Jesus na festa dos tabernáculos
Redação DM
Publicado em 16 de maio de 2016 às 21:51 | Atualizado há 9 anosOra, estando já a festa em meio, subiu Jesus ao Templo e começou a ensinar. Então os judeus admiravam-se dizendo: “Como sabe este as Escrituras, sem ter estudado?”
Jesus lhes respondeu: “O meu ensino não é meu, mas daquele que me enviou. Se alguém quiser fazer a vontade dele, reconhecerá se minha doutrina é de Deus ou se falo por mim mesmo. Quem fala por si mesmo procura a sua própria glória. Mas o que procura a glória de quem o enviou é verdadeiro e nele não há injustiça.
Moisés não vos deu a Lei? No entanto, nenhum de vós pratica a Lei. Por que procurais matar-me?”
O povo respondeu: “Tens demônio. Quem procura matar-te?”
Jesus lhes respondeu: “Uma só obra realizei e todos vós admirais. Moisés vos deu a circuncisão — se bem que ela não venha de Moisés, mas dos patriarcas — e vós a praticais em dia de sábado.
Se um homem pode receber a circuncisão em dia de sábado para que não se transgrida a Lei de Moisés, por que vos indignais contra mim, porque no sábado curei um homem, tornando-o inteiramente são? Não julgueis pela aparência, mas julgai conforme a justiça”. (Evangelho de João, cap. 7, vv. 14 a 24).
Em Jerusalém, durante a Festa dos Tabernáculos, Jesus ministra o seus ensinamentos no Templo, demonstrando profundo conhecimento das escrituras.
Alguns judeus, ao questionarem a autoridade de Jesus para a pregação, se utilizaram do argumento de que ele não havia se iniciado nos estudos sacerdotais e efetivado os estudos rabínicos. Segundo essa concepção, somente um sacerdote ou um rabino poderia ter as devidas condições para falar no Templo a respeito das escrituras com tamanha autoridade. Por outro lado, havia os judeus simpatizantes dos ensinos do Cristo, os quais consideravam o Messias grande detentor de conhecimentos porquanto ele revelava saber pormenores das escrituras que somente os eruditos conheciam. Mais uma vez, a inteligência superior do Mestre lembrava o prodigioso menino Jesus diante dos doutores do Templo quando tinha apenas doze anos (Lucas, 2:42-52).
Ao conhecer a malícia dos que o censuravam, Jesus asseverou que os seus argumentos fundamentados nas escrituras não eram exclusivamente seus e sim ensinos do Pai Celestial, fonte de toda a Sabedoria. Por isso, o Mestre não falava por si e não procurava a sua glória. Ao revelar a vontade de Deus, Jesus enaltecia os atributos do Pai em Seu incomensurável Amor e Sua perfeita Justiça.
Os verdadeiros representantes da sabedoria de Deus não buscam evidência e não cultuam o personalismo. Esses emissários do Pai resguardam-se na fé, na humildade, na disciplina perseverante, na paciência comovente, na oração constante, no trabalho da caridade e na simplicidade do preceder.
No Templo de Jerusalém, durante a Festa dos Tabernáculos, o Mestre estabeleceu um fundamento para a organização do Espiritismo, “O Consolador Prometido”. Allan Kardec sempre se colocou na posição de organizador ou de codificador e não de criador do Espiritismo. Ele enfatizou que a Doutrina Espírita é fundamentada nos ensinos de Jesus, compondo um sistema filosófico, científico e religioso, não sendo obra de um homem, mas de uma plêiade de espíritos puros e superiores, sob a égide do Cristo. Se o Espiritismo fosse obra de um único cientista, filósofo ou religioso, já teria a sua fragilidade em seu nascedouro. Nesse sentido, os ensinos dos espíritos são irretocáveis enquanto que alguns comentários de Kardec são opiniões pessoais do codificador, as quais podem e devem ser observadas e aperfeiçoadas para estarem em perfeita sintonia com a Doutrina dos Espíritos e demais ciências. Afinal, Kardec nunca considerou que as suas ideias são as últimas palavras das questões estudadas. Neste trabalho, já verificamos que o codificador tinha um senso científico rigoroso condizente com os seus estudos e reflexões, alguns dos quais incompatíveis com as pesquisas e estudos atuais. Ele mesmo considerou que deveríamos ficar com a Ciência se houvesse algum ponto discordante com a Doutrina ou com os seus estudos. O Espiritismo é uma Doutrina de natureza evolutiva porquanto a visão da Verdade também se expande à medida que o indivíduo evolui intelectual e moralmente.
Também o divino Messias sempre enfatizou que não veio fazer a sua vontade e sim a vontade soberana de Deus (João 6:38). Com a sua autoridade divina, Jesus censurou aqueles que desejavam matá-lo. Esses indivíduos eram os mesmos que não respeitavam as leis de Deus reveladas por intermédio de Moisés. O espírito mais evoluído que veio a Terra foi constantemente ameaçado de morte, sendo perseguido desde o seu nascimento. No entanto, Jesus sabia se preservar para que o momento do seu martírio não ocorresse antes da conclusão do seu ministério.
Uma das acusações formalizadas contra o Mestre era devido às suas curas operadas em dia de sábado, procedimentos que os adversários julgavam contrários às leis mosaicas. Entretanto, o Rabi compara a cura de um homem com a circuncisão, a qual poderia ocorrer em dia de sábado e era menos importante do que a cura de um enfermo. Sabe-se, porém, que esse era apenas mais um pretexto para acusá-lo porquanto os adversários do Cristo não encontravam argumentos ou censuras contra os seus ensinamentos, os seus poderes espirituais e a sua conduta moral.
Nesse contexto, Jesus aproveita para dar mais uma lição a respeito dos julgamentos superficiais: “Não julgueis pela aparência, mas julgai conforme a justiça”. Segundo o Cristo, era injusto não poder curar um enfermo em dia de sábado. Afinal, o repouso sabático não tinha como objetivo exclusivo a devoção ao Senhor, mas também o repouso necessário e terapêutico.
Julgar pela aparência sempre é um engano, é um sinal de imaturidade espiritual. As nossas escolhas são os nossos julgamentos. Escolhemos mal quando nos deixamos iludir pelas aparências e exigências descabidas da vida material. Não raras vezes, as derrocadas morais são originadas da ambição, dos fascínios pelo poder temporal e devido às ilusões provenientes do hedonismo, da beleza aparente, da estética corporal e da bela retórica sem ações eficazes promotoras da caridade. Embora o mundo das aparências não deva ser menosprezado, torna-se necessário considerar que o mundo material deve estar a serviço do mundo da justiça ou da moral. No Templo de Jerusalém, Jesus censura a inversão dos valores. No Templo da Consciência, Deus nos convida diariamente à reflexão e a prece, meios eficazes para percebemos que somos canais do Seu Amor para o constante trabalho da Redenção conforme nos exemplificou Jesus.
(Emídio Silva Falcão Brasileiro, doutor em Direito, membro da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás)