Cultura

Um útero é maior que um punho?

Redação DM

Publicado em 11 de julho de 2015 às 02:07 | Atualizado há 10 anos

Walacy Neto,Da editoria DMRevista

O nome Maria Vilani pode não significar muito no contexto nacional. Porém, no Grajaú, bairro periférico da cidade de São Paulo, ela é conhecida (e reconhecida) pelo trabalho em prol da arte e da cultura naquela região. Na verdade, talvez o nome de Maria Vilani tenha sim um significado no contexto nacional, tendo em vista que boa parte do trabalho musical de um dos seus filhos, o rapper Criolo, tem relação direta com a atenção e carinho que a mãe dá para a cultura local.

Na Balada Literária, conheci Maria Vilani pessoalmente. Sabia muito bem de sua trajetória antes do encontro. Sabia que havia concluído o ensino médio no mesmo tempo que o filho Kleber, conhecido como Criolo. Sabia que havia graduado em Filosofia ao lado do filho Clayton. E que agora esta terminando sua especialização junto com sua filha Cleane.

Maria Vilani era uma das convidadas para discutir sobre as mulheres na literatura e contar seus projetos culturais no Grajaú. “A mesa das guerreiras”, como dizia o mediador e organizador do Sarau da Cooperifa, Sérgio Vaz. Era também o lançamento do seu terceiro livro: Varal, com poemas escritos desde a década de 1980, retirados de sua Sucata Literária, um baú onde sempre guardou seus textos tímidos. Do livro, escolho um dos poemas que exprime melhor a força de Vilani:

 

Mulher

Mestra, ensina-me a te compreender melhor.

Amiga, não SE anule para me servir.

Irmã, zele por mim, mas não esqueça de ti.

Namorada, enche-me a vida com tua beleza,

Porém, priorize a tua felicidade.

 

Esposa, acompanha-me os passos,

Mas caminha com teus próprios pés.

Mãe, para mim tu és santa,

Mas para o mundo tu és mulher.

Mulher tu és a chave da vida.

 

Entro em contato com Maria pelas redes sociais, pra colher informações sobre o que ela anda fazendo atualmente no Grajaú. Ela pede um tempo e começa a me encaminhar diversos links, vídeos e reportagens. O Caps (Centro de Arte e Promoção Social) seria o projeto principal que ela carrega. Foi criado em 19 de agosto de 1990, no Grajaú, onde Maria vive com o resto da família. Trata-se de um trabalho com crianças de três a seis anos de idade e suas mães que através do artesanato descobrem uma opção de cultura.

O grupo organiza a Feira de Artesanato do Grajaú que conta com trinta e seis barracas de artesanato, comida típica, literatura de cordel, exposição de livros de escritores independentes, show musical e cênico. Existe também o Mocap (Movimento pela Cidadania Artística da Periferia), que reúne produtores culturais, escritores, músicos e demais atores culturais. O projeto, como fica claro no nome, tenta discutir e movimentar o que é a arte dentro da periferia brasileira.

Maria movimenta o Grajaú com punho fechado. Assim como Darian poetiza, Dayse escreve, Izabella grita. Lembro do título de um livro da poeta Angélica Freitas: Um útero é do tamanho de um punho.

 

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