A bunda no idioma africano (parte II)
Redação DM
Publicado em 31 de agosto de 2022 às 13:34 | Atualizado há 3 anos
Prossigo falando do tema “bunda”, agora ousando mostrar suas definições em vários dicionários, uns específicos do idioma e falas africanas, sem esquecer pelo menos um pouco das inúmeras palavras, termos ou expressões que se derivam desse substantivo feminino por vezes considerado ordinário, sem importância, jocoso ou até conjunto das nádegas e do ânus, lugarzinho suspeito ali da região glútea onde já foi profanado e tornou-se fortemente delinquente. Tudo por ali gera incertezas, devendo ser por isso que inventaram as casas de luz vermelha, velhos prostíbulos, distintos das casas de família, ora convertidos em motéis de beira de estrada e outras denominações urbanizadas, sempre suscitando dúvidas.
Em Portugal, segundo Houaiss e notável escritora Yeda Pessoa de Castro, dito substantivo é conhecido, mas não é usado. Está registrado como nádegas e alguns derivados no Novo Dicionário da Língua Portuguesa (1836), de Constâncio, como um angolismo, e no Grande Dicionário Português, de frei Domingos Vieira (1871), com a mesma acepção, de onde nascem e se derivam inúmeras outras, mais conhecidas e faladas na “língua portuguesa brasileira”, nascida há cerca de oitocentos anos na Península Ibérica, caçula do latim, sexto idioma mais falado do mundo, conforme o escritor e crítico literário Sérgio Rodrigues, em Viva a Língua Brasileira (2016).
No Aurélio, edição 1999, “bunda” tem também sentido de nádegas, incluindo o tal de ânus, substantivo masculino, aquele orifíozinho ali na extremidade do intestino, pouco importa se grosso ou fino, sinônimo popular “cu” ou chulo “fiofó, que todo mundo tem mas ousa esconder em lugar onde não chove ou penetra luz do sol, mais das vezes sem saber que se trata de vocábulo ou étimo com origem africana, certamente banto, a etnia africana mais acentuada e que mais se propagou Brasil afora, inclusive no âmbito da quilombagem, consoante comprovo (quem alega e não prova, quase nem alega. Alegatio et non probatio, quase non alegatio) em Quilombos do Brasil Central violência e resistência escrava (2008).
No Dicionário da Língua Portuguesa do professor Francisco da Silveira Bueno (1972), a bunda, além de nádegas, é traseiro e assento, já deixando não sei quantos derivados, aqui lembrando só alguns deles, tais como: bundaça, aumento da bunda; bundudo, pessoa dotada de nádegas muito desenvolvidas, o mesmo que calipígio; e bundo, s.m. a língua bunda ou qualquer língua de negros ou modo incorreto de exprimir-se, sempre atribuído ao segmento étnico-negro, de onde o escriba se deriva, orgulhosamente.