Opinião

Vida alheia

Redação

Publicado em 20 de julho de 2015 às 23:04 | Atualizado há 10 anos

Você faz suas escolhas. Muda de ideia e as refaz. Escolhe dar outra chance. Você cansa de tudo. Joga tudo pro ar. Você erra. Você acerta. Você ganha. Você conquista. Você fica triste. Você engorda. Você emagrece. Você corta o cabelo. Você entra na academia. Você muda de curso. Você termina um relacionamento. Você começa um relacionamento. Você está sem dinheiro. Você está ganhando bem demais. Você faz uma tatuagem. Você começa uma amizade. Você só posta frases de pensadores. Você não acredita no Google +. Você posta uma frase de insatisfação. Você escreve um texto de amor. Mas a vida é sua e ninguém tem nada com isso… Certo?

Errado! Hoje em dia, todo mundo se vê no direito de tudo, com tudo, com todos, contra tudo, contra todos. Todo mundo tem argumento, quer processar, quer julgar, quer a opção de “não curtir”. Triste fato! Todos são juízes – até alguém optar por ser juiz com algum destes. Aí é palhaçada, aí não pode, aí não tem nada a ver. Mas fazer com os outros pode, né? É o certo, os outros precisam saber!

Fofoca, julgamento, justiça própria. Lembro-me saudosamente de uma frase que era clichê nos tempos de Orkut: “Todos a favor da campanha da vida: você cuida da sua, e eu cuido da minha.” Estranho admitir, mas eram bons esses tempos!

Se a intervenção ou crítica fosse pro bem, fosse pra ajudar, fosse para trazer solução, fosse “no reservado” não faria mal. Seria válida, seria direta, seria real. Mas o que vemos é o contrário. Um boom simultâneo de atualização de status, de tweets, de compartilhamento de fotos desaforadas, de prints no whatsapp, de rodinhas ou grupos pra falar sobre. Fato: você julga e é julgado por tudo o que faz/pensa/posta/veste. Todo mundo critica todo mundo. E é exatamente porque lá no fundo (ou já no raso), ninguém se importa com ninguém. Não se importa com as motivações, não se importa com a raiz de tudo, com as circunstâncias, com os sentimentos.

Cada um escolhe o que escolhe por estar inserido em algum contexto, por estar de cara com alguma questão-problema. Mas é muito mais fácil ver “a escolha final” e especular sobre isso, sem saber os motivos reais. Mais confortável, mais interessante, mais rentável, né?

Verdade: ninguém gasta tempo de qualidade com ninguém. Ninguém quer saber como o outro está, como vai indo, porquê não está indo. O problema desta geração está em pensar que a internet é solução pra tudo. Apesar de ter suas vantagens, em questão de relacionamentos tem sido ela a maior ferramenta usada para tornar públicas e “compartilháveis” as fofocas/status/acontecimentos, distanciando as pessoas, vindo contra o que era promovido e proporcionado pelos encontros casuais, pelas calçadas, pelas salas-de-estar.

Não que o fato de apresentar isso aqui resolva o “problema”. Longe de ser a solução pro mundo. Mas serve pra trazer a discussão à tona. Eu sei, não é novidade… Afinal, nem é difícil perceber esse cenário. Certamente você que lê já o percebeu também… Mas o que me motivou a escrever sobre isso foi me enxergar nos dois lados da moeda: criticar e ser criticada. É até triste pensar que alguns pensarão que estou fazendo isso para soltar indireta pra alguém (mais triste ainda, diante desta observação, é perceber que até o nosso pensamento se torna refém da postura julgadora da sociedade que nos envolve e nos molda).

De fato, não estou aqui pra propor fórmulas. Muito menos para ser só mais uma a apontar o dedo pra sociedade e falar que tem coisa errada nela. Mas trago a discussão pra mim, pra você e pra quem mais tiver acesso a este texto.

Ao mesmo tempo, reforço que está longe de mim o incentivo à uma vida exposta, sem escrúpulos ou de agressão aos outros em nome da “liberdade de expressão”. Antes, venho expor um pensamento antigo, mas digno de espaço e atenção: “Não faça para o outro o que não gostaria que fizessem com você.”

Mais amor, por favor. Amor próprio na hora de se expor e amor ao próximo na hora de coçar pra falar de alguém.

 

(Erica Silva Alves, relações públicas e assessora de Comunicação)

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