Cotidiano

Bota a cara no sol

Redação DM

Publicado em 5 de outubro de 2015 às 15:30 | Atualizado há 5 meses

Mesmo com sol forte, organizadores esperavam participação de 100 mil pessoas (Fotos: Thalys Alcântara)

Thalys Alcântara

Os leques usados como adereço foram mais que enfeite na tarde de ontem, na 20ª Parada do Orgulho de Gays, Lésbicas, Bisexuais, Travestis e Transexuais, no centro de Goiânia. Para todo lado que se olhava as pessoas se abanavam para tentar amenizar a alta temperatura.

Vendedores ambulantes disputavam espaço com os participantes. Próximo aos carros de som, de onde vinham batidas de música eletrônica, era mais difícil se movimentar. Alguns mais ousados investiram no visual como a assistente jurídica Carlota Joaquina, de 33 anos, que estava de drag queen. “Eu acho que a gente tem o sentido de passar para o público uma diversão, fantasia. Eles pensam que é promiscuidade, mas a gente é alegria”, diz.

“Aqui sou Ana Cristina”, explica o professor de educação física de 62 anos que se travestiu. Ele vive em Goiânia desde a juventude, e diz ver muita diferença entre “ser gay” naquela época e  hoje em dia. “Agora tem bem mais liberdade. Antigamente, se você fosse fazer uma festa, tinha que ser escondido, em chácara, quando os pais viajavam”, conta.

Ele diz que na década de 1970, no setor aeroporto, foi expulso de um restaurante por policiais militares e teve que subir em uma árvore para se esconder: “Eu nem estava vestido de ‘gay’. Só porque eu parecia. Graças a Deus nunca fui preso”.

Divergência

A estudante Bruna Chamelet, 24 anos, faz parte do que chama de bloco combativo. Com baterias e gritos de guerra, o pequeno grupo tem o objetivo de fazer oposição aos atuais organizadores da Parada. “Queremos formar um bloco de esquerda para tentar falar mais alto. Aqui não existe visibilidade lésbica, só gay”, diz.

Atualmente, o evento é organizado pelo grupo Eles Por Eles, que tem relação com a prefeitura de Goiânia. O tema este ano foi “Por um Brasil que criminalize a violência contra LGBTT”. Antes do início da passeata, convidados fizeram falas de cima do principal trio elétrico da Parada.

Avelino Fortuna, pai de Lucas Fortuna, jornalista que fazia parte do movimento LGBT de Goiânia e foi assassinado em 2012, discursou enfatizando a família. “É preciso retirar as famílias do armário”, diz. Ele faz parte do movimento Mães Pela Diversidade, composto por pais militantes pelos direitos LGBTT.

Também aconteceram falas de pessoas ligadas a sindicatos, como do presidente da Central Única dos Trabalhadores de Goiás (CUT-GO), Mauro Rubem. A sindicalista Michele Coutinho tentou puxar gritos de “fora Eduardo cunha” e contra o estatuto da família, mas não houve muita adesão do público.

O vendedor de cosméticos Jhone Rousseff, 22 anos, veio de Brasília, convidado por amigos, para participar da Parada. Sua família o apóia desde que se assumiu. Sobre sua fantasia, de coelho com direito a uma cenoura de pelúcia: “Minha mãe que fez”, responde.

Libertinagem

Com um cartaz escrito “Deus não exclui ninguém. Venha do jeito que você é”, fiéis da igreja cristã Caminho da Inclusão distribuíram mensagens bíblica durante o evento. A igreja existe há cinco anos e faz parte de um movimento internacional que defende que a orientação sexual não é uma escolha e deve ser aceita.

“Geralmente ficamos só no início, na concentração. A Parada tem a intenção de protestar, reivindicar, mas as pessoas vêem muito mais como um carnaval gay, perdeu o sentido”, diz o pastor da Caminho da Inclusão, Fagner Brandão.

A cabeleireira Ávila Moreira, 19 anos, diz acreditar que a libertinagem faz parte do momento. “Acho que a parada gay é a chance de poder, uma vez no ano, se encontrar e fazer o que a gente quer. Mas amanhã continua tudo do mesmo jeito, não vai mudar nada”, diz.

Participantes pediam respeito às diferenças

Ana Cristina explica que hoje existe mais liberdade

Mércia Montanara também aproveitava o leque para amenizar o calor

Igreja inclusiva também marcou presença na parada. Pastor Fagner Brandão, ao centro

Ávila Moreira, Nice Silva, e Julio Oliveira

Carlota Joaquina e Paulinha. Para Carlota evento não é promiscuidade e sim alegria

Brasiliense Jhone Rousseff, conta que é apoiado pela família e que a mãe confeccionou a fantasia dele

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