A parábola da rede
Redação
Publicado em 7 de junho de 2015 às 02:06 | Atualizado há 10 anos
“O Reino dos Céus é ainda semelhante a uma rede lançada ao mar, que apanha toda espécie de peixes. Quando está cheia, os pescadores a retiram e, sentados na praia, escolhem os bons para os cestos, e o que não presta, deitam fora.
Assim será na consumação dos séculos: virão os anjos e separarão os maus dentre os justos, e os lançarão na fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes.
Compreendestes bem todas essas coisas?”
Responderam-lhe: “Sim”.
Então acrescentou Jesus: “Por isso, todo escriba que se tornou discípulo do Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas”.
Quando Jesus acabou de proferir essas parábolas, retirou-se dali. (Evangelho de Mateus, cap. 13, vv. 47 a 53).
A parábola da rede demonstra o processo da evolução espiritual determinando aberturas e fechamentos de ciclos evolutivos por meio dos critérios da Lei Natural de Justiça.
Jesus compara o Reino dos Céus com “uma rede lançada ao mar, que apanha toda espécie de peixes”. A rede representa o processo evolutivo, ou seja, a redenção espiritual, que resgata a individualidade das profundezas do atraso ou do desajuste intelecto-moral do espírito. O mar significa a infinita criação de Deus. A rede lançada ao mar simboliza a ação das leis de Deus para o aperfeiçoamento espiritual. A rede cheia sinaliza o tempo da colheita ou da seleção: os espíritos que atendem aos ditames das leis divinas, naturalmente ascendem para níveis superiores de evolução espiritual, os demais, estacionários do processo evolutivo, deverão passar por novas experiências, não raras vezes dolorosas, até que vivenciem a sabedoria e o amor.
Na segunda parte desse ensino, Jesus interpreta a parábola com uma revelação. Ele demonstra que as nossas vidas são supervisionadas por espíritos puros, denominados anjos, designados para ajudar os espíritos de mediana evolução. São os prepostos do Senhor que misericordiosamente socorrem, orientam e administram conforme os desígnios de Suas leis. Nenhum espírito está desprovido de supervisão espiritual. Quanto mais evoluído é o espírito, maiores serão as suas atribuições e responsabilidades perante os demais. Muitos desses espíritos puros administram grandes coletividades de espíritos, muitos são portadores de primária ou de mediana evolução. Esses espíritos angélicos são responsáveis por formações de mundos corpóreos e incorpóreos, os quais compõem a infinita e eterna Casa do Pai. Também eles são instrumentos das leis de Deus para a consecução de Sua Vontade soberana.
“Na consumação dos séculos”, ou seja, nos fechamentos dos ciclos evolutivos de cada coletividade espiritual, os anjos, isto é, os espíritos superiores responsáveis por essas coletividades, ajudarão na condução de novas etapas evolutivas de cada ser. Os espíritos mais adiantados prosseguirão rumo aos mundos mais evoluídos em intelectualidade e em moralidade. Os espíritos resistentes à evolução intelecto-moral sentirão as dores de permanecerem em seus mundos atrasados ou de serem conduzidos para mundos ainda menos evoluídos, onde a divina providência fará deles agentes impulsionadores do progresso. Esses espíritos estacionários da Evolução sofrem o degredo constrangedor por isso sentem, sofrem e lamentam por estarem em mundos atrasados e também por viverem afastados dos seus entes queridos, os quais habitam mundos superiores aos seus. Por tais razões, Jesus denomina os mundos inferiores em intelectualidade e moralidade “fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes”.
Depois de revelar esses processos de exílio e de ascensão espiritual, o responsável e carinhoso Rabi da Galileia pergunta aos seus discípulos: “Compreendestes bem todas essas coisas?” Eles responderam: “Sim”. Jesus não almejava deixar dúvidas, estava disposto a explicar a respeito dessa temática até que todos os seus discípulos a compreendessem. Isso demonstra a preocupação do Mestre em explicar verdades espirituais que mais tarde seriam devidamente detalhadas à luz do Espiritismo.
Na terceira parte desse ensino, Jesus afirma que todo escriba, ou seja, todos aqueles que possuem atributos intelectuais desenvolvidos também necessitam de atributos morais, sem os quais não poderão ascender à condição de espíritos superiores e perfeitos. Jesus considera os escribas daquela época como os representantes da classe de espíritos que apresentam faculdades intelectuais, mas que ainda necessitam de virtudes morais. Fato que caracteriza inúmeros mundos corpóreos e razão causadora dos exílios dos espíritos imperfeitos que não acompanham o progresso dos mundos onde vivem.
Segundo Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, na denominada “Escala Espírita”, os Espíritos superiores admitem três ordens ou categorias de espíritos com as seguintes características:
I – Primeira ordem – Espíritos puros: superioridade intelectual e moral absoluta em relação aos espíritos das outras ordens. São, às vezes, denominados anjos, arcanjos ou serafins.
II – Segunda ordem – Espíritos bons:
1) Espíritos superiores: superioridade moral e intelectual com altíssimos níveis de moralidade e de intelectualidade;
2) Espíritos prudentes: superioridade moral com alto nível intelectualidade;
3) Espíritos sábios: superioridade intelectual com alto nível moralidade;
4) Espíritos benévolos: superioridade moral com médio nível intelectualidade.
III – Terceira ordem – Espíritos imperfeitos:
1) Espíritos neutros: transitam entre baixos e médios níveis de moralidade e de intelectualidade, são propensos ao bem e o mal;
2) Espíritos pseudo-sábios: qualidades intelectuais medianas com baixos atributos morais;
3) Espíritos levianos: baixos níveis de moralidade e de intelectualidade;
4) Espíritos impuros: baixíssimos níveis de moralidade e de intelectualidade destinados ao mal. Em todas as categorias dessa ordem, há os Espíritos batedores e perturbadores que produzem efeitos de natureza material.
Jesus nos convida a sermos discípulos do Reino dos Céus, ou seja, seguidores da Vontade de Deus, para um dia fazermos parte da grande família de espíritos puros, a qual ele pertence. Para isso, cuidemos do desenvolvimento do senso moral porque a conquista das virtudes morais exige maior esforço do que para se desenvolver os atributos intelectuais. Quando se cultiva virtudes morais vinculadas ao amor, à bondade e à misericórdia, fica mais fácil adquirir os valores intelectuais capazes de compreender as causas e os efeitos dos fenômenos da criação divina. Basta tirarmos do nosso tesouro evolutivo, as experiências novas e antigas para a composição de avançados estágios de progresso espiritual rumo à eterna e venturosa Rede de Deus.
(Emídio Silva Falcão Brasileiro, escritor, conferencista, pesquisador, professor universitário, advogado, doutor em Direito, membro da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás, da Academia Goianiense de Letras e da Academia Aparecidense de Letras. E-mail: [email protected])