Mãe diz como impediu suicídio do filho

“Aconteceu com meu filho“

Relatar a história do filho que superou o suicídio é o mote do livro “Aconteceu Com Meu Filho – Relato de Superação da Automutilação e do Suicídio”, obra escrita pela advogada Liliane Costa e lançada hoje, às 19h30, na Casag, em Goiânia. É um livro sensível que toca num tema verdadeiramente espinhoso: o suicídio entre jovens. E tudo, claro, com uma linguagem que problematiza um tabu da saúde pública.

Seria, sem dúvida, mais fácil guardar o anonimato, como outras pessoas fazem quando passam por situações semelhantes e que são difíceis de lidar, porém Liliane preferiu a contramão das convenções, ao expor uma ferida que jorrou o sangre do desespero de ver um filho quase ceifar a própria vida. Sensível e reflexivo, a obra discorre, com aval e consentimento do primogênito, num estilo de escrita pessoal, sobre um tema atual.

“Estamos vivendo o aumento significativo do número de casos de violência autoprovocada, que foram, inclusive, reconhecidos como problema de saúde pública pelo governo federal através da edição da lei 13.819/19, que regulamenta a política nacional de prevenção da automutilação e do suicídio”, afirma a advogada ao DM, num diálogo com dados alarmantes divulgados pelo Ministério da Saúde – 11.433 mortes por suicídio ocorreram em 2016, o que equivale a 31 casos diários.

A intenção de Liliane é colaborar com o esclarecimento da população, em especial os jovens, alvo de “Aconteceu Com Meu Filho”, mas sem esquecer dos pais, responsáveis, escola, profissionais da saúde e todos aqueles que pensam não existir saída para evitar o autoextermínio: é um texto bem-escrito e certeiro, e que não soa desrespeitoso. Na verdade, o que o leitor vai acompanhar nas páginas da obra são análises que vão direto ao ponto, e discutem aquilo que sempre foi renegado pelos meios de comunicação.

Um erro, portanto, combatido por Liliane com estilo, rigor e precisão, num ato encorajador que não esconde que tem como pedra basilar a necessidade de compartilhar uma situação pela qual famílias são submetidas, muitas vezes em silêncio. Ler “Aconteceu Com Meu Filho” é como se estivéssemos sendo abraço numa noite, talvez dia, de desespero, dúvidas e ansiedade. Tudo guiado pela máxima de que tirar a própria vida não é um mero sinal, e sim um comportamento gritante.

“O intento que eu tenho com meu livro é salvar vidas” – Liliane Costa, advogada

“De quem pensa, planeja e está prestes a executar o plano. A repetição do intento é alarmante e nos deixa sem chão. Não duvide do que está acontecendo, não menospreze ou diminua a gravidade desses atos, intenções e pensamentos. Mantenha a calma e vigilância, e busque ajuda médica especializada”, alerta Liliane. “Falar de forma adequada sobre suicídio é importante porque não se trata de um problema exclusivamente individual e sim social. Numerosos adolescentes não terão a oportunidade de virarem adultos caso não tomemos atitudes assertivas.”

TESE IRREFUTÁVEL

Liliane defende uma tese irrefutável: o alerta da sociedade juntamente com políticas públicas efetivas é o motor que para o preconceito em torno do suicídio seja expulso. “É a única maneira de vencermos este mal”, pontua. Ela revela ainda uma estatística assustadora, a de que no ano passado estimava-se pelo menos 200 mil mortes por suicídio. O motivos mais comuns entre jovens? Bullying, depressão, estar fora dos padrões sociais, não ser aceito nos espaços de convivência… E a lista é grande.

“O que nos deixa assombrados é o aumento no número de mortes numa população tão jovem”, afirma a escritora. Então, prossegue ela, o quantitativo é maior do que é contabilizado no Brasil, já que que o país ocupa a oitava posição de pessoas que tiram a vida no mundo: é uma média de 32 por dia. “O que dizer da saúde mental dos nossos filhos? São diversas causas: dificuldade, frustração, bullying, divórcio dos pais, uso e abuso de álcool e drogas. Sabemos que, se a pessoa for bem orientada, inúmeros casos serão evitados. O intento que eu tenho com meu livro é salvar vidas”, explica. Para a obra, a advogada fez um contraponto entre gerações, Advogada lança livro “Aconteceu Com Meu Filho – relato de superação da automutilação e do Suicídio”, obra em que ela percorre história de filho que quase tirou a própria vida ainda que o tema seja complexo e estigmatizado. “Começo com meu pai dizendo eu sou, geração do meu pai, a minha, a do meu filho. Nele, demonstro todas as modificações que houveram na família, no trabalho e o porquê deste adoecimento”, detalha. No caso do filho de Liliane, foi na escola que ele apresentou os primeiros sinais despontaram. “Estudei diversos autores. Fui atrás de Ana Beatriz Barbosa Silva. Não só vivi a experiência como também pesquisei para compreender o assunto”, declara a estudiosa.

“A família precisa ser uma rede de cuidado para que esse jovem, adolescente, pré-adolescente, se confunde como sendo natural daquela fase (isolamento), pode haver aí uma depressão devera. “Nós estamos perdendo os nossos filhos dentro das nossas casas, trancados nos quartos. Não brigamos com o gigante das drogas. Brigamos com um gigante que é a depressão”, arremata.