Brasil

Folia de Reis: fé e cultura popular

Redação DM

Publicado em 10 de janeiro de 2016 às 00:04 | Atualizado há 10 anos

As comemorações do dia 06 de janeiro, O “Dia de Reis”, têm duplo significado na história: Além de ser uma festa Cristã é também uma tradição folclórica. Assim, as celebrações na Igreja católica centram-se na Epifania do Senhor, cuja liturgia celebra a manifestação de Jesus a todos os homens. A Epifania do Senhor é uma festa religiosa cristã  celebrada dois domingos após o natal. Jesus é revelado como a “luz” que se acende na noite do mundo e atrai a si todos os povos da terra, cumprindo o projeto libertador que o Pai nos queria oferecer. Essa “luz” incarnou na nossa história, iluminou os caminhos dos homens, conduziu-os ao encontro da salvação.

Esta celebração está relacionada ao “Dia de Reis”, pois lembra o dia em que o Menino Jesus foi visitado pelos Reis Magos do oriente. Eles foram ao encontro de Jesus como representantes de todos os povos. Atentos aos sinais da chegada do Messias, procuram-no com esperança até O encontrar, reconhecem n’Ele a salvação de Deus e aceitam-no como “O Senhor”. Dessa forma, os Reis Magos entram na história para deixar à humanidade a tradição do “Dia de Reis”, que se tornou uma celebração, também folclórica, tendo em vista os costumes que herdamos de nossos antepassados.   Segundo a tradição cristã, o dia 06 de janeiro seria o dia em que Jesus Cristo recém-nascido recebera a visita dos magos (Mateus 2:1,2) “E, tendo nascido Jesus em Belém de Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do oriente a Jerusalém, dizendo: Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? porque vimos a sua estrela no oriente, e viemos a adorá-lo”. Foram eles que mostraram ao mundo o cumprimento da profecia de séculos, chegando ao palácio do rei Herodes, de surpresa e perguntando pelo Messias, o recém-nascido rei dos judeus. Nesta época aquele tirano reprimia a população pelo medo, com ira sanguinária. Mas os Reis Magos não o temeram, prosseguiram sua busca e encontraram o Menino Jesus. Os Três Reis Magos representavam as raças humanas. Cada um deu um presente com significado especial, exprimindo o carinho dos reis de todo o mundo: Melquior entregou-Lhe ouro em reconhecimento da realeza e prosperidade; Gaspar deu incenso em reconhecimento da divindade; Baltazar deu mirra em reconhecimento da humanidade. Graças aos Reis Magos, Melquior, Baltazar e Gaspar é que existe a tradição cristã de trocar presentes no Natal, pois foram eles que levaram os presentes ao Menino Jesus, seguindo a Estrela de Belém. No dia 6 de janeiro encerram-se, para os católicos, os festejos natalinos sendo o dia em que são desarmados os presépios e, por conseguinte, são retirados todos os enfeites natalícios.

No Brasil os festejos de Reis iniciaram-se na inspiração Portuguesa, que culturalmente nos emprestou esta tradição de comemorar com doces e comidas típicas das regiões, com músicas e danças referentes ao evento, as conhecidas festas da “Folia de Reis”. É uma festa religiosa católica, que chegou ao Brasil no século XVIII. Em Portugal, em meados do século XVII tinha a principal finalidade de divertir o povo, enquanto aqui no Brasil passou a ter um caráter mais religioso do que de diversão.

No período de 24 de dezembro, véspera de Natal ao dia 6 de janeiro, “Dia de Reis”, grupos de cantadores e instrumentistas percorrem a cidade entoando versos relativos à visita dos Reis Magos ao Menino Jesus. Passam de porta em porta em busca de oferendas, que podem variar de um prato de comida a uma simples xícara de café. A Folia de Reis é manifestação de rara beleza. Os preciosos versos são preservados de geração em geração por tradição oral. Essa festa é tão grandiosa que motiva as pessoas dos mais variados grupos sociais a prestigiarem o dia de “Santos Reis”. Em Goiás, por exemplo, as folias de reis estão espalhadas pelas cidades do interior, nas zonas rurais e urbanas.  Ali, as pessoas destinam vários dias para a celebração, por meio da música, da dança, das comidas típicas, da fé, da amizade, de confraternização. Muitas pessoas aproveitam o dia de Reis para fazer rituais e simpatias para atrair boas energias, sorte, prosperidade e amor para todo o ano. Paralelamente há pessoas que preservam os costumes que passam de geração a geração por meio da cultura oral, que caracterizam os costumes, para que eles nunca pereçam. São os artistas da literatura, das artes plásticas, do som e da voz. Nas manifestações desses artistas é retratada a alegria do povo nas festas populares que emanam cores e versos e se realiza como arte folclórica. Nelas se inserem os tons vibrantes das folias, pronunciados e desenhados, com personagens simples, calejadas, acostumadas a seguir o ritual que se traduz em fé pelo nascimento de Jesus Cristo. Toda a encenação dos rituais das folias são reveladores da viagem feita pelos três Reis Magos, Baltazar, Belchior e Gaspar à Belém para encontrar o filho de Deus.

Essa é a riqueza de nossa cultura, que abarca religião e costume popular, mas que tem o fulcro de disseminar a fé, a crença em um só Deus, espelhados no amor que os magos tiveram por Jesus. Esse é o significado real das comemorações do dia de “Santos Reis”. Particularmente tenho muito apreço por essa celebração, pois tenho raízes dentro da cultura da Folia de Reis e acompanho, desde criança, os eventos que me comovem e me enchem de fé nas orações cantadas pelos foliões. Músicas  que sensibilizam todas as pessoas, desde os anciãos aos jovens e crianças.

Que a fé nos “Santos Reis” nos conduza a viver o ano de 2016 cheios de saúde, farturas e bênçãos.

 

(Célia Valadão, cantora, bacharel em Direito e vereadora)

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