis a partir de 1947, tendo seu samba criticado dentro da própria Mangueira, escola que ajudou a fundar. Enfrentou uma meningite, e vários outros problemas de saúde. Perdeu sua primeira esposa para ataque cardíaco, e passou a trabalhar em serviços como lavador de carros ou vigia de edifícios. Só conseguiu se reerguer quando conheceu Dona Zica, cozinheira de mão cheia com quem viveria até o fim da vida. Junto com ela voltou para o morro da mangueira, de onde havia saído, e encontrou motivação para voltar ao samba. Com ela abriu o Zicartola, restaurante na zona central do rio que serviu de ponto de encontro entre sambistas.

No mundo

Atualmente, o sucesso de Cartola se estende para várias partes do mundo. Sinônimo de profundidade, inspira resenhas e comentários em vários idiomas da comunidade virtual RateYourMusic. Seus discos homônimos de 1974 e 76 são os mais bem avaliados, e trazem canções como “Alegria”, “As rosas não falam” e “O mundo é um moinho”. Mesmo quem não entende português consegue ser transportado para o lugar cheio de beleza, realidade e melancolia, situado nas cordas firmes do violão e nos desenhos melódicos da voz sexagenária de Cartola.

O usuário Wolfganga, de valência, na Espanha, avaliou o disco com nota máxima, e comentou ainda do estereótipo de música dançante adquirido pelo gênero samba internacionalmente. “No início, falei comigo mesmo: não é para mim, não sei dançar. No final compreendi: mesmo que não sabia dançar, apenas escutar já vale a pena. Walid Rourou, que mora em Túnis, capital da Tunísia, no norte da África, deixou na página do site RateYourMusic as seguintes palavras traduzidas do francês: “Um poeta ourives, canta suas melodias e letras em ouro”.

Sobre o famoso disco de 1976, outro usuário da comunidade, o canadense Joshua, escreveu em inglês: “Cartola é tudo isso graças a sua mão hábil para arranjos, entonação da voz e destreza em transmitir um estado de espírito como poucos”. Sobre a língua das músicas, comentou: “É claro que eu gostaria de entender as palavras, mas minhas tentativas grosseiras de tradução não fazem jus às letras. Mesmo assim, o disco é tudo que esperava e muito mais”. O chinês Stereobread, de Pequim, impressionou-se com a atemporalidade do álbum. “Existo algo de eterno nesse disco. Ele soa ligado ao passado, mas pensa para a frente”, comentou.

Cartola ao lado da esposa, Dona Zica

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