Opinião

Reflexão: quando a morte é necessária

Redação

Publicado em 26 de junho de 2015 às 23:26 | Atualizado há 10 anos

 

A refletir sobre a morte é uma reflexão sobre a angustiante separação. A dor causada pela morte é insondável, profundamente particular e humanamente inexplicável.

A proposta, no entanto desta reflexão é apresentar a necessidade de se ter a morte não como inimiga, mas uma aliada na vida interior. Aliada com a alma, sentidos, vontades e práticas.

É preciso viver a morte diariamente. É preciso usar a morte a favor de uma vida melhor e na construção da felicidade.

Jesus disse: aquele que perder a sua vida vai encontrá-la.

Paradoxo, morte para vida. Aqui o mestre não está somente apontando para a vida eterna, mas também para a vida em sociedade. Vida terrena. Vida em comum. Perder (morte) para achar o verdadeiro sentido da vida.

Esta geração tem sido estimulada como nunca a abastecer o seu interior, o que aqui me refiro ao ego.

O que importa ou quem importa sou eu. Se eu estou bem, se eu estou satisfeito, se eu conquisto, se eu, eu, eu. Esta é a formação de uma geração egocêntrica, profundamente centrada no eu quero, eu posso, eu faço, eu não me arrependo, eu não me importo, eu não quero saber, eu sou assim.

Esta exacerbação do eu precisa morrer. Um individuo totalmente centrado do seu eu não será capaz, por exemplo, de amar. Ele se ama tanto a ponto de não conseguir dividir o seu próprio amor com outros. O eu centralizado no interior dos corações impede a compaixão, piedade, fraternidade.

Invariavelmente com o domínio do eu a inflexibilidade se estabelece. Se não for como se pensa unilateralmente falando, não serve, não há espaço para o acordo, não há espaço para novas perspectivas fora do eu.

Isto afeta diretamente as relações. Seja a mais simples convivência entre crianças da mais tenra idade, claro que idade onde já se percebe não estar só no mundo, até as relações conjugais, familiares, corporativas, relações sociais.

O eu precisa morrer. E isto não significa uma anulação total dos pensamentos e ações ou mesmo alienação, mas é abrir um espaço para ouvir, discutir, avaliar, refletir e decidir não só por um ponto de vista centrado no egocentrismo.

O egoísmo torna o ser humano insensível. Este fere, mata, destrói física e psicologicamente em nome das vontades egoisticamente próprias.

Outra orientação de Jesus, negar o eu, negar o egocentrismo. Negue-se a si mesmo. Assim outros textos bíblicos orientam a buscar esta postura para o bem comum. Não se preocupar somente com que é seu, mas com o dos outros também. Considere o outro maior e vice-versa. Tal comportamento facilita e melhora as relações.

Fazer morrer o eu é um exercício diário de paciência, determinação, sobriedade e equilíbrio. Ações pautadas na dimensão do amor descentralizado.

Há uma tendência a fazer valer somente o que se quer neste sentido a morte do eu é preciso para se enxergar em um mundo mais amplo onde o “todos” e o “nós” devem ser prestigiados.

O eu me impede de ser totalmente feliz quando me impede de fazer alguém feliz.

 

(Flávio Martins Cardoso, pastor de uma Igreja Batista, formado pelo Stib, seminário batista independente -SP, estudante de Sociologia e História na Unip)

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