“Atenção Creuzebek, ao toque de quatro já vai”
Redação DM
Publicado em 23 de junho de 2015 às 01:48 | Atualizado há 10 anosRariana Pinheiro,Da editoria DMRevista
Era junho de 95 e, com a frase do título desta matéria, Dinho, vocalista do Mamonas Assassinas, preparava o público para uma tsunami de besteirol que estava por vir no álbum autointitulado. Em seguida a pesada guitarra de Bento em 1406, a primeira faixa do disco, prenunciava que, além de muita “zona”, ali havia rock’n’roll dos pesados. Na letra, feita por Dinho e pelo baixista Samuel Reoli – irmão de Sérgio Reoli, baterista da banda –, o vocalista criticava o consumismo e assassinava duplamente inglês e português, no refrão: “money, que é good nós num have. Se nós havasse nós num tava aqui playando. Mas nós precisa de worká”.
Era assim que a maioria das pessoas conhecia o inesquecível álbum, naquela mesma época em que os CDs começaram a substituir as fitas cassetes e vinis. Era assim também que o quinteto, completado pelo tecladista Júlio Rasec – que, segundo Dinho, nunca mais foi o mesmo depois que uma pomba menstruada cagou na sua cabeça –, começava o lendário álbum Mamonas Assassinas, um dos maiores fenômenos fonográficos do País.
O álbum chegava às lojas há exatamente 20 anos, sem muito alarde. Mas, no dia seguinte, quando Vira Vira tocou na 89 FM a Rádio Rock, os Mamonas estouraram de vez. O disco de estreia se transformou no álbum que mais vendeu em um único dia: 25 mil cópias nas primeiras 12 horas após a canção ter sido executada. Chegou a vender 100 mil cópias a cada dois dias.
Logo, não demorou para este trabalho ser o grande responsável por trazer mudanças irreversíveis: transformou aqueles cinco rapazes pobres de Guarulhos, que antes sonhavam em ser a nova Legião Urbana na banda Utopia, em os “ídolos da palhaçada”, da noite para o dia.
E o primeiro e último álbum do grupo parecia não ter contraindicações: agradava a família inteira. De crianças inocentes a adultos engravatados. Com tanto carisma, as estripulias de Dinho, que antes faziam sucesso apenas nos palanques de comícios e shows pequenos em São Paulo, eram disputadas – quase ferozmente – pela produção dos grandes programas de TV dominicais da época.
FEITO ÀS PRESSAS
O dom nato para comédia não os impedia de ser bons músicos. Talvez este era o maior trunfo da banda: eram ótimos humoristas e também músicos competentes. Assim, a criatividade não estava apenas nas letras, mas também na musicalidade.
Dessa forma, apesar da preferência pelo rock’n’roll, a música mexicana era a inspiradora de Pelados em Santos; o vira do folclore português a de Vira Vira; e o pagode e o repente podiam ser apreciados, respectivamente, nas impagáveis Lá Vem o Alemão e Jumento Celestino. O álbum tinha 14 músicas, e com este misto inusitado de influências, quase todas as canções viraram hits – até a declaração de amor às avessas de Uma Arlinda Mulher.
Com tanta originalidade e talento, as pessoas podem imaginar que os Mamonas Assassinas aconteceu de uma jogada de marketing já premoldada para estourar. Mas a grande verdade é que não, mesmo. Assim como os jovens, tudo aconteceu de forma espontânea.
Assim que o empresário Rick Bonadio colocou os ouvidos na gravação despretensiosa pra divertir um churrasco, de Pelados em Santos. Ele mudou tudo. Foi assim que a banda séria de rock trocou de estilo e de nome (Samuel quem sugeriu Mamonas Assassinas do Espaço). Após enviada para poderosas gravadoras, em abril eles já faziam parte da grandiosa EMI.
Foi tudo muito rápido: a maioria das faixas em menos de duas semanas. Bem, o que aconteceu depois foi o sucesso, e foi abraçada por ele que a banda se desfez de forma trágica em 2 de março de 1996.