Sabotage, o maestro do Canão
Redação DM
Publicado em 25 de janeiro de 2016 às 20:56 | Atualizado há 5 meses
Um morador da periferia da zona sul de São Paulo, que foi correria, fazendo seus ganhos na contramão, Sabotage foi assaltante e até traficante. Apesar de sua vida de crimes ele conseguia com a música trazer uma visão muito lúcida da realidade em que vivia. Quem gosta de rap conhece as composições desse saudoso malandro, Mauro dos Santos, ou Sabotage.
Sabotage deu o seguinte depoimento a MTV, falando sobre sua vida ligada ao crime “Moro na favela desde os 29 anos e, dos 8 aos 19, andei no crime que nem louco. Saí por causa de Deus por que polícia não intimidava, tapa na orelha só deixa a criança mais nervosa”.
Esta semana faz 13 anos que ele foi morto com quatro tiros dados pelas costas. Apesar de ter conseguido a alcunha de Sabotage por sua imensa malandragem, que garantia que ele subvertesse, se metesse em confusão saindo sempre ileso, uma hora a sorte falha. A de Sabotage falhou nos seus 29 anos, no auge de sua carreira.
A pessoa condenada pela morte, no ano de 2010, sete nos após o crime foi Sirlei Menezes. Na época ele negou ter cometido o crime, mas foi considerado culpado devido a uma testemunha sigilosa. Ele foi condenado a 14 anos de prisão.
A vida imitando a arte
Sabotage fez até umas pontas de ator no cinema nacional. O famoso filme “Carandiru” de Hector Babenco, contou com sua participação no papel de um presidiário chamado Fuinha. Infelizmente ele foi morto antes de assistir ao filme.
Ator e Maestro
O reconhecimento de seu trabalho pelo grande público veio por meio de sua participação no filme “O Invasor” do diretor Beto Brant, no ano de 2002. Sua fama durou pouco em vida, mas perpetua mesmo após sua morte. No filme ele interpreta a si mesmo e por uma trágica coincidência é assassinado na trama.
O Canão parte de sua vida e de seu som é a favela paulista onde ele cresceu na zona sul de São Paulo. Como este lugar é o início de sua história e inspiração para suas letras o documentário que narra sua história ficou com o nome “Sabotage: Maestro do Canão”.
O filme foi produzido no ano passado e conta com depoimentos de diretores como Hector e Beto, do ator e cantor Paulo Miklos, do ator Aílton Graça e do rapper paulista Thaíde. O documentário foi produzido por Ivan Ferreira, ou Ivan 13P.
Ivan 13P ao falar sobre qual a motivação para escolher contar a história de Sabotage disse em entrevista “Porque ele foi um cara totalmente diferenciado. Eu gravei ele vivo em 2002, pro documentário “Favela no ar” e sentia que eu tinha uma missão. O fato de eu ter aquele material tão rico me dizia “você tem que fazer alguma coisa”, isso não pode ficar no armário. Depois que ele foi assassinado resolvi fazer um filme só sobre ele”.
Pouco registro, muita história
Musicalmente ele deixou apenas um disco de estúdio, mas que foi suficiente para consagrá-lo como um dos rappers mais respeitados do Brasil. Junto com o grupo RZO (Realidade Zona Oeste) chegou a fama.
Seu disco de estreia foi “Rap é Compromisso” lançado em 2001. O disco conta com a participação de alguns grandes nomes do rap como Negra Li, Black Alien e Rappin’ Hood e a família RZO.
Ele estava gravando seu segundo disco na época que foi assassinado. Na homepage dos produtores do CD, foi feita uma espécie de lápide virtual com o epitáfio “nêgo não para no tempo, sente tormento, a dor que é forte se sente lá dentro”, trecho de “Cabeça de Nêgo”, uma das músicas do rapper.