Opinião

Por um projeto de cidade

Diário da Manhã

Publicado em 7 de janeiro de 2016 às 21:45 | Atualizado há 9 anos

Essas eleições serão fundamentais para a esquerda, para os movimentos sociais e para todos os bons e sérios reformadores sociais. Não será mais uma eleição onde o confuso par binário direita/esquerda irá se esganar no voto a voto, a preferência de um eleitorado cada vez mais descrente, apático e empobrecido. Estas eleições serão um rito de passagem para as novas configurações políticas que irão determinar o Brasil político, portanto, o Brasil da economia para os próximos anos.

Descuidar dessa perspectiva é lançar o próprio futuro aos “dados da sorte” de grandes grupos econômicos, das transnacionais e do financismo/rentismo que suga cada moeda produzida pelo trabalho de milhões de brasileiros espraiados nessa terra tropical para os cofres de ricos e poderosos do mundo afora.

E o que fazer, nos perguntará o líder da principal revolução já empreendida pelo gênero humano, Vladimir Lênin? Certamente uma das respostas está exatamente na arte de perguntar; de realizar boas questões; de indagar correta e coerentemente o vivido, o que está posto, material e historicamente posto.

Boa pergunta é: nós, a esquerda política, temos um projeto social, justo e democrático para nossa cidade? Se temos, como ele foi feito? Ouvimos as pessoas? Os trabalhadores? Saberemos o que fazer com a saúde pública, inteiramente arrasada por uma precariedade já estrutural? Sabotada por grandes planos de saúde e que carecem de novos filiados em todo o tempo?

E a educação? O que é a educação pública em tempos de fragmentação social, de apropriação das cidades por corporações e imobiliárias e de devastação ambiental? O que é ou pelo menos, deveria ser essa nova educação?

O que pensamos sobre o poder? Será um poder tal qual o velho e predominante modelo e que vem sendo exercido? Centralizado, burocratizado e a serviço dos grandes “investidores”, das grandes empresas e dos grandes negócios? O poder será público, democratizado, socializado? Se sim…

Como faremos isso? Por meio de conselhos? Audiências públicas? Congressos da cidade?

Como as mulheres serão parte nesse novo conceito de poder? E minorias como deficientes físicos e mentais, homossexuais e segmentos etnográficos como ciganos, nordestinos ou negros? Serão parte nessa nova forma de exercício de poder?

São muitas as dúvidas e muitas as questões. Para esse momento modestamente, sugiro encontros, estudos, análises, reflexões e entendimentos a partir de princípios como democracia, justiça, participação, autogestão e sustentabilidade. São categorias-chave e que, em verdade, são horizontes a serem buscados com força, teimosia e inteligência.

É tempo de ser esquerda; de assumir esse horizonte e caminhar rumo a efetivação, no dizer de Dom Pedro Casaldáliga, da terra-sem-males.

É que a direita está aí, sedenta por mais poder, por mais capital e por seguir enquadrando a cada um de nós nessa perversa, e nociva forma de

viver onde a mercadoria é o centro da existência; a vida livre e original, cada vez mais rara, avança desaparecendo e; os sonhos individuais e coletivos foram apropriados por uma dramática e imbecilizante forma de pertencimento às formas produtivas do capital que dizem e determinam o que somos ou devemos ser.

Levaram nosso “eu”! A luta pelo poder institucional só faz sentido se o poder for redefinido pelo veio do poder popular onde este mesmo popular o realize, o conduza e o transforme. Não há outra forma possível.

 

(Ângelo Cavalcante – economista, cientista político, doutorando em Geografia Humana (USP) e professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), campus Itumbiara)

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