Opinião

A bunda no idioma africano – parte III

Redação DM

Publicado em 9 de setembro de 2022 às 13:55 | Atualizado há 3 anos

Confesso que escrevo este texto como fã emocionado, entusiasmado e apaixonado, sabendo que a bunda, na qual estou sentado, descansando meu corpo, por ter origem africana (vide etnia banto, língua kimbundum), virou assunto profanado, prostituído, obsceno, pra não dizer obscenado.

Um lugar esquisito, escondido ali detrás, sempre tratado de modo pejorativo e suspeito, mesmo se visto como nádega, traseiro, assento, sesso e outras denominações, imaginem na versão específica dos falares Afro-Brasileiros, amplamente enriquecidos na obra de Yeda Pessoa de Castro (“Falares Africanos na Bahia”, 2001 e “Camões com Dendê”, 2022).

Como exposto, a matéria, antes de revelá-la em suas ricas derivações, exige que alguém a defenda com todas as forças da imaginação humana, começando pelo exemplo da indignação e o brilho da coragem, visando tirá-la do lugar-comum, deprimente, aviltante, pútrido, onde a mulher, sobretudo de pele negra, é a maior vítima da exploração sexual e outras iniquidades bem visíveis contra os afrodescendentes e sua cultura, realçando a “bunda” como das principais, justificando até se poder dizer que “o que abunda não prejudica”; notando-se que, se não fosse o jocoso substantivo bunda, não teríamos o verbo “bundear”, “abundar”, pensem no advérbio de modo “abundantemente”, aqui começando só um pouco de suas impressionantes derivações, justificando encerrar o que proponho, se é que tudo não estaria começando.

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